sexta-feira, 17 de agosto de 2012

O Vingador do Futuro

(Total Recall, EUA, 2012) Direção: Len Wiseman. Com Colin Farrell, Kate Beckinsale, Jessica Biel, Bryan Cranston, Bill Nighy.


Impossível falar dessa nova versão de O Vingador do Futuro sem citar comparações com sua versão original, dirigida por Paul Verhoeven e estrelada por Arnold Schwarzenegger em 1990. Enquanto no filme anterior a trama envolvendo conspirações em Marte e rebeldes dissidentes esbanjava um apelo moderno que, de tão tosco em relação à maquiagem dos alienígenas e mutantes, se tornou cult no momento em que o filme foi lançado.

Então, entrar na sala para assistir a versão com Colin Farrell e dirigida por Len Wiseman (do divertido Duro de Matar 4.0) esperando algo que se aproxime das cenas em que Schwarzenegger extraía um rastreador cerebral por vias nasais ou aquela em que um mutante carrega uma espécie de bebê oráculo no abdome não é muito recomendável. Ok, lá estará a mutante de três seios (em uma cena totalmente deslocada) que referencia de forma gratuita o original, mas não faz mais nada além disso.

O tal momento em que Quaid "desejaria ter três mãos"
No entanto, em outros momentos, o longa de Wiseman até que faz um bom trabalho ao lembrar a sua fonte de inspiração de 22 anos atrás, como quando certo personagem derrama uma lágrima no mesmo momento de tensão em que o original usou uma gota de suor ou quando o herói tenta passar pela vigilância de um setor de embarque e, à frente dele, está uma mulher praticamente idêntica ao disfarce utilizado por Schwazza na versão anterior. No entanto, o que falta a essa nova aventura é a entrega ao cinema de estilo, aquele que conseguiu unir a ficção científica de ação, correria e tiroteios à aparência estilizada que Verhoeven soube criar tão bem. Não é preciosismo, friso. Talvez o foco de Wiseman fosse a ação veloz (algo já previsível após vê-lo transformar John McClane em superpolicial), mas chega um momento em que, após tanta correria, o espectador começa a se perguntar do que o herói está fugindo.

Em Total Recall versão 2012, o planeta Terra está dividido em apenas dois territórios: a Colônia, localizada na Austrália e lar dos operários que mantém o funcionamento da Federação da Bretanha, Inglaterra, local para onde eles precisam viajar diariamente através do núcleo da Terra (uma cena muito bem construída, apesar de absurda). Todo o resto está inabitável por conta das guerras. Douglas Quaid (Farrel) é o ex-rebelde desmemoriado que passa os dias se perguntando o que há de errado com sua rotina. O herói dessa versão trabalha não portando uma britadeira, mas como operador de uma linha de montagem de robôs. Casado com uma mulher linda mulher (Kate Beckinsale, esposa do diretor Wiseman), Quaid tem recorrentes sonhos onde é perseguido pela polícia e, na busca de um escapismo, procura a Rekall, empresa que supostamente lhe dará memórias de aventuras como agente secreto. Quando algo no procedimento científico dá errado e seu passado de rebelião vem à tona, a correria começa e só termina no último minuto do filme.

Hora de fazer valer o "até que a morte os separe"
Perseguido por todos, inclusive pela sua suposta esposa, o homem corre por ruelas estreitas e úmidas que misturam culturas orientais com ocidentais em uma eficiente referência à Blade Runner (o roteiro de Kurt Wimmer e Mark Bomback é inspirado em uma história de Philip K. Dick, que também escreveu o livro origem para o filme de Ridley Scott). Em certos momentos, confesso que fiquei esperando que a trilha de Harry Gregson-Williams fizesse alguma referencia a Vangelis. Durante boa parte da história, as dúvidas quanto à natureza real de toda aquela perseguição são levantadas, mas, claro, qualquer tentativa de fazer valer esse suspense se perdia, bastando lembrar-se da história original. Talvez até funcione com quem não viu a primeira versão, mas eu duvido.

Modificando o plot do filme de 1990 e o mantendo longe do contexto espacial, O Vingador do Futuro consegue se atualizar ao criar uma metáfora que ilustra bem a paranoia do homem moderno sempre descontente com o que tem e se perguntando o que poderia ser diferente em sua vida. E é justamente isso que o diferencia do longa de 1990: aqui, infelizmente, não há o estilo e exploração de corpos proposto por Verhoeven. No entanto, ao manter a abordagem fora do contexto alienígena, o filme de Wiseman acaba por criar uma história que, apesar de viver à sombra de seu predecessor, caminha (ou corre – e muito) com as próprias pernas. 


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