Meu Primeiro Casamento (Mi Primera Boda, Arg, 2011) Direção: Ariel Winograd. Com Natalia Oreiro, Daniel Hendler, Imanoel Arias, Martin Piroyansky.
Em uma das melhores cenas de Meu Primeiro Casamento, vemos um padre e
um rabino seguindo no mesmo carro em direção ao casamento do título. Orientados
erroneamente pelo noivo (e de forma proposital), o motorista e os dois
religiosos trafegam por estradas de chão em busca do local onde se dará a
cerimônia sem nunca encontrá-lo. Durante a viagem, os dois vão conversando
sobre fé no homem, fé no deus no qual eles acreditam e sobre as curiosidades
que cada um tem a respeito da religião do outro.
No decorrer dessa trajetória,
eles vão alimentando seus conhecimentos e, nesse contexto, é possível enxergar
uma profundidade que foge à proposta simplista e pastelão de comédia desse
engraçadinho (e só) filme argentino. Perdidos em seus caminhos e, enquanto
isso, comparando seus conhecimentos teológicos, a eficiente metáfora para um
mundo onde a religião pode até nos trazer sabedoria, mas, ao mesmo tempo, nos
isola de diversas opções plausíveis para a vida (afinal, os dois passam toda a
projeção procurando um caminho e presos a dogmas particulares), torna a
apreciação dessa obra algo acima dos risos forçados que ele tenta nos impelir.
Os dois membros religiosos discutem fé através de uma óptica não habitual: ponto alto |
A trama se passa em apenas um dia
e conta a história de um atrapalhado matrimônio entre dois jovens. Ele, Adrian,
judeu; ela, Leonora, católica. Adrian passa todo o tempo da pré- cerimônia
tentando encontrar uma aliança perdida enquanto que Leonora precisa lidar com
seus convidados excêntricos. Nessa lista de personagens, uns caricatos outros engraçados,
destacam-se o idoso divorciado que, agora que é um “homem livre”, precisa
aproveitar a vida e enxerga em um baseado o significado para essa missão e o
deslocado primo do protagonista, Fede, que, sempre se esforçando para agradar a
enfezada noiva, acaba protagonizando alguns dos poucos risos do filme.
No entanto, sem querer, na
metáfora citada no começo desse texto, Meu
Primeiro Casamento acaba servindo como um ponto de reflexão para uma
discussão religiosa que já se estende há anos. A religião nos impede de pensar restrigindo nossos horizontes ou nos faz enxergar além? Quando, em certo momento, vemos os
dois homens em acordo mútuo se juntarem para fazer o carro funcionar, é que se
percebe a eficiência desse ponto no roteiro de Patricio Vega. E, apesar do
resultado final do projeto não ficar acima da média, o arco dramático presente
na trajetória desses dois religiosos acaba por tornar o filme uma boa surpresa.
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