Foto: Pierre Meunié |
Em Lolo – O Filho da
Minha Namorada, Vincent Lacoste interpreta o personagem título, jovem que
nutre uma idolatria com nuances de doença pela mãe, Violette, vivida pela
diretora e atriz, Julie Delpy. Mimado e manipulador, o personagem beira à
psicopatia nos atos de sabotagem que coloca em prática para terminar com os
relacionamentos de Violette. Em visita ao Brasil para divulgar o filme,
Lacoste, que possui certo ar blasé semelhante ao de Lolo, conversou sobre a
experiência de se trabalhar com Delpy, sobre questões que afligem a juventude
francesa e, claro, sobre a postura escroque de seu personagem no filme.
Confira o papo!
O roteiro de Julie
Delpy e de Eugénie Grandval aborda um tema que, dentro da realidade social do
Brasil, é algo visto de forma muito comum, que é o fato de jovens adultos ainda
morarem com os pais, mesmo já estando com mais de vinte, às vezes trinta anos
de idade. Como esse tipo de situação é encarada na França?
É algo normal mais ou menos até os 18 anos. Mas quando os
jovens acabam os estudos, em geral, eles saem da casa dos pais. Isso, claro,
depende também do meio social. No filme, isso ocorre em um meio privilegiado.
Então, dentro deste aspecto, é normal que eles deixem cedo as casas dos pais. Não
faz parte da cultura na França que os filhos passem muito tempo morando com os
pais.
O filme traz um
debate bem interessante dentro desse aspecto, conseguindo brincar com a questão
do filho dependente psicologicamente da mãe.
Sim, acredito que seja esse o tema, mas acho que, no caso, existe
uma dependência de ambos os lados ali. Lolo é um personagem que praticamente
enlouquece com isso. Ele tem quase que uma relação amorosa com a mãe. Mas isso,
claro, é bastante exagerado no filme. Não é uma coisa natural em meu país e os
franceses não são todos assim (risos).
Como é ser dirigido
e, ao mesmo tempo, atuar ao lado de Julie Delpy?
Para ela, claro, é algo bem natural, pois Julie sempre fez
isso em seus filmes. E isso acaba sendo algo que define a ideia. É justamente a
ideia de trabalhar em um filme da Julie Delpy, sabe? O que muda é que ela também
está interpretando. Mas o detalhe é que, quando ela está fazendo uma cena, acaba
ficando completamente imersa ali dentro. Como se fossem duas pessoas totalmente
distintas, a atriz e a diretora.
Vicent Lacoste e Julie Delpy durante as gravações Foto: Divulgação |
Como você definiria a
experiência? Algo difícil, engraçado?
Bom, é engraçado porque ela é uma pessoa engraçada, mas não
tem nada a ver com o fato dela ser ao mesmo tempo atriz e diretora. Mas seus
filmes parecem muito com ela. Então, quando os assistimos, a gente pode ter uma
ideia de quem ela é, uma vez que as personagens se parecem com a pessoa Julie
Delpy. Ela é ao mesmo tempo muito ansiosa, mas também muito engraçada, sempre
muito alegre, sempre muito falante (risos).
Abordando um aspecto
mais sério que o filme indiretamente traz, quais são as questões mais imediatas
dos jovens franceses hoje em dia?
Apesar do filme não pretender falar disso, é curioso
observar essa questão. Um dos problemas para os jovens na França hoje em dia é a
diminuição de oportunidades de trabalho. Os estudos acabam ficando mais longos
e, no fundo, servem cada vez menos para uma finalidade prática. A gente observa
jovens que estudaram durante cinco anos e acabam por não encontrar trabalho.
Esse é principal problema para a juventude francesa agora. Não haver trabalho.
Curiosamente, o seu
personagem aborda certa banalidade da juventude. É um rapaz que se diz
talentoso, que se diz um artista, mas na verdade não possui tais qualidades. A
Julie Delpy brincou com essa ironia de chamar de arte o que na verdade é kitch,
é o oposto da arte. Você também tem a mesma visão do filme?
No fundo, é justamente isso. O personagem é um falso, um
escroque filhinho de papai que não faz nada da vida. Um mundano que tem uma
leve paixão pela pintura e que se beneficia com isso muito mais pelo status que
lhe traz do que pensando nas obras em si.
O ator ao lado da diretora Julie Delpy Foto: Maxime Reynié |
É uma questão de
aparência mesmo.
Sim, exatamente. É um personagem superficial que só se
preocupa com sua aparência e que utiliza a própria mãe para ter acesso às
pessoas e para passar essa imagem mundana.
Em tempos de likes e facebook , essa é uma crítica
bastante pertinente que o filme traz à tona.
(risos) Sim, infelizmente, uma coisa cada vez mais natural.
Em uma tradição que
não é apenas francesa, vemos diversos atores e atrizes que se tornaram
diretores. É o caso da própria Delpy e de Louis Garrel, por exemplo. Você pensa
nessa possibilidade?
Talvez, mas por enquanto não tenho planos concretos para
isso. Estou satisfeito com minha carreira atual. Como ator, me interessa fazer
filmes com diretores que quero trabalhar. Quem sabe no futuro eu possa querer
contar uma história com a minha visão, mas não é o caso por enquanto.
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