quarta-feira, 3 de outubro de 2012

8º Panorama Internacional Coisa de Cinema



Por João Paulo Barreto


Durante os meses de julho, agosto e setembro, compus, junto com os cineastas Cláudio Marques e Marília Hughes e os críticos de cinema Rafael Carvalho (Moviola Digital) e Rafael Saraiva (Coisa de Cinema), a curadoria da oitava edição do Panorama Internacional Coisa de Cinema. Foram assistidos mais de trezentos curtas metragens de várias partes do Brasil e quase cinquenta longas, todos no intuito de selecionar 24 filmes (8 com duração superior a 30 minutos e 16 inferiores a essa metragem). Além disso, cada escolha precisava encontrar relações entre os filmes, algo que gerasse um diálogo entre os selecionados.  Esse conjunto deu origem às oito competitivas nacionais a serem exibidas no período entre 25 de outubro e 1º de novembro de 2012, no Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha, na Sala Walter da Silveira, ambos em Salvador, além da exibição simultânea na cidade de Cachoeira.

Foram três meses intensos, nos quais a rotina de ver filmes foi ampliada de forma exponencial, forçando um apuro no olhar cinematográfico, algo imprescindível para qualquer um que queira se aventurar na área do jornalismo voltado para a sétima arte. Nesse período, tive acesso a trabalhos de extremo apuro visual, instigantes roteiros e inspiradas ideias. Pude constatar o quão realmente é rico o terreno do audiovisual no Brasil e que, infelizmente, só não é mais valorizado por conta de políticas retrógradas e excludentes para com o incentivo cultural que deveria se originar de forma mais justa pelo MinC. No entanto, há aqueles cineastas que não se abatem por conta da falta de apoio governamental e, ainda assim, constroem suas narrativas na base do coletivo (afinal, o cinema é isso: uma arte coletiva), juntando esforços e transformando em imagens ideias que merecem ser divulgadas.

Experiência por demais gratificante e desafiadora a de ter acesso aos novos trabalhos de cineastas conceituados e de novos talentos que, em 2011 e 2012, ousaram e ajudaram a tornar ainda mais plural o cenário cinematográfico brasileiro criando um novo panorama que o Panorama Internacional Coisa de Cinema, já em seu oitavo ano, tem o maior prazer em divulgar. Um brinde ao cinema e, mais importante, um brinde à discussão acerca de cinema.

Confira abaixo a lista final de selecionados para as competitivas Nacional e Baiana do festival. 


Competitiva Nacional de Longas

A cidade é uma só? / Is the city one only?
Adirley Queirós, DF, 80’, Cor, Digital, 2011

Dai eu pensei em como fazer um filme bem legal, agradável e gângster: Brasília, I Love You.
Then I thought: how to make a nice movie, enjoyable and gangster. Brasilia, I love you.



As hiper-mulheres/ The Hyperwomen
Carlos Fausto, Leonardo Sette, Takumã Kuikuro, PE, 80’, Cor, Digital, 2011

Temendo a morte da esposa idosa, um velho pede que seu sobrinho realize o Jamurikumalu, o maior ritual feminino do Alto Xingu (MT), para que ela possa cantar uma última vez. As mulheres do grupo começam os ensaios enquanto a única cantora que de fato sabe todas as músicas se encontra gravemente doente.

Fearing the death of his wife, an old man requests that his nephew perform the Jamurikumalu, the main women's ritual of the Indigenous peoples of the Upper Xingu, so that she may sing one last time. The women start the rehearsals, but the only singer who really knows all the songs is seriously ill.



Boa Sorte, Meu Amor/ Good Luck, Sweetheart
Daniel Aragão, PE, 95’,P&B, 35mm, 2012
Dirceu, 30 anos, tem origens que remontam à aristocracia latifundiária do sertão pernambucano. Maria compartilha as mesmas origens sertanejas, mas ela usa a cidade para outro propósito. Ela é uma despojada estudante de música com alma de artista. Se Dirceu aspira a um mundo estável e presente, Maria vive em discordância com o presente. Boa sorte, meu amor é um antiromance do impacto entre a música e o silêncio.

Dirceu, 30 years old, has origins that go back to the aristocracy of Northeast Brazilian backlands. Maria shares the same country origins, but she uses the city for a different purpose. She is a carefree and joyful music student. On a route of escape through the desert of the backlands, a unique encounter is set to happen. Boa sorte, meu amor (Good luck, sweetheart) is an anti-romance of the impact between music and silence.



Doméstica/ Housemaids
Gabriel Mascaro, PE, 76’, Cor, Digital, 2012

Sete adolescentes assumem a missão de registrar por uma semana a sua empregada doméstica e entregar o material bruto para o diretor realizar um filme com essas imagens. Entre o choque da intimidade, as relações de poder e a performance do cotidiano, o filme lança um olhar contemporâneo sobre o trabalho doméstico no ambiente familiar e se transforma num potente ensaio sobre afeto e trabalho.

Seven adolescents take on the mission of filming, for one week, their family´s housemaids and hand over the footage to the director to make a film. The images confront us with an intricate web of human emotions that uncover the complex relationship between intimacy, power and the performance of the daily routine. The film provides us with a strong social commentary on the work of housemaids in contemporary Brazil.


Esse Amor Que Nos Consome/ This love that consumes
Allan Ribeiro, RJ, 80’, Cor, Digital, 2012

Gatto Larsen e Rubens Barbot são companheiros de vida há mais de 40 anos e acabam de se instalar em um casarão abandonado no Centro do Rio de Janeiro. Ali, eles passam a viver e ensaiar a sua companhia de dança. A luta do dia-a-dia se mistura à criação artística e à crença em seus orixás. Através da dança eles se espalham pela cidade, marcando seus territórios.
Gatto and Barbot are lifelong companions for more then 40 years and have just moved to a big decayed and abandoned building in downtown Rio de Janeiro, where they start to live and promote their dance company rehearsals. The difficulties of everyday life are merged to artistic creation and to their belief in the Orishas Gods. Bit by bit, they spread their dance throughout the city.



O que se move/ The moving creatures
Caetano Gotardo, SP, 97’, Cor, Digital, 35mm, 2012

Três núcleos familiares precisam lidar com uma mudança brusca em suas vidas. Um olhar sobre os afetos que movem essas famílias e as três mães que cantam o amor por seus filhos em momentos difíceis.

Three families have to face a sudden change in their lives. Three mothers sing the love for their children in difficult moments. A film about affection on the borders of painful happenings.




Otto
Cao Guimarães, MG, 71’, Cor e P&B, Digital, 2012

Otto é um filme que acompanha o processo de gravidez da minha mulher e o nascimento de meu filho. Instintivo e visceral como um gesto. Intimista e confidente como um diário filmado. Uma celebração à vida, um filme de amor.

Otto is a film that accompanies the process of pregnancy of my wife and the birth of my son. Instinctive and visceral as a gesture. Intimate and confident as a filmed diary. A celebration to life, a film of love.




O Som Ao Redor/ Neighbouring Sounds
Kleber Mendonça Filho, PE, 131’, Cor, Digital, 2012

A vida numa rua de classe-média na zona Sul do Recife toma um rumo inesperado após a chegada de uma milícia que oferece paz de espírito e segurança particular. A presença desses homens traz tranqüilidade para uns e tensão para outros, numa comunidade que parece temer muita coisa. Enquanto isso, Bia, casada e mãe de duas crianças, precisa achar uma maneira de lidar com os latidos constantes do cão de seu vizinho. Uma crônica brasileira, uma reflexão sobre história, violência e barulho.


Life in a middle-class neighbourhood in present day Recife, Brazil, takes an unexpected turn after the arrival of an independent private security firm. The presence of these men brings a sense of safety and a good deal of anxiety to a culture which runs on fear. Meanwhile, Bia, married and mother of two, must find a way to deal with the constant barking and howling of her neighbour’s dog. A slice of ‘Braziliana’, a reflection on history, violence and noise.




Competitiva Nacional de Curtas
- A Anti-Performance/ The Anti-Performance (Daniel Lisboa - BA)

- A Mão Que Afaga/ The Comforting Hand (Gabriela Amaral Almeida – SP)

- A Onda Traz, O Vento Leva/ The Wave Brings, The Wind Takes (Gabriel Mascaro – PE)
 - Ausência/ Absence (Jardel Tambani - SP)
- Dia Estrelado/ Starry Day (Nara Normande - PE) 

- Dizem Que Os Cães Vêem Coisas/ Dogs Are Said To See Things (Guto Parente - CE)

- Dona Sônia Pediu Uma Arma Para Seu Vizinho Alcides/ Mrs Sônia Asked

- A Gun To Her Neighbour Alcides (Gabriel Martins – MG) 

- Laje do Céu/ Sky Slab (Leo França – BA)

- Luna e Cinara / Luna And Cinara (Clara Linhart – RJ) 

- Menino Do Cinco/ The Boy From The Fifth (Marcelo Matos de Oliveira e Wallace Nogueira – BA)

- Na Sua Companhia/ By Your Side (Marcelo Caetano – SP)

- Odete (Ivo Lopes Araújo, Luiz Pretti, Clarissa Campolina – CE)

- O Duplo/ Doppelgänger (Juliana Rojas – SP)

- Os Mortos Vivos/ The Living Dead (Anita da Silveira – RJ)
- Porcos Raivosos/ Enraged Pigs (Isabel Penoni e Leonardo Sette – PE)

- Pra Eu Dormir Tranqüilo/ To Sleep Quietly (Juliana Rojas – SP)


Competitiva Baiana

- A Descoberta (Ernesto Molinero)
- Amém (Marcus Curvelus)
- Arremate (Rodrigo Luna)
- Desvelo (Clarissa Rebouças)
- Entre Passos (Elen Linth)
- Esc4escape (Alexandre Guena) 
- Isso Não é o Fim (João Gabriel)

- Joelma (Edson Bastos)

- O Cadeado (Leon Sampaio)

- O velho e os três meninos (Henrique Filho)
- Premonição (Pedro Abib)
- Rua dos Bobos (Ohana Almeida)  






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