(EUA, 2013) Direção: Woody Allen. Com Cate
Blanchett, Alec Baldwin, Sally Hawkins, Andrew Dice Clay, Michael Stuhlbarg, Peter
Sarsgaardg.
Por João Paulo Barreto
A tristeza de Blue Jasmine é comum a muito do que
existe no mundo de aparências que muitas pessoas se esforçam em viver. A ilusão
de achar que a felicidade está atrelada a objetos, luxo e glamour torna a busca
por esses elementos como algo intrínseco à condição de uma suposta paz
interior. Mas antes de levar esse texto para um manual de auto ajuda, é bom
esclarecer que Blue Jasmine é uma
obra original de Woody Allen, que, mesmo tendo possivelmente se inspirado em
Tennessee Williams, apresenta uma história de derrocada humana que nos faz rir
da desgraça alheia, mas que nos leva a fazer isso de maneira culpada, que
mistura de forma amarga pena e regozijo pelo que se vê passar com aquela narcisista
mulher.
A mulher em questão é Jasmine (ou
como exibe sua identidade escondida, Jeanette), que viu sua fortuna ser perdida
por Hal (Alec Baldwin), seu marido bígamo e trambiqueiro. Jasmine agora precisa
deixar sua vida de glamour para trás, esquecer o orgulho e ir morar com a irmã
em seu pequeno apartamento em San Francisco. Nessa readaptação, lá está a
necessidade de negar aquela nova realidade, afirmando ser aquilo apenas uma
fase, os planos utópicos que ela sabe que vai cumprir (abrir o próprio negócio
de designer de interiores; voltar à faculdade; aprender a mexer em
computadores) e, finalmente, o não reconhecimento de uma nova forma de recomeçar
ao julgar inferior um pretendente que poderia lhe servir de equilíbrio.
Ostentação e auto-confiança: Jasmine quando a vida era bela |
Ao pensar em Blue Jasmine, tudo que vem à mente é a imagem de Cate Blanchett de
cabelos desgrenhados, olheiras gritantes e manchas de suor nas roupas. Ao
montar o filme com sutis mudanças de flashbacks, Allen cria um quadro
comparativo de antes e depois que fortalece ainda mais a contundente atuação da
atriz. Seu sorriso frágil da fase milionária em detrimento aos olhares de
soslaio, risada nervosa e postura insegura cria um modo de identificação da
fase em que a personagem vive como, também, nos faz constatar o longo caminho
que aquela derrocada a fez percorrer física e psicologicamente.
Ao perceber-se novamente entrando
nos trilhos emocionais por conta do fato de (claro) ter conhecido um
pretendente rico e disposto a bancá-la, a Jasmine atual, com sua fachada de aparências
naturalmente desleixadas, passa a exibir um novo rótulo. É nesse momento que
Blanchett mostra a força de sua atuação: mesmo já tendo conquistado seu novo
pretendente e podendo retornar ao mundo de sorrisos de plástico, a mulher volta
ao seu real eu no momento em que leva os sobrinhos para almoçar. Nesta cena em
particular, ao se gabar perante um público que ela sabe como manipular, lá estão
os olhos soturnos, a personalidade gananciosa e a aparência desleixada de sua
real natureza interesseira.
Jasmine e sua verdadeira face: Blanchett brilhante |
Allen soube criar um paralelo
moral em seu roteiro ao desenvolver a história de Ginger (Sally Hawkins), a
irmã modesta e de poucas ambições, mas que sabe reconhecer-se feliz quando isso
realmente está acontecendo. A cena em que seu ex-marido, cuja derrocada financeira
e consequente divórcio se deveu a um golpe de Hal, encontra Jasmine já de volta
ao ambiente de ostentação que lhe é tão confortável, é a mais intensa do filme,
permitindo que apenas uma frase a devolva ao seu baixo patamar moral.
Quando, em sua última cena,
Jasmine senta-se em um banco de praça, desesperada e quase esquizofrênica em
suas conversas consigo mesma, quase sentimos pena daquela mulher.
Quase.
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