sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Panorama 2012: Menino do Cinco


(Brasil, 2012) Direção Marcelo Matos e Wallace Nogueira. Com Thomas Vinicius de Oliveira, Emanuel de Sena, Fábio Costa, Jonas Laborda.



Por João Paulo Barreto

Trabalho de extrema delicadeza e crítica mordaz à sociedade excludente, Menino do Cinco, de Marcelo Matos e Wallace Nogueira, é um filme acerca da solidão e necessidade de afeto. Claro que há outros temas envolvidos no curta metragem baiano ganhador do festival de Gramado de 2012. Porém, essas questões, juntamente com as ricas metáforas sociais e reflexões que esse tema traz, são os pontos de maior destaque da eficiente história escrita por Matos.

Ligados pela perda de um cachorro, dois garotos, um branco de classe média, Ricardo, e um negro da periferia (que não possui nome, em mais um sutil recado do roteiro), lutam para ficar com aquele animalzinho que consideram sua mais valiosa posse. Enquanto vive em uma rotina sem amigos, brincando sempre sozinho, com um olhar melancólico, Ricardo, o menino do cinco do título, encontra o filhotinho no playground do prédio onde vive com o pai.

Em um momento repleto de simbolismo, os garotos de rua ocupam seu tempo pedindo trocados para os motoristas que estacionam em frente ao prédio. Ao colocar o cãozinho por um momento próximo à grade do prédio, o animal foge e adentra no gramado do lugar. Observem como o prédio está em nível superior ao da rua. Nada representa melhor a diferença entre aqueles garotos. O que brinca no gramado do prédio, solitário, criando as próprias distrações para poder se divertir e o grupo de garotos de rua, que não têm o mesmo conforto e segurança de Ricardo, mas têm a amizade um do outro.

No cãozinho, ele encontra o sorriso perdido. Em um universo onde não há a presença feminina de uma mãe para mimá-lo, apenas seu pai sempre ocupado com o trabalho e, aparentemente irredutível quanto a não permitir animais no apartamento, Ricardo se diverte sozinho com bonecos e brincadeiras inventadas. O cachorro representa quase que seu único elo com uma infância divertida e calorosa que ele parece não conhecer. Nesse sentido, ver os meninos de rua brincarem entre si, mesmo sem o conforto que o garoto do condomínio possui, faz o espectador perceber o quão deprimente é a sua vida sem o animalzinho de estimação que pareceu surgir para lhe tirar daquela letargia.

Como percebemos no último momento do curta, abrir mão daquela única alegria será algo que ele não estará disposto a fazer de modo natural. Menino do Cinco é um filme que ecoa em sua reflexão muito tempo após você se desligar dele. 

E não é disso que é feito o bom cinema?

Um comentário:

  1. que engraçado ninguém percebeu que ricardo tem fortes traços de psicopatia, não tem amigos, é cruel com bonecos, foge ou não suporta ser contrariado e finalmente crueldade.

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