quarta-feira, 4 de abril de 2012

Área Q

(EUA, Brasil, 2011) Direção: Gerson Sanginitto. Com Isaiah Washinton, Murilo Rosa, Tânia Khalil, Ricardo Conti.



O gênero Sci Fi nunca foi muito bem explorado na filmografia nacional. Excetuando as paródias dos Trapalhões visitando outros planetas ao lado da Xuxa (ela bem que poderia ter ficado em outra galáxia...) ou Sandy e Júnior levando bons atores como Julia Lemertz e Milton Gonçalves para o lado negro da força (ou para as obrigações das contas mensais), foram poucas as produções nesse viés. Claro que houve boas referências como A Máquina e O Homem do Futuro, mas, nestes, a ficção ficava em segundo plano em detrimento da comedia.

Chega 2012 e é com uma grata surpresa que Área Q estreia nos cinemas nacionais. Referenciando obras como Contatos Imediatos de Terceiro Grau, Arquivo X e Contato, o filme de Gerson Sanginitto bebe na fonte um tanto clichê da questão de abduções por extraterrestres e governamentais teorias da conspiração, mas acaba fazendo isso de forma eficiente dentro de um modesto orçamento, contando com boas atuações e um roteiro que acerta (muito) mais do que erra.

Contando a história de um jornalista estadunidense que, junto à polícia, busca pistas sobre um possível sequestro de seu filho, o roteiro escrito por Julia Camara e pelo próprio Sanginitto, traz o repórter investigativo Thomas Mathews (Washington, de Grey´s Anatomy) para as cidades de Quixadá e Quixeramobim (a “Área Q” do título), no interior do Ceará, no intuito de desvendar possíveis casos de abdução que teriam acontecido na região. O mistério por trás dos eventos envolvendo o desaparecimento do camponês local, João Batista (Rosa) e as possíveis coincidências entre esse caso e o sumiço de seu próprio filho intrigam o americano que, inicialmente incrédulo, desenvolve uma obsessão pela investigação.

Thomas busca uma resolução para o desaparecimento de seu filho
Com uma trilha sonora um tanto piegas para os momentos que tendem a fisgar o público pela emoção, mas que acerta na atmosfera de tensão e suspense nas cenas em que abordam os mistérios por trás dos possíveis locais onde alienígenas teriam pousado, Área Q consegue prender o espectador de forma a tornar intrigante a resolução daquele mistério. Outro ponto de acerto do filme foi a escolha das locações. Com suas montanhas e lagos, as belíssimas cidades do Ceará compõem um pano de fundo incomum na proposta de ficção científica, mas, exatamente por isso, ideal para criar a sensação de suspense que a trama exige. Gosto, particularmente, do hotel construído sobre uma rocha, fazendo parecer que ele pousou ali.

Contato imediato: Thomas tenta desvendar o mistério por trás dos fatos
Um dos méritos do longa é a utilização de uma mensagem pacifista para justificar seu tema extraterrestre. Claro, a ideia de alienígenas precisando intervir no modo destrutivo como o ser humano lida com o planeta não é novidade. Desde O Dia em que a Terra Parou, filme de 1951, que os homens verdes precisam meter o bedelho para que esse lugar não exploda. Porém, o modo como sábias palavras são proferidas a partir de um camponês, nos faz refletir sobre as atitudes simples que podem gerar mudanças importantes para nossa saudável permanência aqui. E a abordagem espiritualista do projeto ajuda a tornar essa reflexão ainda mais interessante.

Curiosamente, o filme tende para o absurdo não devido aos efeitos especiais simples (algo até aceitável diante da limitação do orçamento) ou na premissa fantasiosa do roteiro, mas, sim,  quando tenta inserir uma possível teoria da conspiração a partir do (dispensável) personagem de Tânia Khalil, uma suposta repórter que se envolve com Thomas. Imaginar o governo Lula assinando qualquer projeto de investigação alienígena junto com a Polícia Federal é exigir demais da suspensão da descrença, tão necessária em qualquer tipo de filme, principalmente uma ficção científica. Nessa ideia, o "eu quero acreditar" proferido pela personagem (numa bacana referência a Arquivo X) exige muito, mas muito mais do espectador

2 comentários:

  1. Acho uma lástima quando um filme poderia ser bem melhor e não é devido a deslizes totalmente contornáveis.
    É o caso deste Área Q, que peca principalmente "quando tenta inserir uma possível teoria da conspiração..." (e sua analogia é perfeita!), mas também pela narração em off óbvia demais, trilha exagerada e pequenas escorregadas na história. Tratando-se de um tema tão clichê, já tão explorado, o tratamento do roteiro deveria ser mais cuidadoso.
    Nos pontos positivos concordo com sua crítica, e destaco a ambiguidade Ets X Espiritualidade, também citada na ótima entrevista com o diretor.
    Porém, na minha opinião o saldo foi negativo. Interessante, mas não o veria de novo.

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  2. Pois é, Fabio. Uma pena, mesmo. Mas até acho que o saldo final da produção foi positivo. Em relação à narração em off, creio que não seja tão problemática. Lembrou-me, inclusive, a atmosfera misteriosa de alguns filmes noir.

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