(La Vie de Jésus, França, 1997) Direção:
Bruno Dumont. Com David Douche, Marjorie Cottreel,
Kader Chaatouf.
Por João Paulo Barreto
A referência inserida
no título do filme de estreia do cineasta francês, Bruno Dumont, não se faz de
modo explicito ou, poderiam afirmar alguns religiosos, leviano. A Vida
de Jesus é, na verdade, um filme acerca do martírio. Não um martírio
consciente e libertador como o exibido na história do revolucionário contada na
Bíblia, mas um martírio e autoflagelação que visam única e exclusivamente
substituir pela dor o espaço ocupado pela raiva e frustração.
Fred é um jovem
desempregado que abandonou a escola e vive com sua mãe, no sul da França. Passa
seus dias vazios a vagar pela cidade apostando corridas com seus amigos em motocicletas
baratas e roubadas tentando esquecer o fato de que é um epilético. Quando
acontece de ter um ataque da doença em frente à Marie, sua namorada nua, e/ou
em frente aos seus amigos na rua, constata ainda mais que pouco em sua vida faz
algum sentido. Vivê-la em seus dias de frio e tédio frustrante não é uma opção.
Fred e seus amigos: existências inúteis |
Fred vive a se
flagelar. Seja ao pilotar feito um suicida sua moto, ou quando causa
propositalmente acidentes que maculam seu corpo. A vida do jovem parece não
seguir um sentido comum. A única certeza que parece ter é a de que ama
Marie, mas até mesmo esta soa infantil, como fruto de algo a que ele quer se
agarrar como para não perder o único direcionamento que sua existência vazia
possui.
Bruno Dumont apresenta
em A Vida de Jesus uma obra sobre a desesperança. Uma história
em que a rotina de um mundo fútil (vide como os jovens se empolgam com manobras
arriscadas de um carro em via pública) e de busca de significados inúteis para
dias vazios maculam não somente o corpo de Fred, mas, também, sua mente. Nos
poucos momentos de paz interior, toca sons de pássaros para o que mantém em uma
gaiola. É um jovem em franca decadência que, a partir do sua ignorante
xenofobia e ciúmes doentios, cometerá um ato precipitado do qual não conseguirá
jamais escapar.
Ao final, ao vê-lo
deitado na vegetação suave de um campo, a percepção de seu arrependimento
torna-se palpável. Fred conseguiu causar a si mesmo um flagelo que não deixará
somente marcas cicatrizáveis, mas chagas que vão refletir em vidas alheias e
inocentes de seus atos.
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