
A ideia de escrever esse texto
surgiu a partir das várias discussões comparativas entre a saga do homem
morcego pela óptica do diretor de Memento
e a reunião dos medalhões da Marvel na obra de Joss Whedon. Revendo Avengers no cinema, após já ter lido
diversas críticas sobre o filme (concordando com algumas e discordando de
outras), resolvi não escrever um texto analítico sobre o merecido triunfo da
Marvel, mas, sim, sobre o que mais me chamou atenção no que tange ao forçado
aspecto comparativo entre The Dark Knight
e The Avengers. Poderia escrever
aqui diversos caracteres sobre a carga dramática e psicológica da obra de Nolan
em comparação ao universo focado na ação divertida do filme de Whedon. No
entanto, isso seria como dar murro em ponta de faca, uma vez que a intenção não
é convencer fãs de qual filme é melhor. No entanto, é inevitável não observar
uma coincidência no roteiro dos dois filmes e a forma diferenciada com que cada
um lida com as soluções apresentadas.
Em determinado momento de Os Vingadores, vemos que a solução
encontrada pela organização secreta S.H.I.E.L.D para localizar o vilão Loki,
que pode estar em qualquer lugar do mundo, é a de usar imagens captadas por câmeras
de vigilância em todas as partes do planeta. Até aí, tudo bem, é para isso que
elas servem. No entanto, o que os personagens explicam é que serão utilizadas
imagens captadas por qualquer câmera em todos os lugares. Ou seja, serão
imagens oriundas de celulares, tablets, lap tops, câmeras portáteis, enfim,
tudo o que puder captar vídeos. E, claro, isso é encarado como perfeitamente
normal. Invadir a privacidade de cidadãos de todo o mundo, que podem estar
usando seus equipamentos eletrônicos para fins exclusivamente particulares, é
algo rotineiro, afinal, qual o problema em grampear imagens e conversas de milhões
de pessoas? Tsc tsc...
O que leva à análise do mesmo
ponto, só que visto pelos olhos da saga do Cavaleiro das Trevas de Christopher
Nolan. No clímax do segundo filme, o personagem Lucius Fox, interpretado por
Morgan Freeman, se depara com um equipamento que capaz de grampear todos os
celulares de Gotham City. A ideia é transformar em imagens o sinal emitido
pelos aparelhos (como um sonar de submarino), para, assim, localizar o vilão
Coringa (vivido por Heath Ledger). A ideia é do próprio Bruce Wayne/Batman
(Christian Bale), que elevou ao máximo o mecanismo de um aparelho que lhe foi
apresentado por Fox anteriormente.
“Bonito, hein?”, comenta Batman
ao observar Lucius contemplando o receptor dos sinais.
“Bonito, antiético e perigoso”,
replica o executivo. “Isto é errado”, complementa.
“Eu preciso achar esse homem,
Lucius ”, treplica Batman, reconhecendo que não teve outra opção.
“A que preço?”, pergunta Fox.
“O banco de dados é
criptografado. Só pode ser acessado por uma pessoa”, explica o homem morcego.
“Isso é muito poder para uma
pessoa”, diz Lucius.
“É por isso que eu o dei a você.
Só você pode usar”, Batman responde.
“Espionar 30 milhões de pessoas não
faz parte das minhas funções. Eu vou ajudar você desta vez. Mas considere esta a
minha demissão. Enquanto essa máquina estiver nas Empresas Wayne, eu não
ficarei”.
Em uma cena que dura menos de dois minutos, percebemos a riqueza e a relação direta com a realidade que o roteiro de Nolan possui. Toda a paranoia estadunidense em relação à espionagem é levantada de forma sutil por esse momento genial de um filme ainda mais genial. E essa é uma das razões pela qual é possível afirmar sem sombras de dúvida que, apesar de Os Vingadores ser um sucesso de bilheteria (como já foi dito) e um ótimo filme (friso), a saga do homem morcego pelo olhar apurado de Christopher Nolan reside em um outro nível de cinema. Além do fato de ser, também, um êxito mercadológico. E a insistente discussão comparativa (e até, às vezes, peçonhenta) entre os fãs da saga da Marvel e os da DC não vale a pena ser mantida. Enquanto um é entretenimento puro e raso, o outro pode ser considerado tranquilamente como uma das mais importantes provas de que pode haver inteligência em filmes de super-heróis. A coincidência das duas cenas e a forma realista como uma das obras a abordou constata esse fato.
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Lucius Fox (Morgan Freeman) no conflito de sua ética profissional e a emergência |
ps. Falta um mês para a estreia de The Dark Knight Rises.
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