(The Shallows, EUA, 2016) Direção: Jaume
Collet-Serra. Com Blake Lively, Óscar Jaenada, Angelo Jose, Lozano
Corzo, Brett Cullen, Sedona Legge.
Por João Paulo Barreto
Curioso como 41 anos depois de Tubarão, o clássico de Steven Spielberg que ganhou várias
continuações e cópias fajutas com o passar das décadas, ter lançado o medo em
banhistas de todo o mundo (incluindo este que vos escreve), a ideia de uma
criatura marinha a atacar pessoas em praias ainda consiga atrair atenção.
Desde paródias absurdas como a franquia Sharknado, passando por divertidas aberrações como Do Fundo do Mar, o tema tubarões
assassinos parece não se esgotar. Dessa vez, o resultado consegue convencer em
termos de suspense e apreensão causados no espectador que encontra em Águas Rasas 90 minutos de tensão, uma
protagonista feminina que se impõe muito bem diante das adversidades, um
cenário paradisíaco impressionante e um final catártico que, apesar de um tanto
absurdo em sua engenharia, consegue fechar bem a história.
Ilhada junto com Fernão Capelo |
No filme, a jovem surfista Nancy (Blake Lively) visita a
praia onde sua mãe esteve quando ainda a carregava na barriga, um local
paradisíaco localizado na costa mexicana. De modo eficiente e econômico, o
roteiro de Anthony Jaswinski insere na narrativa a história prévia da
protagonista através de conversas via Skype que ela tem com sua irmã e com seu
pai. Sem a necessidade de flashbacks que interrompam a fluidez e a energia da trama,
conhecemos, através de imagens das conversas, sua trajetória de ex-estudante de
medicina que, desencantada, resolve largar o curso e vir encontrar o lugar
preferido de sua mãe, morta recentemente vitima de câncer. No lugar, acaba
sendo encurralada por um grande tubarão branco e fica presa em um recife à
mercê do animal.
O filme ilustra de modo bem prático a história prévia da
protagonista, sem a necessidade de retirar o
espectador daquela atmosfera
sufocante. Ao optar por um meio dinâmico de inserir na tela as conversas via
telefone que ela tem com o pai e irmã, ambos a milhas de distância, no Texas, o
diretor espanhol Jaume Collet-Serra, que já tinha experiência em direção de
filmes de terror, acerta por não quebrar a narrativa deslocando o foco para
outro cenário ou locação, mantendo o público no mesmo lugar onde Nancy, em
breve, se verá presa.
Momento de terror: Nancy testemunha os estragos do tubarão |
Trata-se de um filme que brinca de modo pertinente com os
artifícios plantados por Spielberg em seu clássico, como quando, em uma clara
brincadeira/homenagem, simula a visão do peixe ao inserir a câmera em primeira
pessoa. Aqui, uma pequena surpresa alivia o terror do público mantendo-o em suspensão
para os momentos de catarse que se aproximam. Apesar de certos pontos nos quais
a percepção do CGI acaba por quebrar um pouco essa ambientação, trata-se de uma
obra que, pelo modo enérgico e conciso que trabalha sua história simples em
breves 85 minutos de duração, encontra boas saídas para tornar eficiente a
narrativa.
Um dos seus méritos está na concentração da trama em uma
única linha temporal . A ligação da mesma com qualquer traço junto a seu passado
traumático fica para trás a partir do momento em que ela entra na água com sua
prancha de surf. Ao nos colocar junto a protagonista naquele ambiente, a sensação
de apreensão se torna ainda maior. Neste aspecto, o uso da câmera Go Pro como elemento de soma ao peso
dramático da trama funciona desde seu epílogo, quando imagens do ataque são apresentadas
na pequena tela, até o momento em que a
vemos utilizar o equipamento como meio de se despedir.
Momentos de terror: ataque do grande tubarão branco |
Apesar de seu final exageradamente engenhoso e um tanto
absurdo, Águas Rasas leva adiante a
premissa do medo gerado pelos tubarões. Ainda continuarei um tanto apreensivo
quando não conseguir ver o fundo ao entrar no mar.
Mas pensar nas risadas que Sharknado 4 me reserva alivia um pouco a tensão.
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