Por João Paulo Barreto
Os seres que habitam o universo apresentado em Fogo, filme escrito e dirigido pela cineasta mexicana, Yulene Olaizola, ambicionam pouco na vida. Apenas o parco calor de dentro de seus lares, uma cerveja caseira e a esperança de que o inverno não seja tão rigoroso como definitivamente parece que será. Passam seus dias a caminhar atrás de matéria prima para alimentar seus fogões a lenha, a descascar batatas de qualidade duvidosa e a, em algo que parece ser um raro momento feliz, brincar com seus cães. É um filme que propõe ao espectador imaginar-se naquele mundo. E nesse viés, é muito bem sucedido.
As pessoas que habitam aquela ilha pertencente ao território do Canadá (e ironicamente batizada de Fogo), têm em seus dias apenas ciclos de sobrevivência e nostalgia. Ao iniciar a película, vemos um homem convocar as pessoas de porta em porta alertando-as sobre a última balsa a deixar o lugar. No decorrer dos breves 61 minutos de projeção, a determinação dos que decidem ficar admira quem assiste. Uns perguntam aos outros sobre a decisão de ficar, sobre a possibilidade de deixar a ilha, mas as respostas são sempre as mesmas.
Olhar melancólico: vitimas psicológicas e físicas do frio |
Sorrimos ao vê-los demonstrar tamanho amor e afeto pelos seus cães, pois sabemos que aquele tipo de calor é um dos poucos que eles podem possuir. Fogo nos faz notar que o homem pode ser mais um refém psicológico de seu ambiente do que um refém físico. Porém, ainda que mínimo, em suas lembranças pessoais, olhares melancólicos e carinhos dos bichos de estimação, apenas um pouco de aquecimento pode ser suficiente para fazê-los suportar aquele inverno rigoroso.
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