sábado, 31 de agosto de 2013

Man on the Moon e suas bem-vindas manipulações


Man on the Moon é um filme que te traz uma sensação de inquietação. Uma obra que, mesmo já tendo sida apreciada diversas vezes, ainda causa tamanho fascínio. É chover no molhado elogiar o desempenho de Jim Carrey, que parece não ter atuado no filme, mas, sim, encarnado Kaufman. Milos Forman acertou em cheio ao não tentar desmitificar a figura de Andy Kaufman. Ele apresenta o “cantor e dançarino” (autodescrição do próprio) ao público dos anos 2000 do mesmo modo como Andy se apresentou ao dos anos 1970. Cabe a nós espectadores tentarmos encontrar um fio de verdade que nos leve a descobrir quem é aquele homem que parece sair de um personagem para o outro em uma constante mutação, sem nunca deixar qualquer rastro de sua verdadeira personalidade. Andy era como uma matrioshka, a boneca russa com diversas versões dentro de si mesma. A cada situação, uma nova versão surgia e se adaptava àquela realidade. Nessas adaptações, ele vivia para desafiar o público, criando versões às vezes odiosas (o lutador misógino e racista), às vezes adoráveis (Latka) e às vezes ambas (Tony Clifton). A mágica do filme é sempre deixar-nos (quase) sem pistas de quem era aquele cara de verdade. Talvez somente no final, quando o já combalido Kaufman percebe ter sido levado pelo mesmo truque ilusionista com o qual brincou a vida inteira, é que sentimos que ele pôde se colocar na mesma situação do público que ele sempre manipulou. Ao sorrir, já à beira da morte, observando a mão do “médico” charlatão a ostentar um relógio de ouro e a segurar um pedaço de tripa que supostamente este retiraria de seu corpo como prova da cura do câncer, Andy percebe-se no lugar do público manipulado. Ao final, Kaufman se viu vítima de seu próprio “golpe”. Confesso que ainda me emociono ao ouvir Man on the Moon na voz de Michael Stipe no momento final em que Paul Giamatti suspira de emoção ao ver Tony Clifton no palco um ano após a morte de Andy. Ops! Wait a minute...

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