domingo, 18 de março de 2012

Anderson Silva: Como água

(Anderson Silva: Like Water, EUA, 2011) Direção: Pablo Croce. Com Anderson Silva, José Aldo, Júnior dos Santos, Ramon Lemos dentre outros.


Nos últimos anos, a mídia esportiva foi invadida por uma nova febre de mercado batizada de MMA (sigla em inglês para artes marciais misturadas). Bancada a peso de ouro pela UFC (Ultimate Fighting Championship), organização que promove os campeonatos de lutas livres em diversos países, essa alegoria do fascínio humano pela violência se tornou conhecida (e apreciada) por pessoas de todo o mundo, gerando um mercado que rende centenas de milhões de dólares para os organizadores.

Claro que Hollywood não ia demorar muito a perceber esse filão. Em tempos decadentes para antigos astros como Jean Claude Van Damme, Chuck Norris ou até mesmo Jackie Chan, abordar o dito “esporte” MMA se tornou razão de pressa para os produtores. Por sorte, os espectadores, até o momento, foram agraciados por duas produções que merecem uma atenção delicada. Guerreiro, filme de 2011 estrelado por Tom Hardy (provando talento antes da superexposição que terá com Batman) e Nick Nolte, indicado ao Oscar pelo papel. Acertando ao focar a relação pessoal e profissional que os lutadores têm com sua profissão, o longa ficcional se assemelha em parte à história apresentada nesse doc., Anderson Silva: Como água.

Comandado pelo estreante na direção de longas, Pablo Croce, vencedor do Festival de Sundance como revelação na categoria documentário, Como água apresenta o sereno e sorridente Anderson Silva, lutador brasileiro, campeão mundial, invicto há quinze combates. Considerado o melhor lutador da história do esporte (palavras do próprio criador da modalidade, Dana White), Anderson foge de muitos estereótipos que o espectador leigo de artes marciais (eu, por exemplo) está acostumado a ver.  Sempre simpático e reflexivo nas próprias declarações, o lutador apresenta um perfil totalmente diverso de seu oponente, o estadunidense Chael Sonnen, cujo confronto pelo cinturão é apresentado como foco principal deste filme.

Silva e Sonnen se encaram na véspera da luta: parte do entretenimento
A produção acompanha o treinamento de Silva durante os meses que antecederam o combate, realizado em 2010. A partir de depoimentos do próprio Anderson e de sua família, amigos, empresário, treinador e colegas de profissão, vemos a construção de um novo ídolo para os aficionados por esse tipo de competição. Equilibrando de forma funcional as personalidades do lutador brasileiro e de Sonnen, o roteiro, escrito a quatro mãos, consegue manipular um antagonismo clássico nesse tipo de filme que, por mais que seja um documentário, possui o mesmo tipo de recompensa para o espectador que obras como Rock ou os filmes do já citado Van Damme trazem no final.

Deste modo, não é com surpresa que percebemos nossa torcida pelo brasileiro que se mantém impassível diante das provocações feitas por seu oponente. Curioso que basta uma reflexão mais aprofundada para percebermos que Soonen apenas cumpre sua parte no jogo de divulgação do evento, algo que, inclusive, é muito bem recebido por patrocinadores e pelo próprio White, dono da competição e que, diga-se de passagem, condena veementemente o comportamento introspectivo de Silva.

Batizados de forma espalhafatosa de “Gladiadores do Século XXI” por Galvão Bueno (bem de acordo com ideia mercadológica de sua empregadora), os lutadores desse dito esporte apenas refletem a psicopatia da sociedade desse mesmo século. Claro, não é necessário manter um discurso hipócrita em negar que a torcida pelo brasileiro é inevitável. No entanto, é o próprio filme que apresenta, através de sua imagem final, com Anderson saindo da luta em uma ambulância, e na declaração de sua mãe, que classifica como “imbecil” a forma do filho ganhar (muito) dinheiro, a melhor definição para esse “esporte”.
   
Observação: Apesar de bem justificado pela introdução de Bruce Lee no começo do filme, Como água acabou sendo uma péssima escolha para o título no Brasil. Já nasce como piada pronta. 

2 comentários:

  1. Gostei da crítica e do comentário sobre o Galvão, mas acho injusto as aspas em esporte. São vários os esportes em que a violência ou no mínimo o excesso de vontade são exigências. Numa luta dessas os caras estão preparados para apanhar e o público para assistir...

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  2. Olha, não consigo enxergar como esporte um ritual onde a destruição da integridade física de um homem é encarada como meta.

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