terça-feira, 23 de agosto de 2016

Águas Rasas

(The Shallows, EUA, 2016) Direção: Jaume Collet-Serra. Com Blake Lively, Óscar Jaenada, Angelo Jose, Lozano Corzo, Brett Cullen, Sedona Legge.


Por João Paulo Barreto

Curioso como 41 anos depois de Tubarão, o clássico de Steven Spielberg que ganhou várias continuações e cópias fajutas com o passar das décadas, ter lançado o medo em banhistas de todo o mundo (incluindo este que vos escreve), a ideia de uma criatura marinha a atacar pessoas em praias ainda consiga atrair atenção.

Desde paródias absurdas como a franquia Sharknado, passando por divertidas aberrações como Do Fundo do Mar, o tema tubarões assassinos parece não se esgotar. Dessa vez, o resultado consegue convencer em termos de suspense e apreensão causados no espectador que encontra em Águas Rasas 90 minutos de tensão, uma protagonista feminina que se impõe muito bem diante das adversidades, um cenário paradisíaco impressionante e um final catártico que, apesar de um tanto absurdo em sua engenharia, consegue fechar bem a história.

Ilhada junto com Fernão Capelo
No filme, a jovem surfista Nancy (Blake Lively) visita a praia onde sua mãe esteve quando ainda a carregava na barriga, um local paradisíaco localizado na costa mexicana. De modo eficiente e econômico, o roteiro de Anthony Jaswinski insere na narrativa a história prévia da protagonista através de conversas via Skype que ela tem com sua irmã e com seu pai. Sem a necessidade de flashbacks que interrompam a fluidez e a energia da trama, conhecemos, através de imagens das conversas, sua trajetória de ex-estudante de medicina que, desencantada, resolve largar o curso e vir encontrar o lugar preferido de sua mãe, morta recentemente vitima de câncer. No lugar, acaba sendo encurralada por um grande tubarão branco e fica presa em um recife à mercê do animal.

O filme ilustra de modo bem prático a história prévia da protagonista, sem a necessidade de retirar o 
espectador daquela atmosfera sufocante. Ao optar por um meio dinâmico de inserir na tela as conversas via telefone que ela tem com o pai e irmã, ambos a milhas de distância, no Texas, o diretor espanhol Jaume Collet-Serra, que já tinha experiência em direção de filmes de terror, acerta por não quebrar a narrativa deslocando o foco para outro cenário ou locação, mantendo o público no mesmo lugar onde Nancy, em breve, se verá presa.

Momento de terror: Nancy testemunha os estragos do tubarão
Trata-se de um filme que brinca de modo pertinente com os artifícios plantados por Spielberg em seu clássico, como quando, em uma clara brincadeira/homenagem, simula a visão do peixe ao inserir a câmera em primeira pessoa. Aqui, uma pequena surpresa alivia o terror do público mantendo-o em suspensão para os momentos de catarse que se aproximam. Apesar de certos pontos nos quais a percepção do CGI acaba por quebrar um pouco essa ambientação, trata-se de uma obra que, pelo modo enérgico e conciso que trabalha sua história simples em breves 85 minutos de duração, encontra boas saídas para tornar eficiente a narrativa.

Um dos seus méritos está na concentração da trama em uma única linha temporal . A ligação da mesma com qualquer traço junto a seu passado traumático fica para trás a partir do momento em que ela entra na água com sua prancha de surf. Ao nos colocar junto a protagonista naquele ambiente, a sensação de apreensão se torna ainda maior. Neste aspecto, o uso da câmera Go Pro como elemento de soma ao peso dramático da trama funciona desde seu epílogo, quando imagens do ataque são apresentadas na pequena tela, até  o momento em que a vemos utilizar o equipamento como meio de se despedir.

Momentos de terror: ataque do grande tubarão branco
Apesar de seu final exageradamente engenhoso e um tanto absurdo, Águas Rasas leva adiante a premissa do medo gerado pelos tubarões. Ainda continuarei um tanto apreensivo quando não conseguir ver o fundo ao entrar no mar.

Mas pensar nas risadas que Sharknado 4 me reserva alivia um pouco a tensão. 

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