(França, 2012) Direção: Gilles
Bourdos. Com Michel Bouquet, Christa
Theret, Vincent Rottiers, Thomas Doret.
Por João Paulo Barreto
Em Renoir, longa que lança luz no período final da vida do pintor francês,
o diretor Gilles Bourdos escolhe a exuberância da Riviera Francesa em 1915 para
ilustrar o calor e as cores das pinturas de um mestre. E que decisão acertada.
A fotografia de Mark Ping Bing Lee (o mesmo das cores quentes de Amor à Flor da Pele, de Wong Kar Wai)
cria um ambiente cuja tristeza da história não encontra ecos em suas imagens. A
ambientação do lugar é, na verdade, uma extensão das obras de Renoir, uma vez
que ele se tornou conhecido pela prioridade impressionista dada à forma, seja
essa a de um corpo feminino ou uma paisagem.
Abrindo mão do já combalido artifício
de utilizar diferentes paletas de cores para representar a tristeza ou a alegria
dos personagens, Bourdos cria um rico conflito de percepção no espectador.
Encantada por toda aquela beleza natural e inspiração do artista, a audiência
não possui como guia a decadência física do lugar para guiar sua percepção de
dor e tristeza. Todo o tormento e dor física trazidos pela terceira idade de
Renoir (que sofria de artrite, doença que lhe causava dores absurdas) acabam
por contrastar duramente com a beleza daquele ambiente, o que os torna ainda
mais impactantes.
Cores quentes e vivas em contraste com a tristeza fria dos personagens |
Preso em sua cadeira de rodas, o
artista (interpretado pelo veterano Michel Bouquet) acaba por se tornar
dependente de todos os cuidados das mulheres que vivem em sua propriedade. E a
sua amargura chega ao ápice por se perceber impedido de continuar seu trabalho.
Ao requisitar os serviços de uma modelo que viria a se tornar sua musa, o homem
encontra nesta uma fonte de desabafo. E é através dessa relação que ficamos
sabendo sobre suas mágoas para com a vida e arrependimentos para com a família.
Com dois de seus filhos marcados
pela guerra (um deles, aquele que viria a se tornar o renomado cineasta Jean
Renoir), o drama da vida do pintor centra-se na percepção do fim. Ele sabe que
seus dias estão se findando. E o que é mais relevante: ele sabe que apenas a
beleza de suas obras permanecerá. E essa consciência de que seu corpo efêmero
passará, mas não o que foi criado por ele, é o que o move nessa jornada final
de sofrimento físico. “A dor passa, a beleza permanece”, salienta o homem de mãos
deformadas a contrastar com a beleza da pele aveludada de sua modelo. Ao
observarmos a linda Christa Theret desnuda como a musa Andrée Heuschilig e o
resultado daquela inspiração ilustrado por pincéis, percebe-se o quão
verdadeira é esta declaração.
O mestre e sua musa |
E toda essa beleza é brindada
pela tocante trilha sonora de Alexandre Desplat, um dos mais prolíficos
compositores do cinema atual. O equilíbrio encontrado entre as imagens
fotografadas por Lee e a união destas com a partitura de Desplat eleva a
compreensão desta obra de uma forma cuja valorização dos momentos de tristeza
se mescla com a beleza das cores nas cenas criadas por Bourdos.
E a constatação é plena: a
beleza, de fato, permanece.
Belo texto, João! Dá uma vontade danada de ver o filme!
ResponderExcluirDesplat, André... Desplat. O homem inspira qualquer um. E, claro, Christa Theret... =D
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