(Dawn of
The Planet of the Apes) Direção: Matt Reeves. Com Andy Serkins, Jason
Clarke, Gary Oldman, Keri Russel, Toby Kebbel, Kodi Smit-McPhee.
Por João Paulo Barreto
Ele é um pai que se preocupa em
prover segurança, comida, saúde e um teto para sua família, composta por
esposa, um impulsivo filho adolescente e um bebê recém-nascido. Além disso, tem
sob sua responsabilidade a liderança de um grupo de iguais, o qual leva adiante
sob um senso de ética e moral responsável e contagiante. Conquista o respeito
dos seus pares através de atitudes sensatas e de um restrito código pacifico de
convivência.
O protagonista de Planeta dos Macacos: O Confronto tem
todas essas características, mas não é interpretado por um galã hollywoodiano,
mas, sim, por um macaco. Ou melhor, por Andy Serkins, o homem de diversas
faces, corpos e vozes que, aqui, empresta seu talento para a criação de Cesar,
papel que reprisa no filme dirigido por Matt Reeves (Cloverfield). Cesar, apesar de símio, traz em sua personalidade e
desenvolvimento todas as características que levariam qualquer um a se
convencer que se trata de um líder nato da raça humana. E esse é o principal
trunfo deste filme de transição da nova saga dos macacos no cinema: o modo como
um primata consegue trazer mais humanidade, respeito mútuo e bondade do que qualquer
outro homo sapiens visto na trama.
Malcolm: liderança posta à prova |
Não que o lado humano da balança
não seja equilibrado por outros personagens que possuem caráter semelhante. O
espelho de Cesar na nossa espécie é Malcolm, um engenheiro viúvo, pai também de
um adolescente, que precisa adentrar no domínio símio da floresta dos arredores
de São Francisco para tentar religar os circuitos de uma usina hidrelétrica que
poderá voltar a alimentar a cidade. Nessa jornada, encara a inicial animosidade
dos macacos mutantes e acaba por encontrar um amigo entre os supostos animais. Malcolm,
do mesmo modo que Cesar, tem sob sua responsabilidade a liderança e a vida de
muitos.
Em seu roteiro escrito a seis
mãos, o filme de Reeves é mais do que apenas uma aventura maniqueísta, na qual
os humanos são pintados como vilões sanguinários (com algumas exceções) e os
macacos (também com algumas exceções) vítimas bondosas de sua fúria. Nos dois
lados, há personagens cujos conflitos de caráter colaboram para uma
profundidade em suas motivações, sendo que é no lado dos macacos que esse
desenvolvimento é realizado de forma muito mais eficiente.
Koba: ambição e instinto assassino |
Na figura de Koba, braço direito
de Cesar em sua liderança do grupo, se encontra a ambição e a sede pelo poder capazes
de tornar a traição como algo concreto, mesmo nas relações amigáveis daqueles
seres. Em Koba, o roteiro consegue criar certa profundidade em seus
antagonistas, algo que não é visto, por exemplo, na figura humana de Dreyfus
(Oldman), cujas ações irracionais, apesar de motivadas por um sentimento de
perda levemente inserido na trama, não convencem como atitudes realmente críveis.
Nesse sentido, o filme peca por não ter o mesmo apuro no desenvolvimento de seu
núcleo humano como teve no símio.
Apresentando um título nacional
que engana o espectador (creio que A
Aurora do Planeta dos Macacos seria algo bem mais interessante), o filme
traz até cenas bem construídas do tal confronto entre humanos e primatas, mas,
claro, a real guerra será deixada para um próximo capítulo. No entanto, na
batalha vista aqui, Reeves investe seu estilo apresentado em Cloverfield com uma interessante sequência
na qual o ponto de vista de um macaco sobre um tanque de guerra a girar seu
canhão em 360° é trazido ao espectador. A direção de arte capricha ao exibir a
floresta com os troncos das árvores adaptados pelos animais para facilitar sua
locomoção. Além disso, o refúgio humano em uma São Francisco abandonada exibe
de forma satisfatória o modo como a cidade já não é mais habitada por multidões.
Andy Serkins no papel de Cesar: captação de movimento e talento |
No entanto, é o talento de Andy
Serkins na composição de Cesar que deve ser apreciado como ponto principal
aqui. Com uma pintura de guerra que salienta as suas costelas e, no focinho,
uma única linha vermelha demonstrando a concentração e comprometimento para com
sua causa, o líder dos macacos é trazido a nós como um ser cativante. E a opção
de Matt Reeves em iniciar e encerrar o longa com um super close-up nos olhos do
personagem o torna ainda mais gigante.
Toda a tristeza que toma o lugar da
determinação daquele olhar é a mais tocante representação do inferno que está
para chegar na vida daquele animal. Se é que se pode chamá-lo assim.
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