E ai, Comeu? é quase (só quase) um filme da fase inicial da
carreira de Woody Allen. Claro, muitas das sutilezas de cunho sexual dos
roteiros de Allen em obras como Tudo o
que você queria saber sobre sexo e tinha medo de perguntar e A Última Noite de Boris Grushenko não
são encontradas nas linhas escritas por Marcelo Rubens Paiva para a peça E aí, Comeu?, que mantém uma verve mais escrachada
e sexista da fase Poderosa Afrodite. Não
que isso seja um defeito. Porém, é
inegável que as velhas questões da guerra dos sexos já levantadas na obra do
diretor americano tenham influenciado o escritor brasileiro.
O fato é que o texto de Paiva
pode, até certo ponto, chocar puritanos e fiscais do politicamente correto. No
entanto, não é com essa vibe que se deve encarar a sessão. Ao enquadrar três
amigos em uma mesa de bar, o filme, dirigido por Felipe Joffily (que já tinha
focado em um tema semelhante, só que pela óptica feminina em Muita Calma Nessa Hora, de 2010) traduz o
que vários homens conversam entre um copo de cerveja e outro. Se você é homem,
sabe do que eu estou falando. Conversa em boteco onde só tem esse bando que
prefere pensar com outra cabeça é assim. Não adianta negar.
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Desse brinde boa coisa não vai sair: os amigos no bar de sempre |
Agora, claro, o filme de Joffily
também foca em outras ideias. A de que cafajeste também ama. A de que homem
casado também se preocupa com sua vida sexual e a de que aquele que levou um pé
na bunda sempre está sofrendo bem mais do que aparenta seu perfil de “tô nem aí”.
Ou seja, o filme não visa colocar as mulheres apenas como objetos (mesmo que,
em alguns momentos, ele o faça), mas, sim, como seres que os opostos tentam
alcançar de modo sublime e, quase sempre, sem sucesso aparente.
Os três amigos citados são
Fernando (Mazzeo), o recém- chutado pela esposa que saiu de casa e o deixou por
um publicitário espalhafatoso de nome Volney; o casado e com fortes suspeitas
de que está sendo traído, Honório (Palmeira) e o solteiro convicto e mulherengo
Fonsinho (Orciollo), que apesar de manter aquela fachada de pegador
independente, não esconde suas frustrações como escritor e como solitário. É
através das pérolas proferidas por esses três infelizes e alcoólatras (todo dia
no bar é complicado...) que se percebe o quanto relacionamentos são coisas
difíceis de se entender.
Honório, casado e pai de três
filhas pequenas, já não possui uma vida intima com a esposa (Paes). A relação
de ambos é galgada na indiferença (ou no fingir da indiferença). Uma das
melhores cenas do longa é a de uma pergunta feita por uma de suas filhas
pequenas sobre o que é tesão. Fernando,
deixado pela esposa na companhia da coleção de sapatos desta, ainda dorme no
sofá mesmo sabendo que já não mais precisa. Enquanto é tentado pela vizinha ninfeta,
Gabi (Laura Neiva, cada vez mais se adequando ao tipo de papel), ele ainda se
lamenta pela perda. Já Fonsinho é um caso a parte: apaixonado por uma garota de
programa, o viciado em palavras cruzadas é o de situação mais complexa dos
três, uma vez que só se relaciona com casadas e está sempre em bacanais.
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"Com 17, se for consentido, pode. Eu vi no google": a ninfeta de Laura Neiva. |
Nesse conjunto de personagens,
temos momentos engraçados como as falas protagonizadas por Seu Jorge, que vive
um garçom apelidado de... Seu Jorge; as teorias do porque da traição explicadas
por Bruno Mazzeo; as brigas entre a mesa ocupada pelo trio e a de um grupo de garotas
e os exemplos de sexo oral que Honório e Fonsinho explicam (estes seguindo a já
batida fórmula de colocar o personagem para conversar com o espectador).
Lembrando outros bons momentos da
cinematografia nacional em comédias, como Pequeno
Dicionário Amoroso, E aí, Comeu? diverte por apresentar personagens comuns
e situações que qualquer pessoa pode viver. Além de ser um ótimo momento para um
comediante como Bruno Mazzeo, que precisava de um bom texto para seu ótimo
timing cômico após o sofrível Cilada.com
Se esse texto puder ser escrito por
Marcelo Rubens Paiva, melhor ainda.
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