(Lolo, FRA, 2016)
Direção: Julie Delpy. Com
Julie Delpy, Vincent Lacoste, Dany Boon.
Por João
Paulo Barreto
Há duas formas de se analisar Lolo – O Filho da Minha Namorada. A primeira reside no fato da
ineficiência da obra como comédia de costumes. Em seu roteiro, Julie Delpy até
se esforça para criar boas piadas na abordagem do efeito da meia-idade em mulheres
que já chegaram ao 45 anos. Isso é perceptível nas conversas que ilustram desde
a falta de sexo passando pelos..., não, é somente sobre sexo que a personagem
de Violette (vivida pela própria diretora) e suas amigas conversam.
O outro modo de abordagem do longa demonstra-se mais
eficiente. Nele, somos familiarizados com o nível de sociopatia que a
dependência materna exagerada pode causar em um adulto (quase adolescente ou
quase criança, se analisarmos bem) de vinte anos. Na realidade, o filme se
concentra em uma série de momentos nos quais o espectador testemunha as
doentias tentativas que Lolo (vivido por um irritantemente blasé Vincent
Lacoste) tem de prejudicar a vida de Jean-René, o novo namorado de sua mãe,
Violette.
Jean-René é avaliado por Lolo |
Neste aspecto, como uma obra que se propõe a discutir
justamente essa ideia de filhos adultos dependentes emocionalmente de seus
jovens pais, Lolo consegue gerar uma
boa reflexão no espectador. No entanto, apesar do tema bastante rico, o filme
acaba sendo prejudicado pelo seu insistente tom de comédia, no qual os
constantes planos infalíveis do rapaz na missão de destruir a vida do simpático
Jean-René tornam o tempo do filme algo meramente episódico, fazendo o
espectador apenas se perguntar qual será o próximo ato sádico que vamos
testemunhar.
Apesar disso, não seria justo com os momentos de graça da
obra não admitir as risadas proporcionadas pelas conversas entre Violette e
suas amigas. O papo sobre sexo oral durante sua viagem de trem ou a discussão
acerca das teias de aranha geradas em certos lugares devido a falta de relações...
sim, basicamente é somente sobre isso que elas conversam. Em certo momento,
Violette comenta acerca do seu amadurecimento, pois está aprendendo a cozinhar
outros pratos para o namorado, algo que é observado de modo pertinente por Lolo
como algo que envergonharia as feministas. Digamos que concentrar os diálogos
de suas personagens apenas em temas relacionados a sexo não as enriquece de
modo muito eficiente, tampouco.
Violette e as manipulações disfarçadas de seu filho sociopata |
Após diversas (quase) esquetes e testes de paciência do
espectador diante das tentativas de sádicas de Lolo, o filme acaba por se
encerrar de modo até reflexivo, com um foco centrado justamente na condição
dependente e doentia do personagem título, quando a máscara cai e Violette
percebe o quase psicopata que criou.
Certo peso no fechamento de uma narrativa ineficiente, mas
que não remedia a fragilidade de seu desenvolvimento.
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