Por João Paulo Barreto
Rock of Ages parece mais um episódio alongado de Glee do que um musical que supostamente
reverencia a década de 1980 e toda sua atitude pós punk e pré grunge. Quando na
primeira cena do filme vê-se a capa de Permanent
Vacation, álbum que o Aerosmith lançou em 1987 e que possui faixas como Dude (Looks Like a Lady), Angel e a regravação de I´m Down, dos Beatles, tudo o que se
imagina é que será um longa repleto de canções cujo o impacto seja semelhante
às citadas. Mas basta a irritante Sherrie (Hough) abrir a boca para cantar que
toda a esperança cai por terra.
Apresentando a protagonista em
questão como uma menina do interior que, amante de rock e fã da banda de metal
farofa Arsenal e do seu vocalista Stacee Jaxx (Cruise, que parece ter sofrido
uma lesão cerebral), decide ir tentar a carreira de cantora em Hollywood,
trazendo consigo toda pretensa ingenuidade que seu personagem exige. Lá ela conhece
(e se apaixona, claro) o bartender Drew (Boneta) que trabalha na discoteca
gerenciada por Denis Dupree (Alec Baldwin, a melhor coisa do longa) e por seu
assistente Lonny (Brand). Do lado de fora, um grupo de beatas liderado pela primeira
dama Patricia Whitmore (Zeta-Jones) protesta contra o que chamam de pardieiro
do pecado e má influência para os jovens da cidade. Quando Stacy Jaxx resolve
fazer seu show de despedida antes de seguir em carreira solo, a boate de Dupree
é escolhida e será lá onde a maior parte da trama vai se passar.
Axl Rose encontra Sebastian Bach (Skid Row): Tom Cruise se divertindo |
Extenso demais (123 min) e,
aparentemente, pouco interessado em inserir diálogos e cenas de desenvolvimento
da história entre os números musicais (que são massivamente apresentados
durante o filme, quase sem intervalos), Rock
of Ages soa tão falso e pretensioso quanto a maioria dos ídolos da década
que ele resolveu homenagear. Sim, há bons momentos onde os roteiristas
preferiram tirar um pouco a atenção para o casal sem sal que encabeça o elenco.
As melhores cenas do filme ficam por conta de Alec Baldwin e Russel Brand, cuja
boa química em cena leva a bem mais do que simples amizade. Tom Cruise, que no
trailer levava a crer que seria uma mistura de Axl Rose e Sebastian Bach, do
Skid Row, acaba se apoiando na mesma muleta de atuação que o mantém falando de
forma lenta e bêbada durante toda a projeção, algo já visto em parte de Jerry Maguire.
Claro, há boas inserções musicais
como quando ouvimos um medley entre More
than Words e Heaven ou na melhor
cena do filme, quando Alec Baldwin e Russel Brand fazem o dueto de I Cant´t Fight this Feeling. No entanto,
a história central não cativa, fazendo com que o espectador torça para que o
foco do filme volte a ser qualquer coisa exceto o casal sem sal que o protagoniza.
E quando digo qualquer coisa, até mesmo o macaco com roupas de couro que Jaxx
carrega consigo ou a versão mix roadie/empresário de Paul Giamatti com sua
bolsa equipada com um celular jurássico, entretêm mais que os números musicais
de um longa que se propõe ser um... err... musical. Não por acaso, seu diretor,
Adam Shankman, já havia dirigido HairSpray
e, (ora, vejam só) alguns episódios de Glee.
Satine encontra Christian...ops, musical errado. Beeeem errado |
Fora isso, fica a graça de ver a
piada com as boys band que surgiram no final daquela década e reparar no
momento em que a Sherrie, que vive reclamando que não tem grana, vai até o
letreiro de Hollywood em um taxi e deixa o motorista esperando com o taxímetro ligado
enquanto ela conversa com seu amado. Ele, curiosamente, fez o mesmo trajeto que
ela só que de bicicleta. O rapaz sabe o quanto a fama é efêmera e não fica
esbanjando dinheiro por aí.
Observação: Qual o sentido de
inserir no número final, momento em que o filme supostamente exalta o rock and
roll, uma canção como Don´t Stop Believin’?
Ah, sim, captar os fãs de Glee.
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