segunda-feira, 30 de julho de 2012

Katy Perry: Part of Me

(EUA, 2012) Direção: Dan Culforth e Jane Lipsitz. Com depoimentos de Katy Perry, Adele, Keith Hudson, Mary Hudson e outros.


Por João Paulo Barreto

Admito que ao entrar no cinema para a sessão de Part of Me, documentário que registrou a exaustiva turnê do fenômeno Katy Perry, só conhecia o hit I Kissed a Girl, onde a bela e talentosa cantora declara suas experiências com o mesmo sexo. Gosto da música. Havia ouvido uma versão acústica da canção e ao ver a carismática interprete e compositora constatei que talento e beleza podem vir no mesmo conjunto.

Em Part of Me, a canção é interpretada não em sua face unplugged, mas em uma que condiz bem com a imagem que a jovem passa para seu público. Repleto de cores, brilhos, repetidas trocas de figurino (até mesmo em cima do palco), dançarinos, purpurina e, inclusive, com direito a uma pessoa fantasiada de gato, a ambientação dos shows reflete o público em sua maioria. Composto majoritariamente por crianças e adolescentes, os fãs de Katy Perry participam do documentário em depoimentos que, de tão sinceros, chegam a ser constrangedores, como quando um garoto entrevistado afirma, aos 14 anos, que Perry mudou sua vida completamente.

Buscando sempre enfocar a cantora e sua relação carinhosa com os fãs, o documentário funciona como forma de causar ainda mais simpatia destes pela artista. Não por acaso, vê-se o esforço da equipe em agradar os fãs ao convidar diversos deles para subir ao palco. Além disso, Perry parece se esforçar para vincular sua imagem à de uma adolescente. Algo que não deve ser visto como um problema, apenas como uma ferramenta mercadológica. Assim, quando uma criança lhe pergunta sua idade e ela responde que tem 27, não é de todo surpreendente que o garotinho replique afirmando que ela parece ter 16. Ainda mais quando ela mesma afirma que não quer ter bebês agora pois ainda é um bebê. Crianças são sempre sinceras e falam sem pensar, afinal de contas.

Katy e sua relação com os fãs: imagem muito em trabalhada
A estrutura do documentário é construída de forma a seguir cronologicamente os shows da turnê mundial. Conta, claro, com a clichê cena onde a montagem acelerada da estrutura do palco é mostrada. Sobre a grandiosidade da equipe da cantora, interessante é o depoimento do seu agente, que compara a quantidade de caminhões que a atual turnê possui com o começo da carreira de Perry, quando seus shows costumavam ser mais modestos. É quando passamos a conhecer as origens da garota, com imagens de arquivo pessoal e depoimentos de  familiares.

O melhor deles é, de longe, o dos pais de Katy. Religiosos fervorosos, membros da igreja pentecostal americana (onde o pai de Kate é ministro), os dois aparecem desconfortáveis com o teor de algumas letras da filha. A mãe chega a afirmar que não gosta de I Kissed a Girl. Curioso é o momento em que ela fala que não quer a filha aparecendo com poucas roupas em público, algo que o pai corrobora pedindo calma à esposa e falando que a filha não aparecerá assim. Mas nada que a fortuna ganha pela jovem não os faça rever seus conceitos, obviamente.

Personagens interpretados pela cantora no palco e em clipes
Ao exibir os familiares de Perry, o filme acaba caindo em um falso e desnecessário drama que, ao funcionar inicialmente por trazer a bem vista face familiar da cantora, acaba por dar um tiro no próprio pé no momento em que é abordado o começo da carreira de Katy. Em uma cena um tanto constrangedora de se assistir, ela afirma que chegou a ligar para o irmão para pedir dinheiro, algo que este explica às câmeras que não pôde ajudar, pois na época não tinha dinheiro nem para si mesmo. Em qual igreja mamãe e papai estavam nessa ocasião?

Pecando por desenvolver demais o lado esposa da cantora ao enfatizar seu esforço em manter o casamento com o comediante Russel Brand (ela costumava interromper a turnê e viajar da Europa para os Estados Unidos apenas para vê-lo), uma vez que nenhum depoimento do ator sobre a versão do término do relacionamento ou até mesmo sobre sua relação com a carreira meteórica da esposa é inserido no longa. Ao final, quando vemos a cantora chorar deprimida no camarim antes do show em São Paulo, não fica difícil uma análise superficial e parcial sobre o seu ex-marido.

Única artista a emplacar cinco hits em primeiro lugar nas paradas (algo que o filme salienta bem ao afirmar nem Os Beatles ou Elvis conseguiram), Katy Perry é, de fato, um fenômeno. E seu filme reflete bem o oportunismo dos produtores em aproveitar o momento da cantora. E ao vender a imagem de nice girl em todo o longa, a produção mostra que, realmente, os tempos mudaram na música pop. Atitudes à la Axl Rose e Kurt Cobain saíram de moda. O que, em tempos tão violentos, não deixa de ser uma boa notícia.

Porém, quando os créditos finais sobem, a sensação de ter visto um longo episódio de Glee não é acidental. Poderia ser pior. Poderia ser um longo episódio de Rebelde.

Se bem que pensando agora...

(PS. Em diversos momentos da projeção, ao ver as roupas que Perry usava no palco, as chacretes vinham à mente. Opa, entreguei a idade... = )



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