Em um momento tão significativo para a História do Brasil, no qual manifestações públicas exigem um basta de tantos abusos e escândalos, um período em que as pessoas exigem nada mais que a verdade daqueles que supostamente governam o país, é louvável entrar em cartaz uma obra como Dossiê Jango.
O documentário dirigido por Paulo Henrique Fontenelle acende um sentimento de inércia no espectador por fazê-lo perceber como a fossa pútrida de tudo que acontece no Brasil político é profunda. Acerca do óbvio assassinato do presidente João Goulart, o filme, como o nome já diz, apresenta um dossiê completo sobre todas as conjunturas e esquemas que depuseram Jango da presidência após este ter assumido o cargo que os militares não o deixaram ter acesso imediato quando da renúncia de Jânio Quadros.
A História do período impressa nos livros do curso ginasial diz que Jango estava na China, em visita oficial, no ano de 1961, ocasião em que o “vassourinha” renunciou. Como é muito bem apontado pelo longa, a visão à frente do seu próprio tempo que Goulart possuía já é demonstrada por esse fato: 50 anos antes da China ser considerada a maior potência econômica do planeta, um presidente ousou manter ligações políticas com um país comunista, contrariando os então supostos donos ianques do mundo. Ato esse que iria influenciar e muito os anos de chumbo que estavam para se iniciar.
Caminhando entre lobos: Jango e JFK |
Construindo uma teia de informações através das vozes de figuras como o cineasta Zelito Viana, o poeta Ferreira Gullar, João Vicente Goulart (filho de Jango), dentre outros, o longa apresenta uma série de informações acerca das convenientes mortes que os lideres de governos sul-americanos que haviam sofridos golpes militares na segunda metade do século XX. No Brasil, as mortes abordadas pelo filme são as de Juscelino Kubitschek, Carlos Lacerda e a do próprio Jango, que, ocorridas em um intervalo de apenas 9 meses, podem parecer uma teoria da conspiração, mas que o longa, através de depoimentos de testemunhas chave, coloca a possibilidade de assassinato como algo bastante concreto.
Jango durante o exílio |
Apresentando gravações de arquivo nos quais o então presidente Kennedy conversa com o embaixador americano no Brasil acerca da possibilidade e do risco do país se tornar comunista, e deixando como concreta a ideia de uma intervenção militar, Dossiê Jango demonstra-se como um filme obrigatório para compreendermos toda a nefasta influência estadunidense nas ditaduras da America do Sul.
É um filme atual não somente pelo contexto do mundo em tempos de vigilância e descobertas de monitorações oriundas dos (guess who?) Estados Unidos, mas, acima de tudo, pela necessidade urgente do Brasil fazer valer a justiça quanto aos crimes cometidos pelos militares no período de 20 anos do regime.
Assim como já aconteceu no Chile e na Argentina, já passa da hora dos assassinos de uma nação em franco crescimento humano e intelectual serem levados a julgamento. Dossiê Jango ratifica isso de modo doloroso, mas, eficaz.
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