Por João Paulo Barreto
Difícil tentar explicar o quão
gratificante é poder falar sobre a obra de Jorge Amado para adolescentes das
cidades do interior da Bahia, terra tão carente e desprovida de incentivos
literários. Melhor ainda é poder ilustrar essa mesma obra com os ótimos filmes
que foram feitos com base nos textos do gênio baiano. Com uma curadoria
organizada pela neta de Jorge, a cineasta Cecília Amado, esse projeto teve início
no dia 9 de outubro em Porto Seguro e se estenderá até o dia 10 de dezembro.
Nesses dois meses, serão visitadas 15 cidades da Bahia nas quais os filmes Capitães da Areia, Tieta do Agreste, Quincas
Berro D´Água, Dona Flor e Seus Dois Maridos e os documentários Jorge Amado e Jorjamado no Cinema, dirigidos por João Moreira Sales e Glauber
Rocha, respectivamente, serão exibidos. O
intuito é compor um diálogo acerca da identidade do povo brasileiro através das
ideias do escritor que sempre defendeu a miscigenação como a solução para o fim
do preconceito e do racismo.
Em Lençóis, no Centro de Cultura
Afrânio Peixoto, tive contato com adolescentes e adultos que, interessados em
se aprofundar um pouco mais na mitologia baiana proposta por Jorge, assistiram
ao longas Capitães da Areia, filme de
2011 dirigido por Cecília Amado, e Quincas
Berro D’Água, excelente adaptação dirigida pelo cineasta Sergio Machado e
estrelada por Paulo José, Frank Menezes, Luiz Miranda e Irandhir Santos. Além
desses dois longas, o documentário de João Moreira Sales fechou a programação
em Lençóis causando reflexão acerca da militância política do começo da
carreira de Jorge, quando este era vinculado ao partido comunista e quanto à
sua preocupação no que tange à identidade do povo brasileiro e suas mais variadas
etnias. Para Jorge, o racismo no Brasil só terminaria quando todos nós nos reconhecêssemos
como um povo miscigenado e não enxergássemos isso como um fator negativo, mas,
sim, como uma junção dos diversos pontos de qualidade que nos fazem uma nação.
Auditório do Centro de Cultura Afrânio Peixoto (Lençóis-BA) |
O documentário de João Moreira
Sales é, de fato, a mais importante das obras exibidas nessa mostra. Ao
ilustrar o pensamento retrogrado do começo do século XX, ocasião em que
intelectuais como Sylvio Romero, Nina Rodrigues e Tobias Barreto defendiam
abertamente a política de não miscigenação sob o pretexto absurdo de que a
mistura seria “um fator de degeneração”. Isso vindo de um professor de medicina
(Nina Rodrigues) cuja origem familiar era mestiça. A possibilidade de diálogo que
essa obra trouxe ao evento foi o ponto alto da noite, uma vez que a plateia,
composta em sua maioria por afrodescendentes, pôde perceber a importância da
valorização da sua identidade étnica e cultural, algo que Jorge Amado sempre
colocou como primordial em seus escritos.
Além desses fatores oriundos das questões
raciais, a fase comunista de Jorge pôde ser melhor aprofundada na conversa com
os presentes, buscando trazer para um papo mais acessível questões delicadas
como posturas políticas retrogradas oriundas de regimes militares. Sendo Amado um
stalinista durante seus primeiros anos como escritor, uma das melhores partes do
doc está no momento em que o escritor admite ter passado a renegar o partido
comunista quando descobriu as barbaridades do regime soviético. Fechando com a
frase “ideologia é uma merda”, Jorge torna clara sua nova postura em relação a
essa fase de sua vida.
Ao final, a mensagem de
valorização da obra desse baiano junto às novas gerações pôde ser passada. Se
apenas uma minoria presente na noite do dia 20 de outubro de 2012 percebeu
isso, já teremos cumprido nossa missão.
Agradeço ao caríssimo Aurélio Laborda Neto, cujo suporte e presença
local na produção do evento tornou tudo muito mais fácil.
Também meus agradecimentos a Caco Monteiro pela idealização e a João
Carlos Sampaio pelo convite.
Obrigado João, essa é a nossa luta.
ResponderExcluirE que essa luta continue, Aurélio. A causa é nobre! Abraço!
ExcluirCaro João Paulo, em primeiro lugar gostaria de agradecer a sua participaçnao no Projeto Jorge Cine Amado, e dizer que o seu texto reflete exatamente o nosso objetivo que é levar a discussão da relevancia da obra literária do Jorge Amado através da linguagem cinematográfica para uma platéia de adolescentes de cidades do inetrior da Bahia. Creio que o recado foi dado em Lençóis, como foi tambeem em Porto seguro e Itabuna, cidades onde a mostra passou. E vamos em frete. Grande abraço e obrigado mais uma vez! Caco Monteiro
ResponderExcluirObrigado, Caco. Bacana a experiência. Espero repeti-la em outros projetos. Até a próxima e um grande abraço!
ExcluirMuito bom, João... Adorei o depoimento, me deixa ainda mais ansiosa por minha vez... E Viva a Jorge!
ResponderExcluirMandinha, essa ansiedade eu estava sentindo desde Porto Seguro, quando assisti a palestra do João Carlos Sampaio. A partir dali, fiquei mais tranquilo quando percebi o formato de bate papo e interação com a plateia que poderia ser adotado.
ExcluirVocê vai arrasar!
Beijão e, sim, VIVA JORGE!