segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Oma

(2011, 22´) Direção: Michael Wahrmann.

A relação entre jovens e idosos nem sempre acontece de modo natural. A obrigatoriedade que os laços familiares impõem aos netos em visitar seus avós pode ser incômoda e tornar algo que poderia ser prazeroso, um exercício de paciência. Oma, curta de Michael Wahrmann (que já havia abordado o tema em seu trabalho anterior, Avós), aborda a relação do próprio diretor com as visitas que precisou fazer à sua avó (ou Oma, em alemão, língua mãe da idosa) no último ano da vida da senhora, que já tinha mais de 90 anos na ocasião.

O tom amador do filme, que foi gravado com uma câmera semi-profissional e em preto e branco, não atrapalha a proximidade que o espectador passa a ter com aquela senhora que está convencida que não vai viver por muito mais tempo. Diariamente, ao receber a visita do seu neto, ela pergunta a ele quando será sua viagem (o rapaz estava de mudança para o Brasil) e demonstra querer aproveitar aquela presença ao máximo.

Oma é um filme que aborda essa idéia de despedida familiar de maneira delicada. Já praticamente cega, a senhora afirma não conseguir enxergar quase nada. Para ela, tudo está cinza ou preto. De forma inteligente, Wahrmann coloca o espectador no mesmo mundo em que vive Oma. As imagens abusam de uma claridade extrema que, em questão de segundos, fica escura voltando a ficar clara. É justamente dessa forma que os olhos da senhora de quase cem anos enxergam a realidade.  

Confesso que o filme gerou uma identificação em mim por conta da experiência recente que tive com o falecimento de meu pai, em julho passado. Devido a um câncer e aos nocivos efeitos da quimioterapia em seu corpo, ele se tornou senil e caquético aos 57 anos, completamente dependente de seus familiares para as tarefas mais simples do dia a dia, como levantar da cama ou ir ao banheiro. Diariamente eu o visitava imaginando se aquela seria a última vez que eu o veria por conta da evolução fatal da doença. Ao ir embora, o observava triste em sua cama, sem nem um traço do homenzarrão que costumava me jogar pra cima na infância.

E ver a cabecinha de Oma ou seus dedos longos acenando do lado fora do vidro da porta do elevador acabou por ser a cena que melhor representou aquela experiência triste de despedida. Uma despedida que, no caso da senhora, aconteceu de modo natural, uma vez que quase um centenário de vida é algo que poucos podem usufruir. Meu pai, morto antes dos 60 anos, não foi um desses felizardos.

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