Fotos: Divulgação |
Em Um Amor à Altura, Virginie
Efira vive Diane, alguém cuja revisão dos próprios conceitos a faz perceber-se
apaixonada por um homem cuja estatura é quase a metade da sua (exagero um pouquinho). Trata-se de uma
comédia de apelo popular que conta com o carisma de Jean Dujardin como grande
diferencial. Além, claro, da química entre os dois protagonistas, cujos
diálogos representam a melhor coisa de um roteiro um tanto bobo, mas que gera
boas risadas no público.
Em visita ao Brasil para divulgar o longa, a bela atriz
belga conversou com o Película Virtual acerca desse projeto, além da
experiência de trabalhar com Paul Verhoeven e do seu começo de carreira como
apresentadora de programa de auditório.
Confira o papo!
Um Homem à Altura é um filme que traz no seu tema muito sobre essa
suposta importância da aparência física e aceitação social. Qual o peso da
aparência na sua visão?
É algo visto como muito importante, sobretudo na sociedade
de hoje. Mas se liberar de todas essas imposições é uma responsabilidade
pessoal de cada um. E o filme também fala disso. Como se libertar desse olhar
de terceiros. O personagem do Jean fez todo um trabalho pessoal para aceitar
aquilo que ele é e como ele é. Minha personagem ainda está dentro de uma série de convenções, de estereótipos.
Trata-se de um longa
que utiliza muito do aspecto visual para fazer rir. Como foram feitos os
efeitos digitais?
Houve uma série de efeitos especiais. Na maioria das vezes, Laurent
(Tirard, o diretor) buscou recorrer a
meios mais artesanais, para que nós pudéssemos atuar naturalmente. Às vezes, Jean
ficava de joelhos. Ou ele tinha uma espécie de banquinho com rodinhas para se
deslocar. Às vezes, eu subia em um estrado e ele tinha dublê também. Mas quando
foi feita essa redução digital e estávamos contracenando, eu tinha que olhar
para baixo e ele para cima.
Lembrou- me um pouco
os efeitos que o Michel Gondry usou em Brilho
Eterno de uma Mente sem Lembranças. No entanto, lá ele usou o cenário para
compor os elementos em cena.
Não chegamos a usar o cenário nessa construção, mas houve
algumas escolhas propositais, como a do cachorro gigantesco (risos).
A atriz em cena de Um Amor à Altura |
E como foi o clima de
gravações com Jean Dujardin? Ele é bem conhecido por sua personalidade brincalhona
e extrovertida?
Sim, o ambiente foi realmente muito bom. Tivemos um ótimo
entendimento. Mas o que acontece é que os efeitos especiais tiravam um pouco do
nosso contato. Por exemplo, em uma cena de dança, o que acaba cortando um pouco.
Ficamos restritos em nossas atuações. Em outros momentos, como na cena do
restaurante, podíamos improvisar e tentar outros meios de atuação.
Você poderia falar um
pouco sobre seu trabalho em Elle, novo
filme do Paul Verhoeven?
Foi um papel pequeno, mas acho que cada papel conta uma
coisa forte e especial. No seu conjunto, o filme consegue encontrar um elo
entre a farsa e a sátira social. Conta uma coisa meio louca: como é que em uma
situação que se é uma vitima e se consegue recuperar o controle.
E o trabalho com o
diretor?
Paul é um exemplo de que as pessoas muito curiosas não
envelhecem (risos). Eu acompanho o trabalho dele faz muito tempo. Eu acho muito
legal que ele faça coisas que não se podem ser feitas no cinema americano. Inicialmente,
ele queria filmar nos Estados Unidos, mas ao decidir filmar na França, isso deu
muito mais liberdade na criação do trabalho. As atrizes, inclusive, começaram a
dizer que não entendiam porque que uma personagem que havia sido violentada não
tentava se vingar. Como se não fosse mais possível trilhar caminhos diferentes.
Essa liberdade da história foi possível por isso.
Em relação a Um Amor à Altura, os personagens se
conhecem de modo virtual, através de um telefone celular perdido. Como atriz,
como você enxerga essa exposição tão corriqueira na internet atualmente? Você costuma se expor muito?
Em relação as redes sociais, eu posso dizer que tenho 140
anos de idade (risos). Não tenho Facebook, nem Twitter. As pessoas dizem que eu
deveria ter, mas eu tenho dificuldades com isso. É preciso tempo para refletir
e esse imediatismo de reação no mundo virtual, essa necessidade de se
fotografar uma coisa para que ela possa existir, é algo que me incomoda. Sair
da vida real para a virtual é algo que eu não entendo muito bem.
Qual sua opinião em relação
à representatividade feminina na indústria do cinema?
Na França, uma coisa boa é que existe um sistema econômico
que permite que filmes com narrativas mais tradicionais, como Um Amor à Altura, mas que também
possibilita filmes diferentes, que questionam a sociedade. Por exemplo,
passando desse principio de que a mulher pode ter uma representatividade no
cinema apenas se ela for jovem, se ela for sexy, na França, as mulheres não
estão encerradas dentro desse sistema. Há
outras possibilidades, sabe? Mesmo os
filmes que não possuem esse apelo, que não possuem uma divulgação grandiosa ou
que possivelmente não vão ter um retorno exorbitante nas bilheterias, esses
trabalhos também são financiados. Ainda existe, claro, diferenças em termos de
salário, mas não como nos Estados Unidos.
A atriz em cena de Victoria, filme exibido em Cannes ano passado |
O que atraiu ao ler o
roteiro para aceitar o papel.
(pensativa) O fato de que a personagem feminina não fosse
exclusivamente uma acompanhante do protagonista, que ela também tivesse um
destaque na trama. Ela tinha realmente algo para interpretar. E, claro, a
vontade de trabalhar com Dujardin. E o Laurent é um dos poucos diretores
franceses que são mais cuidadosos com a imagem, com a elaboração dos seus
filmes.
Você citou esse processo
de produção na França, onde, assim como no Brasil, tem nas comédias populares
um grande filão para atrair o publico. As pessoas parecem só ir ao cinema para
ver comédias populares. Na França, é um pouco assim, uma vez que os números
confirmam um pouco disso. O que você acha dessa predominância?
O cinema, claro, é também uma experiência. O fato de irmos
ao cinema, de estarmos em uma sala escura, de compartilhar com os outros, sendo
algo que reúne as pessoas. E eu penso que a comédia é um gênero importante, mas
que é preciso que exista certa exigência intelectual, filosófica e estética na
comédia. O filme Victoria (outro trabalho
da atriz lançado em 2016) , que foi apresentado em Cannes, eu acho que corresponde
um pouco a esse parâmetro. É uma obra com orçamento menor, o que mais dá liberdade.
É uma comedia que faz pensar um pouco em Blake Edwards. Há grandes comedias
nesse sentido, como as de Billy Wilder, por exemplo.
Você sente que há um
preconceito entre os realizadores para com comedias populares?
São coisas diferentes no cinema e na criação dos filmes. Há
aqueles que fazem os filmes pelo dinheiro, e outros que dizem: “vou fazer
alguma coisa minha e veremos onde isso vai me levar”. Seja uma comedia ou
drama, é o fato de se acreditar naquilo que faz.
Você citou sua
escolha em trabalhar com Paul Verhoeven e a oportunidade de atuar ao lado de
Jean Dujardin. Como foi se deu sua entrada no cinema? Como você planejou sua
trajetória como atriz?
(risos) Eu
sou muito lenta. Sou belga, fiz o conservatório na Bélgica e eu tinha um
problema de autoconfiança. Não me achava boa o suficiente e por isso eu não
tinha trabalho. Foi quando comecei a trabalhar na televisão (Virginie Efira trabalhou como host em um
programa de auditório belga). Trabalhei com isso um tempo, mas eu não queria ser uma atriz frustrada que
trabalha como apresentadora de televisão, afinal eu tinha que gostar do que
estava fazendo. Depois, eu envelheci um pouco (risos) e comecei a compreender que
a vida passava muito rápido e eu tinha que tentar aquilo que eu gostava de
fazer. Acabaram me propondo comédias populares e eu tive sorte que funcionou
nas bilheterias. Com isso, passei a ter mais escolhas. Tendo escolhas, passei a
ter mais responsabilidades. Mas não faz tanto tempo assim que eu estou fazendo
filmes dos quais eu gosto mesmo.
Próximos projetos?
Há o lançamento de Victoria
que acontece em setembro. Depois
eu fiz um filme pequeno de uma diretora (Emmanuelle Cuau) que fez três filmes
no últimos 20 anos. É um drama. Conta a história de um filho que acaba virando
deliquente. Chama-se Pris de Court,
de Emanuel Cuau. E, agora, eu não sei (risos). Estou sem planos, o que não é
desagradável. Eu fiz oito filmes em dois anos, então, férias bem vindas.
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