domingo, 8 de janeiro de 2012

Um Animal, Os Animais

(Un Animal, Des Animales, França, 1996) Direção: Nicolas Philibert


Com estrutura bastante semelhante ao Cidade Louvre, seu documentário realizado seis anos antes, este Um animal, Os animais, filme de Nicolas Philibert apresentado no segundo dia da Mostra em homenagem ao diretor francês na Sala Walter da Silveira, traz uma visão de outro museu, dessa vez o de História Natural, em Paris.

Local onde são exibidas diversas espécies fauna mundial, sejam elas empalhadas, modelos em réplicas sintéticas e animais pré-históricos em tamanho real, o Museu Nacional de História Natural de Paris permaneceu fechado desde 1965. Passando por um período de renovação entre os anos de 1991 e 1994, teve as portas abertas para a lente do diretor Nicolas Philibert, que teve liberdade para documentar todo o processo de recuperação do acervo, registrando a recriação de espécies raras a partir do cuidado dos profissionais que ali trabalham.

Apesar de manter uma estrutura praticamente idêntica ao de Cidade Louvre, dessa vez Philibert preferiu valorizar mais a exibição do acervo do local e menos o quadro profissional do museu, como foi visto no documentário sobre o Louvre. No entanto, ainda assim, o diretor traz ao conhecimento do espectador uma preocupação por parte dos museólogos em manter uma fiel adaptação do habitat natural dos animais que impressiona pelos mínimos detalhes da recriação. É o que se percebe no momento em que maquetes são produzidas para ilustrar de modo exato onde cada animal deverá ficar. Há uma atenção voltada até mesmo para os insetos, os quais são inseridos no local de modo planejado e de acordo com pesquisas feitas do ambiente natural da fauna e flora.

Em certo momento do filme, dois museólogos discutem a quantidade de borboletas que deverá ser inserida na representação da floresta amazônica no museu. O número de 500 exemplares espanta até mesmo um deles e deixa claro a fidelidade com que a equipe se preocupa em recriar os ambientes. E não somente estes possuem uma fidelidade notável com os naturais, mas os próprios animais são exibidos em uma linha de montagem que impressiona pelo modo como o resultado final se assemelha à visão das espécies vivas, ainda mais quando inserida a iluminação especial dos ambientes do museu. Valoriza-os ainda mais os diversos takes que Philibert faz das expressões estáticas das réplicas dos animais, que parecem observar todo aquele processo estranhando o local onde agora “vivem”.

Ao final dos breves 57 minutos de projeção e com as semelhanças do que acabamos de ver com o outro trabalho já citado do diretor, o documentário acaba por salientar uma admirável importância que a França dá à preservação da História do mundo, seja através das obras de artes criadas pelos homens ou pelas representações de animais que eles mesmos podem ter ajudado a destruir.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Cavalo de Guerra

(War Horse, EUA, 2011) Direção Steven Spielberg. Com Jeremy Irvine, Emily Watson, Peter Mullan, David Thewlis, Tom Hiddleston, Celine Buckens.



Há certo simbolismo relacionando equinos a comportamentos de bravura, fidelidade e beleza no cinema. São vários os filmes que abordam essa temática. Só na última década, houve dois bons longas seguindo esse viés: Seabiscuit, com Tobey Maguire no papel de um jóquei deficiente visual e Mar de Fogo (em uma tradução enigmática para Hidalgo, nome do cavalo montado por Viggo Mortensen na aventura sobre uma corrida nas areias escaldantes da Arábia). Antes destes, O Corcel Negro, em 1979, já havia demonstrado a coragem desses animais de forma poética e lírica.

Poesia e lirismo definem bem o novo trabalho de Steven Spielberg. Poesia, lirismo e melodrama, corrijo. Desde Amistad que o diretor não investia de forma tão direta no apelo emocional de um longa. Talvez em Resgate do Soldado Ryan pode-se afirmar que o melodrama foi dosado pelo excesso de patriotismo. Mas como este novo filme se passa no velho mundo, não houve como o diretor investir em flâmulas patrióticas de modo tão escancarado como na obra protagonizada por Tom Hanks.

Cavalo de Guerra conta a saga de Joey, um potro que, desde o primeiro momento de vida, é observado e amado pelo jovem Albert Narracott (Jeremy Irvine), um humilde filho de agricultor da Inglaterra pré Primeira Guerra Mundial. Após adquirir o animal em um leilão feito na base do orgulho e inimizade entre senhorio e locatário, o pai de Albert, Ted (Peter Mullan), acaba arrematando o animal apenas por capricho, uma vez que ele não queria perder a aposta de compra para Lyons (David Thewlis), o homem de quem ele aluga a casa e as terras de onde tira sua subsistência. 

Albert e seu amigo Joey: amizade que sobreviverá à Guerra
Surpreso e feliz com a atitude do pai, Albert promete que treinará o pequeno cavalo para que ele consiga arar as terras. Algo que todos duvidam, uma vez que o animal não aparenta ter o porte necessário para tamanho esforço. Eficaz o modo como o diretor opta por exibir Joey ao lado de um garanhão puro sangue que parece ter o dobro do seu tamanho. Obviamente que nós, como espectadores, sabemos que o bicho será capaz de fazer qualquer coisa que seu jovem dono queira. No entanto, a cena em que o animal demonstra seu valor no trabalho de arar as terras consegue captar a emoção necessária e, claro, manipulada por Steven Spielberg. Nesse momento, sabemos que o drama em torno das dificuldades pelas quais Joey passará e superará vai ser a força motriz do longa. Todos os elementos estão ali presentes. A trilha sonora inspirada de John Williams, a fotografia belíssima de Janusz Kaminski (ambos parceiros contínuos de Spielberg) e, claro, toda a vontade de fazer o espectador chorar que o diretor possui.

Mas a trama não gira em torno da vida rural de Joey. Logo, assim que é declara a guerra entre Inglaterra e a Alemanha, os britânicos passaram a investir pesado no esforço bélico. As tropas de cavalaria eram um dos eixos de batalha ingleses. Percebendo-se sem condições de se manter nas terras alugadas após perder toda uma colheita, Ted decide vender o cavalo do filho para o exército. O que, claro, vai gerar no rapaz toda a indignação e a revelação do final do filme na frase “nos encontraremos novamente”, afinal, a intenção de Spielberg é justamente essa: preparar todo o terreno através de altas doses de drama manipulador para no, no fechamento da trama, entregar o que todo mundo vai querer ver em um típico final feliz.

Não que isso seja um problema. Afinal, a proposta do filme é justamente essa. Apresentar um herói que cativa todas as platéias (quem não se encanta com cavalos heróis em fazendas?) Aliás, a dos Narracott lembrou-me a de Babe- Um porquinho atrapalhado, por conta do apelo cômico que o diretor inventou ao usar a figura de um ganso que ataca visitantes, se esconde da chuva e observa o jovem Albert conversar com o cavalo. Se já sabemos que no final veremos o jovem feliz com seu amigo na fazenda, a solução é observarmos com curiosidade tudo o que acontecerá no decorrer das quase três horas de projeção. A saga de Joey na Primeira Guerra Mundial serve como fio condutor para apresentação de diversos personagens que, apesar de não serem desenvolvidos pelo roteiro, apresentam-se como alavancas para a trajetória do cavalo ao encontro de seu antigo dono no final do filme (friso: não é novidade saber como filme acabará).

Joey é adotado pela garotinha francesa, Emilie 
Deste modo, conhecemos sempre pessoas de boa índole no decorrer da temporada de Joey como parte do exército inglês. A começar pelo Capitão Nicholls (Tom Hiddleston), que acolhe de modo benevolente o animal, adotando-o como sua montaria oficial e prometendo ao garoto tomar conta dele. Os roteiristas Richard Curtis (responsável pelo ótimo Notting Hill) e Lee Hall (que já tinha experiência em dramas com Billy Elliot) inserem os personagens que entram na vida de Joey de modo a utilizá-los apenas como ilustração, sem a necessidade de desenvolvê-los. Isso acaba, invariavelmente, tornando-os unidimensionais gerando um incômodo por conhecermos somente uma face deles, aquela que o diretor quer exibir de forma exageradamente maniqueísta.

E serão vários, como disse antes. Desde os irmãos alemães, desertores do exército, e que fogem com Joey, passando pela órfã garotinha francesa, neta do fazendeiro fabricante de geléia de morango. De modo óbvio e preguiçoso, ela é inserida na trama pelos roteiristas como uma criança que, por alguma razão não revelada, precisa tomar um remédio de gosto amargo e que, durante a visita do exército francês à fazenda em busca de mantimentos, é chamada de “garota doente” de modo constrangedoramente expositivo. Outro ponto que demonstra um erro crasso da produção é o fato de todos os personagens, sejam eles franceses ou alemães, utilizarem o inglês como língua principal nos diálogos com seus pares. Uma pena que toda a preguiça estadunidense em ler legendas tenha adicionado mais esse critério negativo às incoerências gritantes que vários momentos de Cavalo de Guerra trazem.

Em um belo momentos do longa, Joey foge dos horrores da guerra
Apesar do fiapo de história e do desenvolvimento mal executado por Spielberg, Cavalo de Guerra possui, em seus aspectos técnicos, triunfos esplendidos. É o caso da bela elipse feita na fazenda dos Narracott, utilizando uma concha coque que a personagem de Emily Watson costura e a vista aérea do campo arado por Albert e Joey. Outra é a cena onde Joey foge do exército francês e cavalga de forma insana por sobre e entre as trincheiras, até ser detido pelos arames farpados em uma linda e chocante sequência. A fotografia de Janusz Kaminski atrelada aos efeitos sonoros e a montagem acelerada de Michael Kahn, outro colaborador costumeiro do diretor, junto, claro, aos momentos de altas nuances musicais de John Williams, faz desse um dos grandes momentos do longa. Outro momento é a cena final, onde Kaminski cria uma lindíssima ambientação dourada usando o pôr-do-sol. Uma cena que me fez lembrar várias tomadas do velho oeste americano, feitas por John Ford.

Uma pena que a história não soe tão natural, uma vez que todo o apelo dramático de Spielberg sobrepõe o bom senso da obra, tornando um exemplo de filme manipulador de emoções que, apesar de fortes em alguns momentos, soam maniqueístas ao extremo. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Cidade Louvre

(La Ville Louvre, França, 1990) Direção: Nicolas Philibert.



Primeiro documentário da Mostra Nicolas Philibert, promovida pela Sala Walter da Silveira, Cidade Louvre apresenta o grandioso museu parisiense fora de sua pompa externa, mas absorto em seu grandioso acervo. O filme de Philibert se preocupa em exibir ao espectador como funciona um dos maiores museus do mundo. Dono de uma coleção de peças que compõe parte da história da humanidade, o Louvre é apresentado pela lente do diretor a partir do está por trás de sua estrutura física, focando no seu lado organizacional.

Fechado para reforma em 1990, o museu abriu as portas para a equipe do cineasta e exibiu o que acontece com um local como aquele quando o público, sua principal razão de existir, não está mais presente. Philibert, de modo inteligente, não utiliza trilha sonora durante boa parte do filme. Apenas o som ambiente, diegético, do lugar. Dessa forma, consegue construir uma ambientação eficaz na ideia de demonstrar a grandiosidade do espaço. Afinal, são milhares de metros quadrados em vários subsolos. O som que ecoa no lugar, a partir do cuidadoso transporte de imensas telas, demonstra a dimensão daquele museu. O mesmo se dá quando ouvimos as pinceladas dos restauradores nas obras, que, utilizando uma substância para dar brilho às imagens, passam suavemente os pinceis por sobre aquelas superfícies antiquíssimas com um apego e esmero palpáveis.

Esmero no trabalho: consciência da importância da preservação de um patrimônio

Cidade Louvre apresenta-se como uma colagem de momentos na rotina dos funcionários do museu sem necessidade de seguir uma narrativa linear. O filme demonstra como cada peça humana no lugar o mantém em funcionamento. Treinamentos para brigadistas em caso de incêndio; a necessidade dos seguranças usarem terno e gravata mesmo no período em que o museu está fechado; introdução a primeiros socorros; até mesmo a medição do grau de acústica dos ambientes onde as obras de arte ficam. Cada detalhe é levado como ponto de suma importância pela equipe que administra o lugar. E desse modo, cada função apresentada pelo diretor traz um equilíbrio ao todo que mantém a plenitude do museu.

Essas pessoas são demonstradas por Philibert de uma forma que sentimos o orgulho que eles possuem por fazer parte daquela equipe de profissionais. Em cada momento, acompanhamos uma ação dos funcionários e a forma como Philibert demonstra suas funções leva o espectador a perceber como cada um deles possui uma importância única na estrutura do lugar. Desde as pessoas que recolhem com todo apreço os fragmentos que caem das bordas das telas que são desenroladas para serem restauradas, sabendo que mesmo aqueles pedaços perdidos possuem um valor inestimável e merecem ser conservados, até os cozinheiros responsáveis pelo refeitório do lugar, todos os funcionários são exibidos em seu dia a dia de modo a ilustrar como aquele conjunto de pessoas torna o Louvre o símbolo de preservação artística  que é.

Dedicação e apuro no cuidado com as obras

O documentário segue uma estrutura que foge dos padrões “cabeças falantes” que esse tipo de filme poderia possuir. Ele não foca em depoimentos dados à câmera. O diretor prefere se inserir naquele universo de modo incógnito. Tudo que ele observa é o que nós também observamos. Cada obra de arte é trazida à lente de Philibert junto com a surpresa do espectador em observar aqueles objetos raríssimos. Quando surge em quadro a imagem da Monalisa, separada por uma parede de vidro sendo polida, a ideia de tesouro cultural é claramente exibida pelo cineasta.

Há um cuidado por parte dos organizadores do museu em exibir todas as obras de arte. “Nós não queremos ficar somente nas óbvias, que vão exigir do turista pouco estímulo intelectual. Queremos exibir todo o acervo”, explica a um colega um dos curadores do Louvre. É o tipo de declaração que denota a valorização daquele profissional em enxergar-se como peça importante na divulgação da cultura. Algo que Nicolas Philibert demonstrou perfeitamente ao idealizar esse projeto.


terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Dorminhoco

(Sleeper, EUA, 1973) Direção: Woody Allen. Com Woody Allen, Diane Keaton, John Beck, Don Keefer.


Sexto filme da carreira de Woody Allen, Dorminhoco (1973) o diretor ainda mantinha uma veia cômica escrachada e pastelão, algo que, com o passar dos anos, foi ficando mais sutil em sua filmografia. Neste ainda vemos um modo de fazer humor mais galgado na presença física de Allen, que sabe utilizar sua hilária aparência para fazer rir, além de abusar das gags clássicas como a de lambuzar rostos alheios ou mastigar inesperados objetos, como uma luva cirúrgica, tudo, claro, ao som do típico jazz preferido do cineasta.

Woody interpreta, como de hábito, a si mesmo. Ele é Miles Monroe, um tocador de clarinete que acorda 200 anos no futuro após ser congelado em 1973 depois de visitar o médico por conta de uma úlcera (!). Na nova realidade, muitos dos valores culturais do século XX caem por terra seguindo a óptica hilária do diretor. No café da manhã, ele pede cereal e mel, o que gera estranhamento nos médicos, uma vez que, no futuro, gordura pesada, bifes, tortas e calda de chocolate são os alimentos saudáveis. Em certo momento, um médico pede para ele fumar um cigarro dizendo que o tabaco lhe fará bem aos pulmões.

Miles foi despertado de modo ilegal pelos médicos, que temem uma represália do atual governo. Se forem pegos, serão destruídos. O cérebro de Miles (“Meu segundo órgão favorito”, como ele clama) será simplificado eletronicamente. Os rebeldes que resistem são exterminados pelo bem do governo. O que leva a mais uma alfinetada de Allen que afirma que o governo deles é pior que o da Califórnia.  Deste modo, resta aos revolucionários esconder Miles para que as autoridades não o capturem.



Woody apresenta um futuro que, apesar de apocalíptico (uma bomba atômica explodiu em solo americano) não faz jus à imagem pregada pelo cinema. Talvez pela proximidade dos lançamentos, o futuro de Allen remeta bastante ao de Laranja Mecânica, lançado dois anos antes, com suas cores brancas em excesso e aparência límpida em destaque. A direção de arte utiliza amplos espaços abertos de modo a remeter justamente a esse aspecto clean futurista.

Tendo que fugir das autoridades, Miles se disfarça de mordomo biônico, um item bem comum nas casas das altas classes do futuro. A cena em que ele aparece com o aspecto robótico, mas ainda com os óculos característicos de Woody é clássica pelo seu non sense. Vestido de robô, Miles vai parar na casa da dondoca Luna Schlosser (Diane Keaton, na sua primeira atuação sob a tutela do diretor), onde acaba “fumando” o equivalente ao cigarro de maconha no futuro: uma esfera prateada na qual basta tocar para sentir o efeito alucinógeno. Localizado pelas autoridades, Miles foge levando consigo a anfitriã Luna que é convencida pelo atrapalhado dorminhoco a se juntar à revolução na tentativa de destruir o governo despótico.


Apesar de se passar no futuro, todo o filme funciona como uma sátira aos idos do século XX. Allen aproveita cada diálogo para dissecar de forma irônica vários aspectos da história, como na cena em que um historiador pede para que ele identifique certos personagens históricos nas fotos que lhe são apresentadas e ele define cada um ao seu bel-prazer, destilando a ironia habitual, como quando diz que Bela Lugosi, o eterno Drácula, foi prefeito de Nova York e, por isso, ganhou aquela aparência; ou, quando arguido sobre quem era Joseph Stalin, ele o define como um comunista de bigode feio e maus hábitos. Além disso, em uma referência cínica ao escritor Norman Mailer, premiado duas vezes com o Pulitzer, Allen afirma que o ego do jornalista foi doado para pesquisas na Faculdade de Medicina de Harvard.

O Dorminhoco equilibra bem a comédia física, centrada na presença atrapalhada de Miles (observe a cena em que ele escorrega diversas vezes em cascas de banana gigantes), com a de diálogos afiados, como quando o herói encontra um fusca de 200 anos de idade e, ao perceber que o veículo ainda funciona, diz que eles realmente construíam essas coisas para durar. No pára-choque do fusca, um adesivo da Associação Nacional de Rifles, que Miles afirma ser uma organização que armava criminosos para atirarem em cidadãos. Mais uma das tiradas pontiagudas de Allen contra a conservadora sociedade estadunidense.

Uma pena que, no ato final, o longa perca força, uma vez que a química entre Allen e Keaton aqui não funciona muito bem e o diretor prefira investir mais nas gags visuais (que acabam cansando após um tempo) do que nos ácidos diálogos, a verdadeira essência do filme. 

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Match Point

(Idem, Inglaterra, 2005) Direção: Woody Allen. Com: Jonathan Rhys-Meyers, Scarlett Johansson, Emily Mortimer, Brian Cox, Matthew Goode, Penelope Wilton.



Tido pelo próprio diretor como sendo seu melhor trabalho, Match Point, de Woody Allen, pode não ser, realmente, o maior êxito cinematográfico do cineasta americano, mas é o mais conciso e surpreendente. Narra a história de Chris Wilton (Rhys-Meyers), um fracassado jogador profissional de tênis que decide tentar a vida dando aulas do esporte em um sofisticado clube londrino. Frequentado pela alta sociedade inglesa, o lugar é o local perfeito para Wilton conseguir sua almejada chance de mudar de vida: ele é um golpista que pretende se infiltrar entre os ricos para, assim, conseguir deixar a vida pobre conquistando alguma herdeira milionária.

Um dos melhores personagens já criados por Woody Allen, Chris Wilton é apresentado no longa não como um calculista disposto a subir na vida de qualquer forma. O diretor prefere exibi-lo de forma natural, galgando seus passos de ascensão e mostrando seus interesses não de modo vilanesco, mas, apenas, ambicioso. Algo típico e razoável para qualquer pessoa que tenta a vida em outro país, afinal, Wilton vem da Irlanda, país cuja população não possui a melhor das relações com os londrinos.  Desse modo, mesmo percebendo as atitudes do personagem, o espectador não o antipatiza justamente pelo fato de Allen não o classificar de modo caricato, como sendo alguém sem escrúpulos que apenas quer se dar bem na vida.

Sendo assim, o inicialmente ambicioso (e apenas isso) Chris, conhece a família Hewett através de seu herdeiro, Tom, um playboy desocupado que passa os dias jogando tênis, bebendo e freqüentado festas. A Dolce Vita de Tom, óbvio, logo cativa Chris. Ambos têm muito em comum. Amam arte de modo sincero e a consomem de modo voraz. Logo ao perceber que Chris também se interessa por óperas, Tom o convida para um espetáculo onde estará seus pais e sua irmã, a bela Chloe (Emily Mortimer), que, no mesmo momento, se apaixona pelo rapaz. Criada de modo aristocrático e subserviente, Chloe é justamente a meta principal de Chris, uma vez que tem planos de se casar (“Quero ter três filhos. E os quero ainda jovem”) e, desde já, se esforça para inserir Chris no meio social e empregatício de seu pai, Alec Hewett (Brian Cox), que acolhe o rapaz como se fosse seu próprio filho.

Com Chloe, o ambicioso Chris encontra o luxo que sempre almejou 


Tudo caminha perfeitamente bem para Chris. Todos os planos deram certo. Ele não mais ensina tênis em troca de um salário mínimo, não mais mora em um minúsculo apartamento pagando uma fortuna de aluguel por semana e não mais precisa se preocupar com a ideia de ser um derrotado na carreira de tenista. No entanto, no circulo familiar do Hewett, Chris se apaixona não por Chloe, mas pela exuberante Nola (Scarlett Johansson), noiva de seu cunhado, Tom.

Durante diversos momentos, Woody brinca com metáforas relacionando o jogo de tênis com a ideia de sorte na vida, desejo e paixão No primeiro encontro de Chris e Nola, um diálogo inspirado de Allen referencia o jogo de tênis de mesa usando-o como uma metáfora para toda aquela energia sedutora e catártica que representará aquela relação. Em uma brilhante cena, Nola fala que estava indo bem até Chris aparecer, se referindo ao jogo de ping pong. E acrescenta que ele joga de modo bem agressivo. Rever esse diálogo já conhecendo a história do filme leva o espectador a um deleite, uma vez que se percebe como Allen mantém cada linha de sua narrativa sem pontas soltas.

Chris conhece Nola em uma estupenda cena de Woody Allen
É inevitável para Chris se apaixonar por Nola. O que é proibido acaba sendo bem mais prazeroso, como já era de se esperar. Mais centrada e consciente do que ele (como culpá-lo? O cara pensa com outra cabeça), Nola lhe dá os melhores conselhos, dizendo que ele vai se dar bem naquele ambiente aristocrático se não estragar tudo flertando com ela. Mesmo tendo conseguido tudo que almejava (dinheiro, luxo, um bom emprego, um futuro promissor), Chris não consegue se manter afastado de Nola. Sua relação com Chloe torna-se mecânica, enquanto que, com a outra, sua paixão parece ter uma válvula de escape. E Allen não perde a chance de inserir aqueles momentos cômicos quase imperceptíveis que já fazem parte de sua filmografia, como na hilária cena em que Chloe mede sua temperatura antes de transar com Chris. Nada melhor para destruir um momento sensual.

Utilizando uma trilha sonora condizente com a tragédia que o filme apresenta, Woody Allen traz óperas que casam de modo ideal ao ambiente londrino. Além disso, ele insere na história breves dicas para o que está por vir, como o fato de Chris ler Crime e Castigo, de Dostoievsk e, de modo tragicômico, investe nas falas que salientam o sombrio destino de Wilton, como quando este pratica tiro ao alvo com o sogro e o ouve dizer que ele o transformará em um exímio atirador.

Chris prestes a cometer o ato que definirá sua vida

Apresentando-se como uma brilhante metáfora para a sorte e como um homem consegue construí-la de modo calculista, não é de se estranhar que Woody Allen considere Match Point seu melhor longa. Com um equilíbrio ideal entre a tragicomédia e o drama, o diretor realizou uma obra notável que choca de modo, ao mesmo tempo, arrebatador e sutil. É a história de um homem que não mede esforços para conseguir o que quer, mesmo que seja assombrado por sua consciência até o final da vida.

O diálogo entre Chris e duas personagens durante uma madrugada insone em sua cozinha representa bem isso.  


sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Compramos um Zoológico

(We Bought a Zoo, EUA, 2011) Direção: Cameron Crowe. Com Matt Damon, Scarlett Johansson, Thomas Haden Church, Maggie Elizabeth Jones.





Assistir a um filme de Cameron Crowe costumava ser uma experiência sensorial. Desde sua estréia, com Digam o que Quiserem, estrelado por John Cusack, passando pela ode ao grunge Singles – Vida de Solteiro, até as obras máximas Jerry Maguire e Quase Famosos, os trabalhos do jornalista musical como diretor eram compostos por declarações sinceras à cultura pop somadas a excelentes histórias  embaladas por indefectíveis trilhas sonoras.  Até mesmo Elizabethtow, nos momentos road movie,  conseguia captar um pouco daquele positivismo de volta por cima perpetrado por Maguire.


Chega 2011 e estréia nos cinemas Compramos um Zoológico, tentativa de Crowe em adentrar no mundo dos filmes família. A história do jornalista desempregado e viúvo Benjamin Mee (Damon), que, após a perda da esposa, passa a cuidar dos dois filhos pequenos sozinho, possui até boas intenções, mas o resultado final fica bem aquém do esperado em um filme de Crowe. Sim, os elementos da cultura pop estão lá. O nome do adolescente filho de Mee é Dylan, numa referencia a (ops!) o cachorro da família; na trilha sonora temos Wilco, Temple of the Dog, e o próprio Dylan. A trilha original composta por Jónsi, vocalista o Sigur Rós, é de uma beleza única, conseguindo captar toda a beleza selvagem do lugar onde fica o Zoo. Mas todos esses itens parecem deslocados.


Mas o que há de errado com o filme? Inicialmente, o desconforto fica por conta do quão caricatos são os personagens. É curioso observar um homem, pai de dois filhos, que se recusa a ser demitido por achar que receber os benefícios será algo humilhante. Logo depois vemos esse mesmo homem enterrar suas economias em um Zoológico falido que, por sua vez, o levará a falência. Ao que parece, o único personagem que possui os pés no chão é o irmão contador de Mee, Duncan (Church) que dá os melhores conselhos econômicos para o caçula, mas é rechaçado pela cunhada mesmo depois de morta.


Os elementos que se tornaram a marca de Crowe, citados acima, como a utilização de inspiradas músicas na trilha sonora ainda se fazem presentes. No entanto, aparecem de forma forçada. Não há uma junção entre as imagens e enredo que vemos com as músicas que ele parece inserir no filme de forma a apenas demonstrar um bom gosto musical. Diferente de obras pop, como Elizabethtown e Vanilla Sky, esse Compramos um Zoológico carece justamente desse apelo pop que Crowe insiste em inserir na trilha, mas que não encontra reflexo na trama.


Sendo assim, resta contar os clichês que aparecem no decorrer dos longos 124 minutos de projeção, como o fato de que o Zoo ficar a 14 km do mercado mais próximo e Benjamin afirmar que não irá percorrer toda aquela distância para comprar manteiga apenas para, no segundo seguinte, já o vermos de volta com o saco de compras. Ou quando, após toda a reforma feita no Zoo, recebe-se a visita do fiscal que dará a licença do lugar e há um suspense barato sobre a possibilidade dele negá-la mesmo após não ter encontrado um único defeito no lugar. Ou, ainda, a cena em que os adolescentes se abraçam sob juras de amor em uma lastimável tentativa do diretor em cativar o público.


No mais, os pontos positivos ficam por conta da garotinha Maggie Elizabeth Jones, mais uma descoberta de Crowe, que parece ter um tino aguçado para revelar talentos infantis, e as impagáveis tiradas de Thomas Haden Church. "Você não precisa comprar um zoológico para agradar a Rosie. Ela só tem quatro anos. Um papel de parede com animais na tela do computador já é suficiente". Hilário!





Tudo pelo Poder

(The Ides of March, EUA, 2011) Direção: George Clooney. Com Ryan Gosling, George Clooney, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti, Evan Rachel Wood, Marisa Tomei.




Em determinado momento de Os Idos de Março, novo filme dirigido por George Clooney, (adaptado para o Brasil como Tudo pelo Poder, em mais uma óbvia e auto-explicativa forma de facilitar a vida do publico que tem preguiça de pensar), vemos o governador Mike Morris, interpretado por Clooney, dentro de um avião conversando com os assessores responsáveis pela sua campanha para presidente. Durante a cena, uma turbulência faz com que a aeronave balance bastante, nunca clara referência ao processo pelo qual aqueles homens estão passando.

Após já ter sido arrebatado por aquela história, o espectador se depara com essa metáfora sutil e bem executada. Mais um sinal da maturidade de Clooney na cadeira de diretor. Em seu novo trabalho, Clooney demonstra uma segurança de veterano. Com apenas quatro filmes no currículo, o diretor apresenta um trabalho sóbrio, coeso e, o mais importante, relevante para uma pertinente análise da atual cena política não somente estadunidense, mas no âmbito democrático mundial.

Stephen Meyers (Gosling) é um dos assessores em questão. Um jovem que se considera casado com a campanha do governador para chegar a Casa Branca, mas que ainda não possui a tenacidade necessária para sobreviver naquele mundo sujo no qual a ética é colocada em segundo plano quando galgar patamares maiores na hierarquia política é a intenção de seus adversários e, também, de seus pares.

Após cometer o erro ingênuo de se encontrar com o chefe de campanha (Giamatti) do candidato adversário, Meyers se vê dentro de um jogo de intrigas no qual ser manipulado de modo pernicioso é visto como um meio rotineiro e natural de sobreviver no dia-a-dia político. Soa até deslocado ver o chefe de campanha de Morris, Paul Zara (Hoffman) usar conceitos de lealdade como justificativa para sua atitude de demitir o colega após descobrir tal encontro, uma vez que a opção de se encontrar com o rival não teve nenhuma má intenção.

O filme trabalha esses falsos conceitos de lealdade de modo a ilustrar que naquele universos, essa palavra pode ter diversas conotações. A suposta amizade composta de favores entre Meyers e a jornalista Ida Horowicz (Tomei) comprova isso. São jogos de interesses que colocam a relação entre aqueles indivíduos fora de qualquer noção de caráter.



Fiel a Morris, Meyers não desconfia que a imagem de bom homem do governador possui segredos que vão afetar não somente a campanha, mas, também, sua própria vida e posição de assessor. É quando um fato inesperado muda a postura profissional de Meyers, levando-o a tomar as rédeas da situação ao agir de modo idêntico aos seus pares no que se refere a conseguir permanecer no controle sem se importar em quem vai se pisar para alcançar esse intento. 

Tudo pelo Poder é um filme feito para a atual conjuntura política estadunidense. Seu roteiro, escrito pelo próprio Clooney junto com Grant Hesloy, também responsável por Boa Noite Boa Sorte, consegue referenciar desde o governo Clinton (Você ensina estagiárias, não fode com elas, explica um dos personagens) a Obama (qualquer semelhança do cartaz estilizado com o rosto de Morris com o do atual presidente não é mera coincidência). O próprio personagem de Clooney busca ser um amalgama dos recentes governos americanos. Um candidato que afirma não ter religião e pede que os que não concordam com as opiniões dele não apóiem sua candidatura.



Contando com mais uma eficiente trilha sonora de Alexandre Desplat (O Escritor Fantasma), que consegue captar momentos de tensão de forma a não usar a música para manipular as reações do espectador e, sim, permitir que ela ilustre as cenas de modo natural, o longa de Clooney mantém uma atmosfera de paranóia sem cair no clichê de usá-la para causar falsos sustos. A fotografia de Phedon Papamichael consegue captar a aspereza debaixo das lâmpadas fluorescentes do escritório de campanha do Morris. Do mesmo modo, na bela cena em que Meyers se encontra com a estagiária Molly (Wood) na escadaria do prédio, as sombras são utilizadas de modo a tornar o assunto que o casal discute ainda mais delicado. E a falta de intimidade dos dois naquele momento, choca justamente por sabermos como relação deles foi abalada.

No final, a impressão dos bastidores dos jogos políticos que Tudo pelo Poder transmite é a de que não há nada que uma boa imagem não mude. Votos serão sempre conquistados por aqueles que conseguem manipular e trabalhar a própria imagem de modo positivo. Não importa quanto sangue alheio ou abortos estejam escondidos em suas trajetórias. Na foto emoldurada com aquele sorriso falso não existirá manchas.

Yes, THEY can!

sábado, 1 de outubro de 2011

Premonição V

(Final Destination V, EUA, 2011) Direção: Steve Quale. Com Nicholas D´Agosto, Emma Bell, Arlen Escarpeta, Miles Fisher, David Koechner.




A morte é uma criatura estúpida. Dizem por aí que errar é humano. Persistir é que é burrice. Certo, a morte não é humana, mas errar cinco vezes a torna mais do que estúpida. Ao escrever isso, eu só penso na morte como aquela velha, com capuz e foice na mão. E pensar nessa coisa patética como sendo a perseguidora dos jovens de Premonição V torna a sessão em 3D ainda mais divertidinha do que ela já é.

A premissa é a mesma dos outros quatro (!) filmes da franquia. Grupo de jovens consegue enganar a dita cuja a partir do momento em que um deles tem uma premonição que, se não for feito algo como picar a mula logo, vai se concretizar nos próximos minutos. Foi assim com o acidente de avião no primeiro, com a auto estrada no segundo, com a montanha russa no terceiro, com a corrida de carros no quarto e, agora, finalmente (e, supostamente, encerrando a franquia) com o colapso de uma ponte no quinto. A elaboração das mortes em cada um deles é palpável.

Talvez seja esse fator que atraia as pessoas ao cinema. O fascínio pela desgraça alheia. E o filme explora isso ao máximo, chegando ao ponto de deixar de ser uma obra de terror para se tornar uma comédia. Pelo menos, as gargalhadas na cena em que uma jovem é empalada no mastro de um veleiro deixam bem claro que o público não é mais suscetível a choques visuais.

Mas vamos à trama: Sam é um jovem americano estudante de gastronomia que tem uma proposta de estágio em restaurante na frança. Sua namorada, Molly, termina o namoro com ele no intuito de não atrapalhar as ambições do rapaz. Além deles dois, fecham o grupo de futuros mortos (ah, vai dizer que você não sabia?): Peter, sua namorada que treina ginástica olímpica, Candice; a revoltadinha e míope, Olivia,; o engraçado e patético Isaac, e, fechando, Dennis (David Koechner, o Packer, de The Office), chefe de todos eles no escritório que administra uma siderúrgica. 

Com a idéia de aproximar os funcionários, Todos saem em um passeio de verão no ônibus da empresa que segue, advinha, para uma ponte em reformas. Aí a bagaceira começa. A seqüência em seguida, como de praxe, causa risos em todos presentes. Seja pela já citada empalação da garota no mastro, ou pelo carro esmagando a jovem na água, ou, pior, pelo asfalto quente derretendo a cara de Packer, digo, Dennis (mas é impossível não pensar em Todd Packer ao vê-lo derreter), o efeito de surpresa mesclado ao de riso é impossível de ser contido.

Sam é o tal vidente. Após perceber o vai acontecer, ele retira todos os amigos do ônibus e a tal ponte desaba. Depois da cena inicial, na qual o filme diz a que veio, tudo que já sabemos acontece (afinal, foram quatro filmes seguindo o mesmo esquema). Velório, policial investigando o tal vidente, agente funerário do primeiro filme se apresentando com sua voz de Darth Vader, conflito entre os sobreviventes para decidir quem deve viver e quem deve morrer, e claro, morte, morte e morte. Poderia fazer um top five com as melhores, mas seria estragar a surpresa de quem não viu o filme ainda. Apenas digo que minha preferida é a da ginasta. Definitivamente. 

Contando com bons efeitos sonoros que valorizam ainda mais o impacto das mortes, a direção de Steven Quale, experiente diretor de segunda unidade que, agora, encara o desafio de liderar um set, demonstra-se segura, apesar das péssimas atuações e do roteiro já manjado.  Porém, a grande surpresa fica pro final, quando percebemos o quanto a morte é, realmente, relapsa no trabalho que ela é paga pra fazer. Mas, implacável ao corrigir os erros cometidos.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Coisa de Cinema



Após duas semanas sensacionais em agosto, quando participei da oficina de crítica com João Carlos Sampaio e fui selecionado para compor o júri jovem do Panorama Internacional Coisa de Cinema, agora vêm os frutos : )

A partir dessa semana, comecei a publicar meus textos, também, no site www.coisadecinema.com.br, um dos espaços mais fiéis ao verdadeiro espirito da crítica cinematográfica longe do egocentrismo e vaidade que se vê em muitos ambiente virtuais por ai. O primeiro, Transeunte, de Eryk Rocha, você lê clicando aqui, ó.

sábado, 10 de setembro de 2011

Apollo 18 - A Missão Proibida

Apollo 18 (EUA, 2011) - Direção: Gonzalo López-Gallego. Com Warren Christie, Lloyd Owen e Ryan Robbins.



Desde 1999, quando A Bruxa de Blair estreou nos cinemas faturando alto nas bilheterias, várias foram as produções que abordaram a ideia de filme ficcional baseado em imagens supostamente reais, como um documentário. Apesar do estilo não soar mais como novidade, algumas obras recentes se apresentam eficazes nessa premissa, como REC, Atividade Paranormal, Cloverfield. Não é o caso deste Apolo 18, lançado em agora em 2011

O filme utiliza como pano de fundo a missão fictícia da nave título, ocorrida em 1972, quando três cosmonautas partiram em direção à lua com a missão de recolher rochas e filmar todos os minutos que passaram na órbita do asteróide. Um deles, John (Robbins), permanece na nave que orbita o satélite natural, enquanto Nate (Owen) e Ben (Christie) descem à superfície lunar em uma cápsula para fazer reconhecimento do local e recolher as amostras.

Abusando do uso de efeitos para simular as condições primárias dos equipamentos de gravação de 39 anos atrás, com imagens sem muita definição, mas com um surpreendentemente (e impossível para as condições da época) espetacular sistema de captação de áudio, o filme apresenta seu perfil documental desde o texto de apresentação, que explica que as imagens foram postadas em um site para, depois, terem sido editadas no modo como o resultado final foi exibido, até os depoimentos dos militares sobre a missão que estão prestes a cumprir. Uma forma nada elegante de pedir pageviews para o tal site, diga-se. Não citarei o site justamente por achar patética a idéia do roteiro.

Deixando de lado as dúvidas sobre a tecnologia dos equipamentos para captação de áudio, a produção tem um trabalho notável ao utilizar o som ambiente de modo a causar no espectador uma tensão crescente, uma vez que já desconfiamos que todo aquele silêncio lunar não pode representar algo positivo. Um ponto positivo nessa abordagem do silêncio como modo de causar desconforto ao espectador, é que o suspense não utiliza o clichê de substituir a ausência de som para barulhos repentinos com a intenção gratuita de assustar. Em determinada cena, os astronautas, que filmam tudo o que vêem, até brincam com isso.

Com referências diretas a Alien, o filme do espanhol Gonzalo López-Gallego (em sua primeira experiência em Hollywood – teria sido melhor esperar mais um pouco pelo roteiro ideal?) apresenta-se eficaz como suspense, construindo um ambiente claustrofóbico que durante toda a projeção vai tornando o cenário cada vez mais sufocante. E falando em Alien, é impossível não lembrar da criatura do filme de Ridley Scott ao observar como os parasitas lunares utilizam o corpo humano para se nutrirem. Prova de que o roteiro de Brian Miller não prima pela originalidade, mesmo.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Contagem

(Minas Gerais, 2010, 18`) Direção: Gabriel Martins e Maurílio Martins. 



Contagem, curta dos diretores mineiros Gabriel Martins e Maurílio Martins, aborda em sua trama um assassinato que poderia, caso Martins tivesse optado por uma narrativa linear, cair em uma mesmice que já não é novidade no cinema contemporâneo. Porém, o diretor preferiu uma narrativa fragmentada, que, utilizando o som e a montagem não-linear como fio condutor, nos apresenta a história do crime a partir do ponto de vista de quatro personagens: Ana; seu pai, um senhor de saúde frágil; Marcos, namorado de Ana; e uma conhecida desta, Rose, cuja participação no curta é a única inserção mal utilizada dentre os personagens principais (voltarei a esse ponto nas linhas abaixo).

De forma inteligente, o filme faz valer a utilização do som diegético (aquele interno, próprio do ambiente onde ocorre a ação) para gerar pontos de identificação entre o espectador e a obra. Desde um comentário trivial, feito por Marcos de dentro de um carro, passando pelo barulho da turbina de um avião, até a transmissão televisiva de um jogo de futebol, a montagem usa o som para ligar a trama de modo a tornar compreensível a ordem dos acontecimentos.

Para tanto, os diretores optam por apresentar fatos que acontecem paralelamente, como a conversa entre Rose e seu amante dentro de uma loja; a caminhada triste de Ana em direção a sua casa para cuidar de seu pai doente e o desfecho final com o assassinato citado. Dentre essas passagens, apenas a utilização do diálogo entre Ana e Rose que soou inútil, uma vez que não houve uma continuidade no tempo real da história. Prefiro acreditar que ela serviu de modo a gerar uma reflexão sobre o possível tempo perdido por Ana em tal conversa, uma vez que ele se mostrou valiosíssimo para ela alguns minutos depois quando esta se encontrava no lugar errado na hora errada.

Nas cenas externas, o curta opta pela câmera na mão, que segue as costas dos personagens de modo inquieto, tornando mais impactantes os momentos cruciais que eles estão prestes a viver. Nas internas, a câmera é sempre fixa, principalmente na sequência em que Ana cuida de seu velho pai. A sensação de desconforto ao observar a forma difícil como o idoso cumpre tarefas que seriam banais para uma pessoa saudável, como se alimentar, por exemplo, é palpável pelo modo estático como a imagem permanece inerte durante a cena.

Momento de sonho: o casal antes da decisão preciptada
De modo sutil, o diretor insere flashbacks para nos apresentar ao relacionamento entre Ana e Marcos. Sabemos, através da tristeza e do rosto preocupado de Ana ao conversar com Rose, que o namoro não passa por um bom momento. Um namoro que, no passado, vemos que era embalado por carinhos e planos do casal em viver uma vida bucólica no interior (o que, na mente limitada de Marcos, é definido por ficar “ensinando o bacuri a matar passarinho, empinar pipa e jogar bola”). Porém, a situação familiar atual dela mantém esse sonho afastado. E é esse detalhe que amarra o final da trama e nos apresenta o motivo para o acontecimento que a encerra.

Por unir de maneira primordial a técnica ao modo de se contar uma história, Contagem é um filme para ser visto com atenção. Sem citar que o título é de uma sutileza ímpar, uma vez que tanto pode significar o nome do local onde se passa a trama como, justamente, uma contagem regressiva para o que vai acontecer.      

Oma

(2011, 22´) Direção: Michael Wahrmann.

A relação entre jovens e idosos nem sempre acontece de modo natural. A obrigatoriedade que os laços familiares impõem aos netos em visitar seus avós pode ser incômoda e tornar algo que poderia ser prazeroso, um exercício de paciência. Oma, curta de Michael Wahrmann (que já havia abordado o tema em seu trabalho anterior, Avós), aborda a relação do próprio diretor com as visitas que precisou fazer à sua avó (ou Oma, em alemão, língua mãe da idosa) no último ano da vida da senhora, que já tinha mais de 90 anos na ocasião.

O tom amador do filme, que foi gravado com uma câmera semi-profissional e em preto e branco, não atrapalha a proximidade que o espectador passa a ter com aquela senhora que está convencida que não vai viver por muito mais tempo. Diariamente, ao receber a visita do seu neto, ela pergunta a ele quando será sua viagem (o rapaz estava de mudança para o Brasil) e demonstra querer aproveitar aquela presença ao máximo.

Oma é um filme que aborda essa idéia de despedida familiar de maneira delicada. Já praticamente cega, a senhora afirma não conseguir enxergar quase nada. Para ela, tudo está cinza ou preto. De forma inteligente, Wahrmann coloca o espectador no mesmo mundo em que vive Oma. As imagens abusam de uma claridade extrema que, em questão de segundos, fica escura voltando a ficar clara. É justamente dessa forma que os olhos da senhora de quase cem anos enxergam a realidade.  

Confesso que o filme gerou uma identificação em mim por conta da experiência recente que tive com o falecimento de meu pai, em julho passado. Devido a um câncer e aos nocivos efeitos da quimioterapia em seu corpo, ele se tornou senil e caquético aos 57 anos, completamente dependente de seus familiares para as tarefas mais simples do dia a dia, como levantar da cama ou ir ao banheiro. Diariamente eu o visitava imaginando se aquela seria a última vez que eu o veria por conta da evolução fatal da doença. Ao ir embora, o observava triste em sua cama, sem nem um traço do homenzarrão que costumava me jogar pra cima na infância.

E ver a cabecinha de Oma ou seus dedos longos acenando do lado fora do vidro da porta do elevador acabou por ser a cena que melhor representou aquela experiência triste de despedida. Uma despedida que, no caso da senhora, aconteceu de modo natural, uma vez que quase um centenário de vida é algo que poucos podem usufruir. Meu pai, morto antes dos 60 anos, não foi um desses felizardos.

Mens Sana in Corpore Sano

(Pernambuco, 2011, 21´) Direção: Juliano Dornelles

  


Aqui está um exemplo de filme feito de modo eficaz em todos os seus cortes e planos. Contando uma história que possui elementos do cinema trash, com alusões a diretores como George Romero e Dario Argento, o filme do diretor pernambucano Juliano Dornelles (menção honrosa no Festival Internacional de Locarno, na Suiça), impressiona pela simplicidade do roteiro e pelo modo eficaz como ele foi executado. Com cenas construídas de modo a apresentar a trama ao espectador apenas com imagens e sons, sem a necessidades de diálogos expositivos ou voz off, Mens Sana in Corpore Sano, aborda a dedicação de um fisiculturista (vivido pelo estreante Flávio Danilo) ao seu esporte até o momento em que sua sanidade é questionada.

Com paletas carregadas em cores quentes (azul e vermelho, principalmente), o curta coloca o espectador em um universo de imagens sufocantes, no qual o ambiente claustrofóbico e escuro da academia onde o personagem central malha é sempre exposto como um lugar onde apenas ao atleta cabe ficar. A sensação de sufoco para quem assiste só é sanada em breves takes, onde vemos Danilo correr em uma estrada com a bandeira do Brasil hasteada ao fundo, uma rima visual elegante que voltará a ser apresentada na cena crucial do filme.

Sendo um filme bastante sensorial, o diretor Dornelles utiliza de modo pertinente a relação entre os aparelhos da academia e o corpo musculoso do atleta. Vemos constantemente as partes móveis dos aparelhos sendo exibidas em relação aos músculos do corpo de Danilo e o suor do atleta é filmado numa relação direta ao óleo que lubrifica os equipamentos. A dedicação do marombeiro impressiona. A direção de arte, numa eficiente forma de transmitir a informação ao espectador, ilustra a casa dele com troféus, medalhas e certificados expostos nas paredes. Uma prova do quanto ele leva a sério sua profissão.
Dedicação: o atleta e suas premiações
Percebe-se uma vontade do fisiculturista de se adaptar ao mundo, como, por exemplo, ao mostrá-lo pedalando em uma bicicleta ergométrica já tarde da noite. Em um silêncio onde o barulho do pedalar e da respiração do rapaz são os únicos sons audíveis, o diretor coloca em segundo plano jovens da mesma faixa etária do atleta conversando na rua abaixo da janela, uma distração que não faz parte da rotina do dedicado halterofilista.

E se no final do filme risos nervosos tomam conta da platéia quando a real proposta de Dornelles é apresentada, é justamente pelo fato do filme funcionar tão bem na sua idéia central. A de que a dedicação de um homem para o seu esporte precisa de um limite no qual sua mente não seja afetada de modo a permitir que sua aparência seja mais importante que seu intelecto.

E quando um cara só consegue prazer sexual com uma garota que faz flexões durante o momento de intimidade, é sinal de que algo não está tão são na mente daquele corpo insano.

Ela Morava na Frente ao Cinema

(Pernambuco, 2011, 30´) Direção: Leonardo Lacca. Com Renata Roberta, Renata de Fátima, Olimpio Costa, Jorge Queiroz, Bruna Rafaella Ferrer.


Curta do diretor pernambucano Leonardo Lacca, Ela Morava na Frente ao Cinema aborda a relação nostálgica que a personagem principal possui com o local onde morou anteriormente (a tal referência geográfica do título). No entanto, o que leva a crer que seria uma forma poética de se abordar o tema da mudança de espaços e a relação entre admiradores do cinema, torna-se uma trama confusa que aborda temas como homossexualidade reprimida, adaptação a novas experiências de vida, sejam elas sexuais ou apenas afetivas, e aceitação de si mesmo sem aprofundar nenhuma delas.

O filmes apresenta Renata, uma garota fora dos falsos padrões de beleza da sociedade, recebendo uma fita com misteriosas imagens que, supostamente, mostram o antigo lugar onde ela vivia, uma casa que ficava em frente a um antigo cinema de Recife. Hoje, no local, funciona uma assistência técnica de aparelhos eletrônicos. Sem conseguir assistir a fita, ela leva o vídeo cassete ao lugar para um reparo.


Renata busca lembranças perdidas em sua antiga casa 

A partir daí, o filme se torna confuso, sem um foco específico em determinada trama. Ele apenas passa a ilustrar a rotina da personagem, seja mostrando-a na citada assistência, visitando os cômodos do que um dia foi seu lar (mas sem uma profundidade emocional que capture o espectador na história), ou em seu trabalho como garçonete na cafeteria local. E o roteiro que, inicialmente, sugeriu um mistério por trás da tal fita, ignora totalmente esse fato até o final da projeção.

Apesar de apresentar falhas em sua trama, Ela Morava na Frente do Cinema traz tomadas interessantes, repletas de simbolismos que, somados ao sentimento de nostalgia que a protagonista sente, justificam seu tom onírico. Por se sentir ainda ligada ao seu antigo lar e viver inerte em um mundo onde todos, exceto ela, parecem evoluir (e seu emprego como garçonete em uma cafeteria representa bem essa inércia), suas visitas frequentes à assistência mostram sua vontade de viver, novamente, em um tempo onde sua vida parecia fazer mais sentido. E o modo como o curta capta a forma lúdica como a garota parece enxergar a vida é tocante. Em uma cena que faz uma referência à Rosa Púrpura do Cairo, a vemos, praticamente, adentrar na tela do cinema numa alusão à idealização que ela busca de sua vida.

Uma vida intensa que a belíssima cena do beijo proibido no banheiro da cafeteria representa de forma ideal em sua pressa, dor e vontade de tornar aquele momento contínuo.





domingo, 21 de agosto de 2011

Uma Primavera

(Brasil, 2011, 15´) Direção: Gabriela Amaral. Com Lucia Romano e Natalia Paes Parnes.


Para quem tem filhos, não há angústia maior do que aquela representada pela possibilidade de ser privado da presença deles. Passar pelo trauma de vê-los desaparecer sem que nada possa ser feito para evitar é uma das situações de maior terror que um pai ou uma mãe pode experimentar. O curta Uma Primavera, de Gabriela Almeida, livremente adaptado de uma história de William Blake, traz, justamente, essa sensação. E o modo como a diretora consegue transmitir para o espectador a tensão da perda de uma criança impressiona justamente pela simplicidade como os elementos da trama nos são apresentados.

Lara (Natalia Paes Parnes) é uma pré-adolescente que, no seu aniversário de 13 anos, é levada a um parque por sua mãe (Lucia Romano) para um piquenique. Como toda criança que começa a perceber que está crescendo, Lara é vaidosa. Na cena inicial, vemos a menina, inexperiente nessa área, cortar a perna no banheiro, enquanto se depila. Vemos em Lara todos os sinais de uma menina que está se tornando uma adolescente que passa a negar os hábitos de sua infância. Desde a preocupação em não querer usar bermuda ao invés de saia, mesmo sabendo do desconforto de se sentar no chão, até a negação de que o rosa é sua cor preferida, Lara personifica a adolescência de forma singular, com todos os seus anseios e incômodos.

A relação da menina com sua mãe reflete bastante o cuidado da mulher para com a criança. Há um apego de Lara com ela que, mesmo com toda a suposta independência que a pré-adolescência traz, a menina não consegue deixar de transparecer. Os traços de sua ainda infância, como chamar a mãe de “mamãe”, por exemplo, ou, ainda, na conversa ao telefone com o pai, chamá-lo de “papai”, enfim, os sinais estão todos ali. Há uma sutileza no modo como essa cena é mostrada. Até aquele momento, o espectador não sabe que o casamento dos pais de Lara acabou. Enquanto a menina conversa com o pai, vemos um claro desconforto por parte da mãe ao ouvi-la aceitar um convite para jantar na noite do aniversário. É quando se nota que a relação dos progenitores não é das melhores.

Sutileza é, na realidade, o instrumento principal no contar da história de Uma Primavera. Na citada cena do corte da depilação, vemos um band-aid amarelo ser aplicado por Lara ao ferimento. Em uma elipse ao mesmo tempo sutil e eficaz, a imagem já coloca a menina no carro, junto à sua mãe, enquanto esta manobra para sair da garagem em direção ao parque. Sendo uma ótima rima visual, a cor amarela do curativo vai representar, em outro momento, a relação de cuidado da mãe para com a menina, quando as duas encontram, durante o piquenique, um pássaro (também) amarelo morto no parque. E quando a menina desaparece após um cochilo da mãe, essa relação de cuidado ganha contornos psicológicos extremos, que a diretora utiliza de forma a manipular a sensação de desconforto do público. 

A palavra manipulação aqui não possui contornos pejorativos. Pelo contrário. Almeida utiliza o silêncio, a respiração, os sons da floresta, as árvores, tudo para causar na mãe e, por conseqüência, no público, uma sensação claustrofóbica de perda. Ao acordar e perceber o celular da criança próximo ao local e sem sinal dela, a mãe vai perdendo a calma. Vemos uma expressão racional no começo passar a ser substituída por sorrisos nervosos e, finalmente, gritos de desespero. Tudo acompanhado pelo canto de pássaros, barulhos dos ventos nas folhas e o som da casca do caule de uma das árvores sendo arrancada por ela em um gesto involuntário de inércia. Algo que, diga-se de passagem, amplia ainda mais a sensação de nervosismo e claustrofobia do personagem e, claro, do espectador.

A calma dando lugar ao desespero: a mãe de Lara começa a perder a esperança
A diretora insere elementos na trama que aumentam a sensação de desespero do público com toda aquela situação. Desde a pergunta feita pela mãe a um suspeito e sinistro vigia do parque até a busca pelo nome da menina na lista de locatários de bicicletas do local, todos os sinais levam a crer que algo pode ter acontecido à garota. O sentimento sufocante é palpável.

Em uma bela cena, por exemplo, vemos, a partir de uma imagem do alto, a mãe caminhar entre troncos imensos de árvores. A sensação de isolamento e claustrofobia torna aquela paisagem bucólica insuportável. É como se toda aquela grandiosidade do local esmagasse ainda mais a esperança de que a menina poderá ser encontrada. E a atuação de Lucia Romano merece destaque pelo modo como a atriz conseguiu transmitir o desespero da busca de modo tão impactante com a perda gradativa de sua calma.

Até o seu desfecho redentor, Uma Primavera cumpre o papel de nos levar a momentos de tensão que faz com que todos os elementos vistos em cena nos façam refletir de algum modo. No clímax do curta é que se percebe a intenção do nome do filme. Em poucos minutos, a sensação de perda da mãe atrelada ao local onde ela passou por aquele terror pôde ser alongada para algo que pareceu uma longa, triste e agonizante primavera.
       


Filme exibido na Mostra Competitiva do Panorama Internacional Coisa de Cinema, Salvador, 2011.