(Bel Ami, Ing., Fran., Ita., 2012) Direção: Declan Donnellan e Nick Ormerod. Com Robert Pattinson, Uma Thurman, Christina Ricci, Kristin Scott Thomas, Colm Meaney, Philip Glenister.
Por João Paulo Barreto
Assistir Bel Ami em tempos nos quais a vida pessoal de um casal como Robert
Pattinson e Kristen Stewart está tão em evidência é, de fato, um esforço para
fugir das piadas prontas por trás do subtítulo nacional que o filme estrelado pelo Edward de Crepúsculo possui. Deixando-as de lado, o que temos é uma história
interessante e uma atuação do rapaz que, apesar de claramente limitado, se
esforça bem para passar os dramas de um alpinista social na Paris do final do
século XIX. E consegue.
Adaptado da obra de Guy de
Maupassant, lançada em 1885 (e já levada ao cinema por Willi Forst, em 1939), Bel Ami conta a história de George Duroy (Pattinson), um ex-combatente que guerreava na
África servindo o exército francês. Após ser dispensado das forças armadas, passa a viver na boêmia parisiense em
busca de uma chance para conseguir trabalho ou dinheiro fácil. O que vier
primeiro. Quando reencontra Charles Forestier (Glenister), seu antigo
companheiro de forças armadas, recebe um convite para jantar na casa do bem
sucedido homem. A partir desse reencontro e inserção na vida burguesa, George é
chamado para escrever uma coluna sobre a guerra no jornal onde Forestier trabalha.
Com essa oportunidade, ele pretende usar seu único talento, a sedução, para
galgar espaço na cadeia social onde foi inserido.
George antes do começo de sua escalada social |
Dono de uma personalidade que consegue cativar
desde crianças (e é justamente uma a primeira pessoa a chamá-lo de Bel Ami – ou
belo amigo, um bom disfarce para sua falsidade) até as mulheres a sua volta, George tende a se encantar com o mundo
pelo qual foi absorvido. Se na primeira cena já é perceptível em seu olhar a
ambição ao receber o dinheiro doado pelo ex-companheiro de fronte, o modo como
ele o usa corrobora a primeira impressão que se tem de sua vida sem rédeas.
George é quase um personagem dos
irmãos Coen, só que sem o lado idiota: alguém que sai de um erro para outro sem nunca perceber como vai
se afundando a cada tentativa de se dar bem. Nesse contexto, sua atitude
irresponsável de se envolver justamente com a esposa de seu empregador, a bela
Madeleine Forestier (Uma Thurman, em um papel cujo status de mulher proibida
remete direto a Pulp Fiction), já se
apresenta como o primeiro passo para sua derrocada. No entanto, diferente das
outras mulheres com quem o jovem se envolve, Madeleine também enxerga à
frente e encara envolvimentos amorosos (incluindo casamentos) unicamente como
modos de manter um padrão de vida.
Nesse ambiente repleto de traições
e interesses escondidos, há ainda Clotilde (Ricci), outro caso amoroso de
George e Virginie Rousset (Thomas), essa verdadeiramente vitima da manipulação
do jovem. Esposa de Mousier Rousset (Colm Meaney), o dono do jornal onde, com a ajuda de Madeleine, George finge
escrever suas crônicas de guerra, Virginie se vê apaixonada pelo rapaz, que a
enxerga somente como um modo de manter seu trabalho.
Madeleine e George: relação baseada em interesses mútuos e no sexo como moeda |
Criando um ambiente de interesses
políticos cujos textos escritos por George visam influenciar na manutenção do
exército francês em solo africano, o roteiro de Rachel Bennette é eficiente ao
permitir que exista um equilíbrio entre a trama política do longa e seus
aspectos psicológicos na vida do rapaz. É interessante perceber como a mescla
das duas tramas, a do sedutor do título, e a que aborda toda a conspiração na
qual George se envolveu, é trazida de modo natural pela história. Não há uma
exploração gratuita da beleza do personagem em prol do sexo. Nesse sentido, o
filme acerta a tornar até mesmo suas aventuras sexuais como algo puramente
material e de interesses secundários. E uma sequência envolvendo Pattinson e
Thurman ilustra isso de forma ideal.
Assim, quando gradativamente o
desespero passa a fazer parte da expressão de George, o espectador nota como o
trabalho dos diretores Declan Donnellan e Nick Ormerod acerta ao enquadrá-lo em
constantes closes, onde o suor e os olhares desconfiados são destacados. É no
olhar de aflição do jovem que se nota a sua percepção tardia: a de que o mundo
material que ele sempre almejou pode não ser o mais indicado para sua
felicidade.
E o modo como o filme se encerra em mais um ciclo que se repete na vida de enganos de George (e em mais um close
da sua expressão nervosa que, sem sucesso, tenta esconder o desespero), deixa para o espectador a previsão de que, muito em
breve, aquela sequência de tentativas e erros chegará ao fim.
Sabe aonde tem um link para assistir o filme??
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