terça-feira, 13 de abril de 2010

Oscar e Política

Julia: "Oh, meu Deus! Eu não acredito!" Nem eu... pfff.

Ellen: "Eu merecia mais!" Sem dúvida, mrs. Bursty

Kathryn Bigelow e sua merecida estatueta
Essa aqui entra com um pouco de atraso no blog (pô, alivia aí. Criei esse espaço só em abril!). Algumas avaliações sobre a cerimônia do Oscar em 2010 que fui obrigado a ver na GROBO devido a um blecaute no bairro onde mora o amigo Itamar, que ia liberar o TNT. O mais legal é ouvir o José Wilker (que eu ADOOOOORO! Deus...) falando as merdas habituais. Enfim, segue abaixo a brincadeira.


* * *
O Oscar e os interesses: uma análise
Oscar é política. Isso é um fato. Um jogo de interesses comerciais e capitalistas onde nem sempre é o melhor que se premia, mas, sim, o mais rentável. Escrever isso hoje é, para usar um termo adequado ao cinema, um clichê. No entanto, o contexto trazido pela cerimônia em 2010 traz uma discussão que vale a pena travar.

Durante os oitenta e um anos da festa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, exemplos claros da predileção pela obra ou pessoa que, ao receber aquele investimento em forma de estatueta dourada, maior retorno trouxesse para essa indústria, podem ser lembrados e, em alguns casos, amaldiçoados. Para citar apenas alguns casos notórios, lembro-me de Ellen Burstyn e sua chocante atuação em Réquiem para um Sonho, do diretor Darren Aronofsky. Quem mais além dela poderia levar aquele prêmio? Pelo que foi visto, a Academia preferiu garantir o lucro ao investir na multimilionária carreira da Senhora Sorrisos, Julia Roberts, em seu raso papel de uma mãe divorciada que luta contra uma corporação em Erin Brockovich. Ora, Ellen Burstyn já havia tido seu momento, pela ótica de Hollywood, vinte e sete anos antes, quando foi premiada pelo papel em que encarnou de forma tocante uma mulher castigada pela incertezas doas acertos e crueza dos erros cometidos em sua vida, em Alice não mora mais aqui. de Martin Scorsese. No entanto, a total entrega e completa falta de vaidade no papel de uma viciada em remédios para emagrecer que sonha em aparecer na televisão usando seu vestido de vinte anos atrás e vive o inferno nesse intento, não foram suficientes para impedir o lucro que um Oscar na prateleira da Srta. Roberts traria. Mais uma vez, e não pela última, friso: política.

Trazendo a discussão para anos mais recentes, é possível encontrar justificativa melhor que a homofobia para que o prêmio de melhor filme de 2005 ficasse nas mãos de Crash – No limite, do que com Brokeback Mountain? O primeiro, apesar de trazer à tona uma relevante proposta de análise no cinema, o preconceito em suas várias faces, o faz de forma forçada e caricata. Apresentando uma série de situações que podemos encontrar na esquina, o filme nos leva apenas a uma reflexão superficial, já que não se propõe a aprofundá-la. Em Brokeback Mountain, encontramos uma história de vítimas de um tipo de preconceito que (adivinhe só!) Crash não aborda: o da orientação sexual. Talvez por não ter coragem suficiente para tocar em um assunto tão delicado quanto esse, afinal é mais conveniente apresentar temas de fácil julgamento do que se arriscar em um vespeiro. O que proponho analisar aqui é a então atitude homofóbica da Academia em não reconhecer o filme, quando seu diretor, o chinês Ang Lee, foi agraciado com o prêmio.

O conservadorismo da política americana é notório. Foi apenas no século XXI que o primeiro presidente afrodescendente foi eleito. Quanto tempo vai ser necessário para que o primeiro representante assumidamente gay torne-se presidente? Utópico, eu sei. Mas divago: a boa notícia é que, pelo menos na indústria cultural, a semente plantada com o filme de Ang Lee deu frutos. Quatro anos depois, Sean Penn, o melhor ator desde Marlon Brando, arrebatou seu segundo Oscar ao viver a história de Harvey Milk, vereador assassinado em 1978, que poderia ter se tornado o primeiro presidente gay na história da política estadunidense. A atitude de premiar Penn em 2009 contribuiu para uma imagem que a Academia vem se esforçando para estabelecer: a de um tipo de instituição que se dedica ao âmbito das cifras, mas que vem tentando fugir de amarras conservadoras no reconhecimento de seus candidatos.

O que nos traz ao ano de 2010. Dez indicados a melhor filme. Destes, dois concorriam com chances reais. Avatar, a produção dirigida por James Cameron e filme de maior bilheteria da história, competia diretamente com The Hurt Locker, batizado no Brasil de forma simplória e genérica como Guerra ao Terror, produção de apenas 11 milhões e financiada com capital francês. Sua diretora, Kathrin Bigelow, estava prestes a escrever seu nome na história do cinema.

Agora, o resultado por trás dessa disputa nos leva a reflexão sobre a frase que abriu este ensaio: se Oscar é política, se o ato de reconhecer um realizador não passa de um investimento visando o lucro e a manutenção de uma indústria de cinema excludente, o que um filme feito a toque de caixa pode fazer contra aquele que simboliza todo o poderio de Hollywood? Kathrin Bigelow tornou-se, em pleno Dia Internacional da Mulher, a primeira a receber o prêmio de direção. Aquela noite serviu como um sinal de que a máquina cinematográfica norte americana continuará visando seu retorno financeiro, mas nada a impede de se arriscar em algumas situações. Afinal, política também um jogo. E de apostas altas.

* João Paulo Barreto é estudante de jornalismo e tenta encontrar tempo para ver 365 filmes em 2010. Ele ainda está no octagésimo primeiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário