(Mon Roi, França,
2015) Direção: Maïwenn. Com Vincent Cassel, Emmanuelle Bercot, Louis Garrel.
Por João Paulo Barreto
Marie-Antoniette, ou simplesmente Tony, se entrega à descida
de uma montanha sobre os velozes esquis para neve. Parece um gesto suicida de
sua parte. Mas, até o momento final, quando se machuca seriamente, sente o
vento gelado no rosto, sente seus cabelos esvoaçarem de modo refrescante e, o
mais importante, sente uma emoção que, apesar de saber se tratar puramente da
adrenalina, ela não se importa com sua origem artificial e previsível: quer
vivê-la com a maior intensidade possível.
A descrição acima se adéqua, também, a um momento anterior
da vida de Tony. Ao conhecer Giorgio em uma boate, relembra-o do fato de que já
o havia encontrado anteriormente. Quase como em um prólogo de sua vida que está
para começar no final daquela madrugada, tomando café da manhã com aquele
homem, o tempo em que foi garçonete e que o serviu vem à tona como uma
lembrança antiga. É a partir deste reencontro que os dois se envolvem e a
descida intensa na vida de Tony começa a se assemelhar bastante com a mesma que
abre o filme, quando seu inicio promissor, excitante e emocionante ainda não
pareceria terminar do modo traumático e amargo como acabou.
Os sorrisos iniciais que não tardarão a se perder. |
“Não se deve ter mais nada a perder para se amar de verdade.
Deve-se superar as maiores alturas para desafiar esse abismo”, afirma Tony durante
uma de suas audiências como advogada. E sua vida no momento em que se envolve
com o bom vivant Giorgio se assemelha muito àqueles fatos. São dias exuberantes,
de alegria contagiante, de sexo intenso, de emoções que não lhe cabem. Os
sorrisos são constantes e os planos para o futuro não poderiam ser melhores. A
gravidez não tarda a chegar e os planos felizes parecem se multiplicar dia após
dia.
Neste ponto, ainda durante a gestação, aquele relacionamento
sofre seu primeiro revés, com a necessidade de Giorgio em cuidar de uma
ex-namorada suicida começando a influenciar negativamente a sua relação com
Tony. As crises se iniciam, as brigas também, e a violência e gritos entre os dois só é apaziguado com a
chegada de Simbad, o bebê que nasce com um olhar sério e beleza impar. Os dias parecem
novamente esperançosos, mas, claro, sabemos se tratar apenas de uma trégua. Na
distância física de Giorgio, que viaja a trabalho, ou em sua necessidade de
manter-se sempre em festas, como se ainda tivesse vinte e poucos anos, outros reveses
daquela relação.
A chegada de Simbad e a esperança fugaz de uma relação |
Meu Rei, em certos
aspectos, lembra Brilho Eterno de uma
Mente sem Lembranças e seu modo de exibir os vestígios e desgastes de uma
relação, quando o desrespeito mutuo suplanta sorrisos e carícias. No entanto,
aqui, não há nenhuma outra opção além de encarar aquelas dores. Na pele de
Giorgio, Vicent Cassel traz uma jovialidade comum aos seus personagens. Um
carisma que se perde ao passar do tempo. Já em Emmanuelle Bercot, vemos na sua
Tony um olhar de curiosidade e insegurança, algo que, gradativamente, se
transforma em decepção e tristeza. É um filme que demonstra de modo áspero como
um relacionamento pode se tornar tão pernicioso, ao ponto de até mesmo a coisa
mais bela oriunda dele, uma criança, não ser mais capaz de torná-lo válido de
qualquer esforço em mantê-lo.
Enquanto vemos Tony se recuperar de sua grave lesão no
joelho em uma clínica especializada e suas memórias nos levar às lembranças
daquela irrecuperável relação, notamos como aquelas duas fases de sua vida se
complementam, sendo que apenas uma é passível de se obter algum êxito. Entre
ela e Giorgio pouco se salva. E a aspereza que fica para trás reverbera naquele
relacionamento que sempre estará ligada por conta da vida que os dois criaram e
compartilham.
O silêncio passivo agressivo de Giorgio em seu momento final
junto a Tony deixa claro, no entanto, que aquelas lesões nunca irão se curar.
Assisti o filme e gostei muito de sua análise sobre o mesmo. Não sei se eu entendi bem o final, queria saber o pq Georgio tratou-a com aquela frieza e entender o olhar dela com relação a ele. Grata pela atenção.
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