quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Bruxa de Blair

(Blair Witch, EUA, 2016) Direção: Adam Wigard. Com James Allen McCune, Callie Hernandez, Corbin Reid, Brandon Scott, Wes Robinson, Valorie Curry.


Por João Paulo Barreto

Creio até que demorou tempo demais para que o fenômeno de 1999, The Blair Witch Project, filme de terror em formato documental dirigido por Daniel Myrick e Eduardo Sanches sob o troco de orçamento que é a bagatela de 60 mil dólares trazer um retorno mundial de quase 250 milhões de dólares.

Sim, foram 17 anos de diferença entre aquele filme e uma continuação realizada nos mesmos moldes (Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras, lançado em 2000 e sem as características do original não conta). De lá para cá, uma revolução digital aconteceu. O Big Brother se tornou um dos mais populares programas de TV. Realmente, a demora surpreende. Aqui, novas e menores câmeras digitais; equipamentos de captação minúsculos que podem ser usados como bluetooths no ouvido; drones; GPS; google maps; internet 3G, enfim, tudo o que poderia ser possível de ser utilizado no intuito de não permitir que um grupo de jovens se perdesse em uma flores foi utilizado. Mas, ainda assim, eles se perderam.

Mas, enfim, Bruxa de Blair (em uma feliz utilização de um nome mais clean para diferenciá-lo do original) até que funciona ao emular as principais características de seu antecessor do século passado e, pelo menos, poupa o espectador de overdoses de câmeras trêmulas, uma vez que o seu original ficou notório por levar muitos espectadores a sentir enjôos por conta do excesso de imagens tremidas e rápidas, algo que se repetiu em filmes como Voo 93 e Jason Bourne, ambos de Paul Greengrass.

"Não entre após o anoitecer": mas será que alguém segue conselhos?
Na continuação, o irmão da jovem Heather, protagonista do primeiro filme, resolve investigar o seu desaparecimento após um suposto vídeo da casa onde ela teria sido vista pela última vez surgir no youtube. Munido de todo o equipamento citado acima e da companhia de mais três amigos, além do casal de guias responsável pela publicação do vídeo on line, ele resolve adentrar na floresta de Black Hills, em Maryland.

Curiosamente, um dos atrativos do filme está na observação do espectador para com os truques de montagem e registro utilizados pelo diretor Adam Wingard, cuja carreira é dominada apenas por filmes de terror. É interessante notar como os cortes das imagens seguem precisamente uma captação subjetiva, utilizando somente as câmeras inseridas naquele universo. Apesar de em alguns momentos se notar certos ajustes no enquadramento que difere da posição onde se encontram os personagens (nada que não seja perdoável), o filme consegue se manter fiel a esse seu artifício durante toda sua breve hora e meia.  

No entanto, o som diegético da obra incomoda em certos aspectos justamente por quebrar essa ideia de imersão. Em certos momentos, ao se virar para a câmera de alguém que o chama, certos personagens geram um susto no espectador, algo que é acompanhado de um som que, de modo deslocado, chama a atenção do seu interlocutor (e do público, friso) para, logo em seguida, ser esquecido. E perceber que isso volta a se repetir outras vezes sem qualquer cerimônia acaba por quebrar essa boa sintonia que o filme possui.

O caos impera, mas o show tem que continuar: vamos filmar!
Outro ponto que é impossível de não se observar está em seu clímax, quando certa personagem, dentro de um momento de puro pânico e horror, se arrasta por um claustrofóbico subterrâneo, em meio a choro, grito e desespero, mas se preocupa em atirar a câmera à frente para captar sua trajetória.

Excetuando esses detalhes, o filme cumpre sua função de causar medo no espectador, principalmente por seus momentos finais, quando descobrimos um pouco mais sobre a tal entidade.

São outros tempo, diferentes daqueles do final dos 1990. O filme, claro, não deve ter o mesmo resultado nas bilheterias, mas, enfim, até que vale a ida ao cinema.

   

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