(X-Men: Days of Future Past) Direção: Bryan Singer. Com Hugh Jackman, James McAvoy,
Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Nicholas Hoult, Ian McKellen, Patrick
Stewart, Halle Berry.
Por João Paulo Barreto
Dentro de um clima soturno,
caótico e desesperador, X-Men – Dias de
um Futuro Esquecido diz a que veio já em seus minutos iniciais, quando
vemos todos os mutantes remanescentes de um universo pós-apocalíptico morrerem
de forma hedionda nas mãos dos sentinelas, máquinas humanoides criadas para
identificá-los e exterminá-los. Ok, eu sei que soou estranho. Mas, não se
preocupe. Isso não é um spoiler.
Nesse quinto filme centrado na
equipe mutante, o diretor Bryan Singer retorna ao posto que comandou muito bem
nos dois primeiros longas dos heróis e se apresenta como uma grata surpresa ao
conseguir superar todos exemplares da franquia. Mais uma vez focando sua premissa
na mensagem principal proposta pelo grupo da Marvel Comics (o preconceito, o
medo daquilo que é diferente e a consequente guerra entre mutantes e humanos), o roteiro de
Simon Kinberg, que já havia escrito o terceiro filme, acerta ao se aprofundar
nesta questão de forma mais dramática e violenta.
Justamente por poder contar com a
vantagem de ter sua base na viagem do tempo, o roteiro de Dias de um Futuro Esquecido toma liberdades de criação e
modificações claramente inseridas para que uma nova franquia dos X-Men possa
ser estabelecida para a geração atual (pois é, já faz quatorze anos desde o primeiro
filme). Sendo assim, quando a mente de Logan (Hugh Jackman, provando ser sempre
capaz de voltar a Wolverine sem ficar preso ao personagem), retorna ao passado
para impedir que Mistica (Jennifer Lawrence) assassine o criador dos sentinelas,
Dr. Bolivar Trask (Peter Dinklage), evento que os levaria para a era
pós-apocalíptica citada, toda a trama terá como propósito a criação de uma nova
base no universo cinematográfico mutante.
Bolivar Trask (Peter Dinklage): visionário cientista anti-mutantes |
Na busca por cumprir sua missão,
Logan precisa convencer o jovem e desiludido Professor Xavier (James McAvoy) a
acreditar que foi enviado por sua versão do futuro e a ajudá-lo na libertação
do jovem Magneto (Michael Fassbender). Utilizando pouco os personagens mais
velhos interpretados por Patrick Stewart e Ian McKellen, e focando sua ação em
suas versões jovens (já nos avisando de quem será a nova franquia), o longa relega
todos os acontecimentos no futuro apocalíptico a um óbvio segundo plano. A
ideia é fazer os espectadores se habituarem às imagens de Fassbender e McAvoy
nos papéis.
A vantagem disto é que a trama que se passa
nos anos 1970 flui muito bem, apesar de ter as questões suscitadas pelo tema
viagem no tempo a todo tempo (!!) levantadas pelos mais atentos. Mas com uma
reconstrução de época impecável e uma liberdade de utilização da História muito
bem aproveitada (a inserção de Richard Nixon é uma ótima continuidade à trama
da Baía dos Porcos utilizada em First
Class), este exemplar mutante se torna um interessante exercício de
adaptação do roteiro a fatos e personagens reais. Além, claro, de brincar com
uma época onde a liberdade de expressão andava mais em voga, refletindo nas
roupas e nas atitudes. O momento em que um Xavier de cabelos longos pergunta se
Logan tomou LSD já paga o filme...
Recriação de época muito bem aplicada nos figurinos dos anos 1970 |
Inserindo os elementos do
universo Marvel para os fãs iniciados nos quadrinhos de forma sutil e hilária
(a fala em que o mutante com supervelocidade, Mercúrio, afirma que sua mãe
namorou um cara com o mesmo poder de Magneto é única), Dias de um Futuro Esquecido não se mantém exclusivo em suas
referências somente aos leitores. Afinal, o próprio Singer assumiu não ser um
colecionador de quadrinhos quando foi escalado para dirigir o primeiro filme.
Sendo assim, mesmo baseado em uma história das lendas das HQs Chris Claremont e
John Byrne, o filme não tenta ser voltado apenas para fãs leitores, mesmo que acabe
inserindo personagens sem um desenvolvimento. Dentre eles, o mutante Bishop (Omar Sy),
que, junto com alguns pertencentes ao arco do futuro, como Apache e Blink, aparecem em cena quase
como figurantes e reconhecíveis somente para os leitores.
Com essa questão de desenvolvimento
dos personagens à parte, algo que aconteceu, também, no terceiro exemplar da
franquia, cabe a Dias de um Futuro
Esquecido centrar-se nas excelentes sequências visuais. Nesta, estão
incluídas um resgate de Magneto de sua prisão no Pentágono até a utilização de
todo um anel superior de um estádio como campo de proteção em um atentado
contra políticos (uma boa solução para os elefantes brancos que nossa copa vai
deixar. Divago...).
Como leitor de quadrinhos,
preciso dizer que a inserção dos sentinelas (já vislumbrados em O Confronto Final), foi um momento de regozijo.
Não somente pela precisa liberdade de adaptação que o filme toma no que se
refere à suas habilidades (o modo como os futuristas se adéquam aos poderes
mutantes é impressionante), mas, também, por criar uma rima visual interessante
quando os comparamos em suas versões protótipo, semelhantes aos dos quadrinhos,
àquelas em ação no futuro. Sem contar o fato de que, em termos de violência, o
avanço apresentado aqui é imenso. Empalações e decapitações em filme para
adolescente ver? Hummm, ok. Aprovado.
Violência bem enquadrada: Sentinelas mostrando a que vieram |
Não somente no que tange aos
caçadores de mutantes, o filme tem um cuidado singular na recriação tecnológica,
comparando as duas épocas em que se passa. Os monitores e câmeras de vigilância
retro do Pentágono em comparação com os equipamentos vistos no futuro criam um equilíbrio
pertinente na reconstrução de época. O único choque neste sentido está em ver
uma tecnologia muito mais avançada no porão da Mansão X, mas isso é aquilo que talvez
possamos chamar de liberdade criativa e suspensão da descrença.
Fica a torcida para que a mesma
liberdade criativa que foi aplicada na recriação de um universo que levou três
filmes para ser inserido funcione nos novos exemplares. Observando o fato de
que cena final envolvendo o resgate de Logan derruba por terra todo o
desenvolvimento visto em X2, é perceptível
a abertura de possibilidades de vermos, finalmente, uma adaptação real do arco Arma X, e não aquele desastre que Wolverine Origens tentou nos enfiar
goela abaixo.
Além disso, com o título Apocalypse já apresentado para um novo
filme e a cena pós-créditos deste confirmando isso, o universo mutante no
cinema tem tudo para manter uma expansão positiva para agradar leitores de
quadrinhos e não iniciados.
E não é disso que a proposta dos
X-Men trata? Equilíbrio pacífico entre as partes? Como diria um dos criadores
dos mutantes, Excelsior!
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