Por João Paulo Barreto
Fotos: Lara Carvalho
Cláudio Marques, um dos curadores e idealizadores do Cine
Clube Glauber Rocha, postou em sua página no Facebook que fazia tempo que não via tanta gente esperando o cinema abrir para comprar ingresso no Espaço Itaú de Cinema, na Praça Castro Alves. A última terça-feira, dia 06 de maio, foi, de fato, um
dia especial. O público precisava prestigiar. E assim foi. Com menos de duas
horas, ingressos esgotados e a certeza de que aquela seria uma noite memorável.
Não somente por causa da exibição de Laranja
Mecânica, do Stanley Kubrick, mas, também, pela homenagem que seria feita
ao saudoso João Carlos Sampaio, crítico de cinema baiano que falecera quatro
dias antes. O debate que iria acontecer após a sessão teria sua mediação e, com
certeza, seria brilhante com sua participação.
Antes de começar a sessão, dona Antonilda, mãe de João,
teceu algumas palavras emocionadas para a plateia na qual muitos não a conheciam,
mas tiveram a honra de ler as críticas cinematográficas de seu
filho. E dona Antonilda falou bem. Lembrou a paixão de João pelo cinema baiano
e nacional. Falou da sua atuação extremamente importante como fomentador de
discussões acerca desse cinema. “Meu filho levou 44 anos ao nosso lado e deixou
um legado que muitos homens que vivem 100 anos não deixam” , afirmou de forma
precisa a professora que nos presenteou João Carlos Sampaio. Dona Antonilda
lembrou, também, do amor de João pela sua Aratuípe, cidade onde nascera. O
principado de Aratuípe City, como Janjão carinhosamente se referia, ficou órfão
da mesma forma como todos os seus amigos e leitores ficaram.
D. Antonilda se emociona ao lembrar de João Carlos Sampaio |
E lá começava Laranja
Mecânica, com as cores primárias explodindo na tela da sala 1 do Espaço Itaú
de Cinema – Glauber Rocha, o mesmo local onde outro Cine Clube, este organizado
pelo mestre Walter da Silveira, quando o cinema ainda se chamava O Guarani,
ajudou a criar uma geração de cinéfilos, cineastas e intelectuais na segunda
metade do século passado. Ver os cílios postiços do Alex de Malcolm McDowell em
toda a sua magnitude, na cópia digital 2K, restaurada e aquele som acachapante
foi demais para o cinéfilo aqui. Naquele momento, olhei para o amigo Rafael
Carvalho, sentado ao lado, e vi que ele tinha o mesmo sorriso no rosto. Como não se sentir contagiado? Após a
mostra Alfred Hitchcock no Panorama Internacional Coisa de Cinema 2013, a
cinefilia baiana tinha sua paixão pela sétima arte mais uma vez retribuída.
Sala lotada: os curadores Cláudio Marques e Marília Hughes apresentam o evento |
O filme, mais atual do que nunca em uma Salvador ultraviolenta, como lembrou Cláudio em seu texto de apresentação, teve aquele frescor que, mesmo após as várias vezes assistido em VHS e DVD,
parecia algo inédito. O contra luz de Kubrick em suas cenas de espancamento, as
semelhanças de takes com O Iluminado, outra
obra-prima que o diretor realizaria nove anos depois (o enquadramento no rosto de Alex durante seu “transe
beethoveniano” nos fazendo lembrar do transe do garoto Danny Torrance; o contre plongée do
escritor paralítico ao reconhecer a música de Alex remetendo ao do escritor vivido por Jack
Nicholson quando este é preso na dispensa do Hotel Overlook), enfim, tudo era
motivo para fazer sorrisos brotarem de modo surpreendentemente recompensador.
Fila de acesso à sala 1: público comparecendo em peso |
Uma noite para se lembrar e ansiar pelas próximas já
agendadas: dia 20 de maio, com Era
uma vez em Tokio (1972), do cineasta japonês Yasujiro Ozu, e dia 03 de
junho, com Hiroshima, Meu Amor (1959),
do cineasta francês Alain Resnais. De um total de 20 sessões quinzenais já
programadas, com essas três iniciais, o Cineclube Glauber Rocha já se firma como
uma das melhores notícias que a cinefilia da castigada soteropolis poderia ter
recebido. Meu muito obrigado a Cláudio Marques, Marília Hughes, Taís Bichara e Lara
Carvalho pela idealização e execução deste evento imprescindível.
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