sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Blue Jasmine

(EUA, 2013) Direção: Woody Allen. Com Cate Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins, Andrew Dice Clay, Michael Stuhlbarg, Peter Sarsgaardg.



Por João Paulo Barreto

A tristeza de Blue Jasmine é comum a muito do que existe no mundo de aparências que muitas pessoas se esforçam em viver. A ilusão de achar que a felicidade está atrelada a objetos, luxo e glamour torna a busca por esses elementos como algo intrínseco à condição de uma suposta paz interior. Mas antes de levar esse texto para um manual de auto ajuda, é bom esclarecer que Blue Jasmine é uma obra original de Woody Allen, que, mesmo tendo possivelmente se inspirado em Tennessee Williams, apresenta uma história de derrocada humana que nos faz rir da desgraça alheia, mas que nos leva a fazer isso de maneira culpada, que mistura de forma amarga pena e regozijo pelo que se vê passar com aquela narcisista mulher.

A mulher em questão é Jasmine (ou como exibe sua identidade escondida, Jeanette), que viu sua fortuna ser perdida por Hal (Alec Baldwin), seu marido bígamo e trambiqueiro. Jasmine agora precisa deixar sua vida de glamour para trás, esquecer o orgulho e ir morar com a irmã em seu pequeno apartamento em San Francisco. Nessa readaptação, lá está a necessidade de negar aquela nova realidade, afirmando ser aquilo apenas uma fase, os planos utópicos que ela sabe que vai cumprir (abrir o próprio negócio de designer de interiores; voltar à faculdade; aprender a mexer em computadores) e, finalmente, o não reconhecimento de uma nova forma de recomeçar ao julgar inferior um pretendente que poderia lhe servir de equilíbrio.

Ostentação e auto-confiança: Jasmine quando a vida era bela

Ao pensar em Blue Jasmine, tudo que vem à mente é a imagem de Cate Blanchett de cabelos desgrenhados, olheiras gritantes e manchas de suor nas roupas. Ao montar o filme com sutis mudanças de flashbacks, Allen cria um quadro comparativo de antes e depois que fortalece ainda mais a contundente atuação da atriz. Seu sorriso frágil da fase milionária em detrimento aos olhares de soslaio, risada nervosa e postura insegura cria um modo de identificação da fase em que a personagem vive como, também, nos faz constatar o longo caminho que aquela derrocada a fez percorrer física e psicologicamente.

Ao perceber-se novamente entrando nos trilhos emocionais por conta do fato de (claro) ter conhecido um pretendente rico e disposto a bancá-la, a Jasmine atual, com sua fachada de aparências naturalmente desleixadas, passa a exibir um novo rótulo. É nesse momento que Blanchett mostra a força de sua atuação: mesmo já tendo conquistado seu novo pretendente e podendo retornar ao mundo de sorrisos de plástico, a mulher volta ao seu real eu no momento em que leva os sobrinhos para almoçar. Nesta cena em particular, ao se gabar perante um público que ela sabe como manipular, lá estão os olhos soturnos, a personalidade gananciosa e a aparência desleixada de sua real natureza interesseira.


Jasmine e sua verdadeira face: Blanchett brilhante

Allen soube criar um paralelo moral em seu roteiro ao desenvolver a história de Ginger (Sally Hawkins), a irmã modesta e de poucas ambições, mas que sabe reconhecer-se feliz quando isso realmente está acontecendo. A cena em que seu ex-marido, cuja derrocada financeira e consequente divórcio se deveu a um golpe de Hal, encontra Jasmine já de volta ao ambiente de ostentação que lhe é tão confortável, é a mais intensa do filme, permitindo que apenas uma frase a devolva ao seu baixo patamar moral.


Quando, em sua última cena, Jasmine senta-se em um banco de praça, desesperada e quase esquizofrênica em suas conversas consigo mesma, quase sentimos pena daquela mulher.

Quase. 

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