quinta-feira, 28 de julho de 2016

Jason Bourne

(EUA, 2016) Direção Paul Greegrass. Com Matt Damon, Tommy Lee Jones, Alicia Vikander, Vicent Cassel, Julia Stiles.


Por João Paulo Barreto

Após a sequência filmada na estação de trem Waterloo, em Londres, a qual rendeu o Oscar de melhor montagem para Christopher Rouse por seu trabalho em O Ultimato Bourne, imaginar que a parceria do montador com o cineasta Paul Greengrass poderia superar tamanho esplendor técnico era algo desafiador. Em Jason Bourne,novo capitulo da saga do herói em busca do seu passado,  essa possibilidade foi alcançada.

Ao preferir batizar o longa apenas com o nome do seu protagonista, os realizadores dão o tom desta última parte, colocando-o como uma força motriz em busca de retaliação contra as pessoas que lhe retiraram tudo. Sem Identidade, sem supremacia e seu nenhum ultimato. Nesse mais recente episódio (o que não deve ser encarado como último), o personagem de Jason Bourne age de modo instintivo, buscando apenas causar dor e morte àqueles que o construíram do modo como ele é.

Rosto sem passado: Jason Bourne confronta a si mesmo
Aqui, temos o homem novamente às voltas com suas memórias perdidas e em busca de respostas para seu passado como o agente assassino a serviço do governo estadunidense. Ao nos colocar diante de peças familiares de Bourne (ou David Webb), o filme acerta por mostrar ao espectador uma face mais intima daquele personagem. Então, quando seu pai é trazido à tona como um dos pontos catalisadores para explicar o que ele é hoje, o roteiro escrito pelo próprio montador em parceria com Greengrass acerta ao denotar o quão frágil emocionalmente se tornará o personagem, uma vez que até mesmo sua base familiar lhe foi retirada, deixando-o apenas com a sua vida de agente militar como algo a que se apegar.  

E tudo lhe é retirado, mesmo. Aliás, é válido observar a quadrilogia Bourne justamente como um estudo do modo como as perdas físicas e psicológicas deste personagem o afetam. O vemos perder sua amada Marie na segunda parte, algo que contribuiu não somente para sua ira calculada, mas para torná-lo ainda mais pragmático em seus atos. Aqui, outra perda lhe é desferida de modo doloroso, e quando a descoberta de que até mesmo sua família pode fazer parte do espiral autodestrutivo que sua vida representa, não lhe resta muito pelo que lutar, a não ser puramente por vingança. Calculada e pragmática, mas, ao final, apenas a pura e simples vingança. E é ainda mais interessante perceber como a tal fragilidade emocional não o afeta em seu pragmatismo.

Bourne e Nicky Parsons: reencontro trágico
Como antagonista direto, Vincent Cassel interpreta o agente de mesmo nível de Bourne. Com a única diferença de que, ao contrário dos rivais anteriores, uma questão pessoal o motiva a querer matá-lo. Nessa busca, o primeiro local onde os dois se encontram é na Atenas atormentada por conflitos civis. E é neste ponto que retorno ao começo dessa crítica ao abordar como a excelência da montagem de Rouse e o domínio técnico da direção de Greengrass se fazem perceptíveis. Com a diferença de usar um espaço aberto e isso poder lhe propiciar (ou não) mais liberdade na construção do ritmo do longa, montador e diretor criam uma narrativa rápida e eficiente, sem confundir o espectador, guiando-o através de uma linha temporal que culmina em um final emocionalmente impactante. Uma notável superação da citada cena de Waterloo vista no terceiro exemplar da franquia.

Além disso, é curioso observar como em Jason Bourne Greengrass se permitiu ousar mais (leia-se: chutar o balde, mesmo). O ponto de maior percepção neste sentido está em seu desfecho nas ruas de Las Vegas, quando uma fuga e perseguição pelas ruas repletas de veículos servem de cenário para uma catártica destruição. E o filme se mostra atualizado com o contexto paranóico do mundo moderno, ao citar os vazamentos orquestrados por Edward Snowden em comparação com certas descobertas que um hacker faz das novas operações orquestradas pela CIA, como a Treadstone e a Blackbriar, vistas nos longas anteriores.

Cassel: o matador sem nome que se equipara a Bourne
Na presença de Alicia Vikander no papel de uma suposta aliada de Bourne dentro da CIA, um tom de arrogância e mais pragmatismo é inserido pela personagem. Além dela, o burocrata a liderar todo o plot da vez encontra na face de Tommy Lee Jones a presença ideal de desconfiança. Após Chris Cooper, Brian Cox e David Strathairn vestirem personagens semelhantes, é interessante notar como o rosto marcado de Jones se adequa bem ao papel de conspirador.

Ao final, com um gancho ambíguo para uma possível reviravolta em uma futura quinta parte (sim, desconsidere O Legado Bourne), espera-se apenas que a repetição constante destes elementos não torne Jason Bourne um personagem tão previsível quanto James Bond.

Mas, se observamos o que foi apresentado aqui e nos outros dois filmes dirigidos por Greengrass, as chances disso acontecer são nulas.

Vikander e Jones: a face da CIA corrupta dentro do universo Bourne



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