sexta-feira, 22 de junho de 2012

Os Vingadores e O Cavaleiro das Trevas: visões diferenciadas sobre HQs no cinema

Dois meses após a estreia de Os Vingadores, épico que a Marvel engendrou durante os últimos seis anos (desde a pré-produção do primeiro Homem de Ferro), o filme ultrapassa a marca de um bilhão em bilheterias mundiais e se prepara para ampliar ainda mais essa marca em DVD. Nada mais merecido. O filme, realmente, faz jus ao que os fãs dos quadrinhos esperavam ao sonhar durante anos pela versão em carne e osso dos seus heróis preferidos. Boas escolhas de elenco (Downey Jr. e Chris Evans não poderiam ter sido opções mais felizes para seus personagens), um diretor que conhece a mitologia dos quadrinhos e, o mais importante, a respeita (Joss Whedon é um dos principais roteiristas da Marvel Comics) e muito, muito dinheiro para construção dos espetaculares efeitos especiais que a história exige. Essas são apenas algumas das razões para o sucesso de Os Vingadores.

Com esse filme, a Marvel se consolida como dominadora do filão dos quadrinhos no cinema, deixando para trás a DC Comics, detentora dos direitos de heróis como Batman e Superman. A principal discussão entre os fãs (xiitas) das HQs e um dos motivos de chacota para com os leitores da DC reside, especificamente, na incompetência que a editora teve em não aproveitar o momento dos quadrinhos no cinema e em não seguir o mesmo plano de criação que a concorrente seguiu. Obviamente, filmes como Lanterna Verde não fazem jus à riqueza dos personagens, que mereciam um melhor cuidado no plano mercadológico da passagem do impresso para as telas. Superman Returns, apesar de não ser um filme de todo ruim, se prende demais à imagem saudosa de Christopher Reeve para conseguir caminhar com as próprias pernas (e reprisar quase o mesmo roteiro do primeiro filme não ajuda muito). E, nesse contexto, podemos citar um nome que eleva o nível das HQs no cinema: Christopher Nolan.

A ideia de escrever esse texto surgiu a partir das várias discussões comparativas entre a saga do homem morcego pela óptica do diretor de Memento e a reunião dos medalhões da Marvel na obra de Joss Whedon. Revendo Avengers no cinema, após já ter lido diversas críticas sobre o filme (concordando com algumas e discordando de outras), resolvi não escrever um texto analítico sobre o merecido triunfo da Marvel, mas, sim, sobre o que mais me chamou atenção no que tange ao forçado aspecto comparativo entre The Dark Knight e The Avengers. Poderia escrever aqui diversos caracteres sobre a carga dramática e psicológica da obra de Nolan em comparação ao universo focado na ação divertida do filme de Whedon. No entanto, isso seria como dar murro em ponta de faca, uma vez que a intenção não é convencer fãs de qual filme é melhor. No entanto, é inevitável não observar uma coincidência no roteiro dos dois filmes e a forma diferenciada com que cada um lida com as soluções apresentadas.


A agente Hill (Cobie Smulders) na tentativa de achar Loki
Em determinado momento de Os Vingadores, vemos que a solução encontrada pela organização secreta S.H.I.E.L.D para localizar o vilão Loki, que pode estar em qualquer lugar do mundo, é a de usar imagens captadas por câmeras de vigilância em todas as partes do planeta. Até aí, tudo bem, é para isso que elas servem. No entanto, o que os personagens explicam é que serão utilizadas imagens captadas por qualquer câmera em todos os lugares. Ou seja, serão imagens oriundas de celulares, tablets, lap tops, câmeras portáteis, enfim, tudo o que puder captar vídeos. E, claro, isso é encarado como perfeitamente normal. Invadir a privacidade de cidadãos de todo o mundo, que podem estar usando seus equipamentos eletrônicos para fins exclusivamente particulares, é algo rotineiro, afinal, qual o problema em grampear imagens e conversas de milhões de pessoas? Tsc tsc...

O que leva à análise do mesmo ponto, só que visto pelos olhos da saga do Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan. No clímax do segundo filme, o personagem Lucius Fox, interpretado por Morgan Freeman, se depara com um equipamento que capaz de grampear todos os celulares de Gotham City. A ideia é transformar em imagens o sinal emitido pelos aparelhos (como um sonar de submarino), para, assim, localizar o vilão Coringa (vivido por Heath Ledger). A ideia é do próprio Bruce Wayne/Batman (Christian Bale), que elevou ao máximo o mecanismo de um aparelho que lhe foi apresentado por Fox anteriormente.  

“Bonito, hein?”, comenta Batman ao observar Lucius contemplando o receptor dos sinais.

“Bonito, antiético e perigoso”, replica o executivo. “Isto é errado”, complementa.

“Eu preciso achar esse homem, Lucius ”, treplica Batman, reconhecendo que não teve outra opção.

“A que preço?”, pergunta Fox.

“O banco de dados é criptografado. Só pode ser acessado por uma pessoa”, explica o homem morcego.

“Isso é muito poder para uma pessoa”, diz Lucius.

“É por isso que eu o dei a você. Só você pode usar”, Batman responde.

“Espionar 30 milhões de pessoas não faz parte das minhas funções. Eu vou ajudar você desta vez. Mas considere esta a minha demissão. Enquanto essa máquina estiver nas Empresas Wayne, eu não ficarei”.

Lucius Fox (Morgan Freeman) no conflito de sua ética profissional e a emergência
Em uma cena que dura menos de dois minutos, percebemos a riqueza e a relação direta com a realidade que o roteiro de Nolan possui. Toda a paranoia estadunidense em relação à espionagem é levantada de forma sutil por esse momento genial de um filme ainda mais genial. E essa é uma das razões pela qual é possível afirmar sem sombras de dúvida que, apesar de Os Vingadores ser um sucesso de bilheteria (como já foi dito) e um ótimo filme (friso), a saga do homem morcego pelo olhar apurado de Christopher Nolan reside em um outro nível de cinema. Além do fato de ser, também, um êxito mercadológico. E a insistente discussão comparativa (e até, às vezes, peçonhenta) entre os fãs da saga da Marvel e os da DC não vale a pena ser mantida. Enquanto um é entretenimento puro e raso, o outro pode ser considerado tranquilamente como uma das mais importantes provas de que pode haver inteligência em filmes de super-heróis. A coincidência das duas cenas e a forma realista como uma das obras a abordou constata esse fato.

ps. Falta um mês para a estreia de The Dark Knight Rises. 

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