(Blair Witch, EUA, 2016) Direção: Adam
Wigard. Com James Allen McCune, Callie Hernandez, Corbin Reid, Brandon Scott,
Wes Robinson, Valorie Curry.
Por João
Paulo Barreto
Creio até que demorou tempo demais para que o fenômeno de
1999, The Blair Witch Project, filme
de terror em formato documental dirigido por Daniel Myrick e Eduardo Sanches
sob o troco de orçamento que é a bagatela de 60 mil dólares trazer um retorno
mundial de quase 250 milhões de dólares.
Sim, foram 17 anos de diferença entre aquele filme e uma
continuação realizada nos mesmos moldes (Bruxa
de Blair 2 – O Livro das Sombras,
lançado em 2000 e sem as características do original não conta). De lá para cá,
uma revolução digital aconteceu. O Big
Brother se tornou um dos mais populares programas de TV. Realmente, a
demora surpreende. Aqui, novas e menores câmeras digitais; equipamentos de
captação minúsculos que podem ser usados como bluetooths no ouvido; drones;
GPS; google maps; internet 3G, enfim, tudo o que poderia ser possível de ser
utilizado no intuito de não permitir que um grupo de jovens se perdesse em uma
flores foi utilizado. Mas, ainda assim, eles se perderam.
Mas, enfim, Bruxa de
Blair (em uma feliz utilização de um nome mais clean para diferenciá-lo do
original) até que funciona ao emular as principais características de seu
antecessor do século passado e, pelo menos, poupa o espectador de overdoses de câmeras
trêmulas, uma vez que o seu original ficou notório por levar muitos
espectadores a sentir enjôos por conta do excesso de imagens tremidas e
rápidas, algo que se repetiu em filmes como Voo
93 e Jason Bourne, ambos de Paul
Greengrass.
"Não entre após o anoitecer": mas será que alguém segue conselhos? |
Na continuação, o irmão da jovem Heather, protagonista do
primeiro filme, resolve investigar o seu desaparecimento após um suposto vídeo
da casa onde ela teria sido vista pela última vez surgir no youtube. Munido de
todo o equipamento citado acima e da companhia de mais três amigos, além do
casal de guias responsável pela publicação do vídeo on line, ele resolve
adentrar na floresta de Black Hills, em Maryland.
Curiosamente, um dos atrativos do filme está na observação
do espectador para com os truques de montagem e registro utilizados pelo
diretor Adam Wingard, cuja carreira é dominada apenas por filmes de terror. É
interessante notar como os cortes das imagens seguem precisamente uma captação
subjetiva, utilizando somente as câmeras inseridas naquele universo. Apesar de
em alguns momentos se notar certos ajustes no enquadramento que difere da
posição onde se encontram os personagens (nada que não seja perdoável), o filme
consegue se manter fiel a esse seu artifício durante toda sua breve hora e
meia.
No entanto, o som diegético da obra incomoda em certos
aspectos justamente por quebrar essa ideia de imersão. Em certos momentos, ao
se virar para a câmera de alguém que o chama, certos personagens geram um susto
no espectador, algo que é acompanhado de um som que, de modo deslocado, chama a
atenção do seu interlocutor (e do público, friso) para, logo em seguida, ser
esquecido. E perceber que isso volta a se repetir outras vezes sem qualquer cerimônia
acaba por quebrar essa boa sintonia que o filme possui.
O caos impera, mas o show tem que continuar: vamos filmar! |
Outro ponto que é impossível de não se observar está em seu clímax,
quando certa personagem, dentro de um momento de puro pânico e horror, se
arrasta por um claustrofóbico subterrâneo, em meio a choro, grito e desespero,
mas se preocupa em atirar a câmera à frente para captar sua trajetória.
Excetuando esses detalhes, o filme cumpre sua função de
causar medo no espectador, principalmente por seus momentos finais, quando descobrimos
um pouco mais sobre a tal entidade.
São outros tempo, diferentes daqueles do final dos 1990. O
filme, claro, não deve ter o mesmo resultado nas bilheterias, mas, enfim, até
que vale a ida ao cinema.
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