sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Nerve - Um Jogo Sem Regras

(Nerve, EUA, 2015) Direção: Henry Joost e Ariel Schulman. Com Emma Roberts, Dave Franco, Emily Meade, Juliette Lewis.


Por João Paulo Barreto

A partir de uma premissa que emula outras obras que possuem supostos jogos em seu eixo central, mas cujas camadas apresentam temas mais profundos de análise do comportamento humano, como Vidas em Jogo de David Fincher e O Sobrevivente, clássico podreira estrelado por Arnold Schwarzenegger nos anos 1980 e baseado em um conto de Stephen King, Nerve – Um Jogo Sem Regras, como seu óbvio subtítulo nacional entrega, traz pessoas competindo em provas absurdas pelas quais recompensas em dinheiro lhes são oferecidas, além de um destaque no mundo virtual que lhe confere status de celebridade entre os outros jogadores e entre os observadores atentos aos movimentos de cada um através das telas do celular.

Trata-se de uma obra interessante, que acerta na crítica a uma sociedade paranoicamente mais preocupada com as quantidades de likes que possui no facebook/instagram ou em como é vista pelas pessoas que a cercam nas redes sociais do que com as que, realmente, se fazem presentes em sua vida. Porém, como fogo em pólvora, a chama de criatividade se esvai muito rápido. Com uma roupagem pop e direção enérgica, o longa da dupla Henry Joost e Ariel Schulman (que já havia dirigido os esquecíveis Atividade Paranormal 3 e 4) cria um ritmo intenso, em um formato quase de videoclipe, que tem a intenção, claro, de dialogar com o público alvo de seu filme: adolescentes cuja vida tem muito a ver com as necessidades supostamente reais e prioritárias de curtidas em redes sociais.

Na história, o suposto jogo que dá nome a história concede a anônimos a oportunidade de ficarem famosos no mundo virtual ao oferecer diversas provas e desafios que eles devem cumprir. Pode ser coisas aparentemente simples, como beijar um estranho, a insanidades como caminhar em uma escada ligando as janelas de dois prédios. Do outro lado estão os que optaram por ser apenas observadores: pessoas que pagam uma taxa para poder testemunhar as loucuras que os jogadores se propuseram a cumprir.

Vee e seus desafios propostos
Dentre eles está a jovem Vee (Emma Roberts), apelido para Vênus (em uma clara alusão à obra de Botticelli cuja atração dos olhares é bem famosa). Introvertida e tímida, a garota não consegue nem se aproximar do garoto jogador de futebol americano (claro!) por quem tem uma queda, mas decide entrar na competição após a sua experiente amiga, Sydney, lhe dar um sermão acerca do modo como ela leva sua vida. A partir daí, o filme traz aquela série de eventos nos quais as provas lhe são apresentas e ela precisa cumpri-las junto ao parceiro Ian (Dave Franco), que ela conhece em seu primeiro desafio. Alguém que, apesar do perfil de boa praça, possui algo a esconder.

Os diretores acertam em utilizar as imagens captadas pelos celulares das pessoas que perseguem a dupla em suas provas como takes complementares aos registrados pela própria lente dos realizadores. O dinamismo trazido por essa opção concede energia ao filme, tornando seu ritmo constante. Com boas sequências, como as que exibem a dupla pilotando às cegas uma moto por Nova Iorque, ou quando vemos um dos personagens se arriscar sob um trem, Nerve consegue cativar bem a atenção do espectador.

Ian testando seu poder de persuasão em Vee
No entanto, é inevitável a percepção de uma fragilidade em sua estrutura. Uma vez que entendemos a questão da crítica à sociedade baseada na fugacidade on line e na superficialidade do que aquelas pessoas julgam como importante, resta pouco ao filme. E neste intento, soa como saídas convenientes demais as inserções de personagens cujo conhecimento e acesso fácil à deep web (local na internet cuja entrada não é possível por links padrões) ou o modo absurdo como a tal empresa por trás do jogo esbanja dinheiro (colocando ou facilmente retirando da conta) no oferecimento de recompensa aos seus jogadores, gerando no espectador bem mais perguntas que respostas.

Com um final que decepciona pelo modo fácil como a resolução para todo aquele supostamente complexo esquema é apresentado, o filme fica como uma interessante e acessível reflexão sobre o modo como a exposição exagerada das pessoas nas redes sociais pode ser algo deveras prejudicial. 

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